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Uma história de desapego e um apelo brincante
| Foto:
Daniel Castellano/Gazeta do Povo
Titá Brinquedos, de Curitiba: movimento maior gera expectativa de crescimento de 8%.

Criança que não brinca tem dificuldades de desenvolver uma estrutura emocional. Vou falar aqui de uma “brincante” (ou “brinquedista”) profissional, a professora Maria Cristina Pires. Apresento, primeiro, uma história escrita por ela e, depois, um apelo, também feito por ela. Por favor, não se intimidem com o tamanho do texto, porque vale a pena. Então, senta que lá vem história:

“Há alguns anos, meu filho caçula chegou da escola chocado com uma informação que havia recebido. Tinha, então, quatro anos.

“Mãe, sabia que criança órfã não tem pai nem mãe?”

No rosto, a angústia com o que lhe parecia a coisa mais inacreditável do mundo. A escola fazia campanha para arrecadar brinquedos usados para doação a um orfanato.

Hugo voltou disposto a escolher um para levar no dia seguinte. Remexe daqui, revira dali encontrou o que para ele era seu brinquedo mais valioso: um boneco de plástico, daqueles que não mexem braços nem pernas, e que ele chamava “Meu Neném”.

Meu Neném havia sido adquirido numa loja de brinquedos em que eu levara o filho mais velho para escolher seu presente de aniversário. Na minha exigente visão de mãe, brinquedo só se dava em três ocasiões: Natal, aniversário e Dia das Crianças. Como Hugo ficou chateado por não poder levar nada para si, propus-lhe, então, um exercício: escolher um brinquedo que custasse até 2 reais. Com a paciente ajuda da vendedora, ele conseguiu encontrar o boneco.

Desde esse dia, tornaram-se inseparáveis: no banho, nas brincadeiras, no playground, na hora de dormir. Meu caçula virou pai! Sem muito jeito, é verdade: Meu Neném, na maioria das vezes, era levado de um lado para o outro pendurado pelo pé.

Escolhido o brinquedo para doar, tratamos de prepará-lo: demos banho, fiz uma fraldinha nova de plástico e até perfume passamos.

Dia seguinte, rumo à escola. No portão de entrada, um baú para receber as doações. Hugo parou diante dele, segurou Meu Neném apertado ao peito. Parecia indeciso.

“ Filho, você tem certeza de que quer dar o Meu Neném? Você pode escolher outro brinquedo, lá em casa…”

Ele balançou a cabeça negando. Vi que sofria com a separação. Aquele não era seu brinquedo mais caro, mas era, de longe, o mais amado. Uns segundos de relutância, mais uma abraço, um suspiro e Meu Neném foi para o fundo do baú. Hugo entrou na escola correndo, sem olhar para trás. Se olhasse, veria a mãe com os olhos cheios d’água, orgulhosa de sua atitude generosa, do esforço que ele havia feito para se desapegar, de sua maravilhosa intenção de dar a quem precisa o melhor que podia ofertar.

E assim, meu filho de quatro anos me ensinou uma grande lição. Muitas vezes a situação se inverte, não é? Nós é que aprendemos com eles!

Desapegar-se é um exercício tão difícil quanto necessário em alguns momentos da nossa vida: de antigos conceitos; de objetos, roupas e coisas que já não utilizamos; de relacionamentos – profissionais ou pessoais – que já não nos satisfazem; de planos que já não têm mais nada a ver com a realidade atual; de idéias ultrapassadas; de sentimentos que já não encontram eco no outro…

São tantas as situações que exigem abrir mão do atual para poder se lançar ao novo…

Fico pensando que precisamos ensinar nossos filhos a se desapegarem também e que isso não é tarefa fácil. O quarto está cheio de bugiganguinhas sem utilidade? As prateleiras têm brinquedos há tempos não manuseados? O armário tem roupas que já não cabem mais?

Vamos incentivá-los a doar, dando exemplo, ensinando-os que solidariedade e generosidade podem e devem fazer parte da vida de todos desde muito cedo. Mas, principalmente, vamos ensiná-los que a busca por se sentir feliz passa pelo caminho, algumas vezes doloroso, de abrir mão do que se ama para dividir com quem necessita ou para poder tocar adiante em paz…”

Agora, depois dessa linda e comovente história, vai um apelo, feito também pela professora Maria Cristina

Queridos pais e amigos,

Reprodução / Site Fundação Iniciativa

Tive a oportunidade de visitar, agora em outubro a Fundação Iniciativa, no Uberaba. Para quem não conhece, a Fundação abriga 42 crianças, de 3 a 13 anos, que foram tomadas do poder dos pais devido a maus tratos. São quatro casas-lares, cada uma abriga em média de 11 crianças, que são cuidadas por uma “mãe-social”, remunerada pela Prefeitura de Curitiba.

Saí de lá emocionada, como vocês podem imaginar.

A parte dos profissionais fica por conta da Prefeitura. Um empresário suíço banca os gastos com as casas (manutençao, IPTU, reformas, etc…).

De resto, a Fundação vive de doações. No momento eles estão necessitando de material de higiene pessoal: sabonete, shampoo, escovas de dente, creme dental…

Mas existe uma outra demanda, e essa me toca o coração: um dos psicólogos foi meu aluno no curso de Educador Brinquedista, que aconteceu no Anjo da Guarda em julho deste ano, e está tentando montar um brinquedoteca em cada casa.

Quem me conhece sabe que sou apaixonada pelo tema brincar. Eu sempre falo que eu brinco por convicção, por filosofia. Brinco porque sei o quanto é importante o brincar para a estruturação emocional das crianças. Brinco porque acredito que brincando as crianças têm oportunidade de elaborarem seus conteúdos, de aprenderem a lidar com suas dificuldades e questões. Brinco porque brincar torna as crianças mais resilientes e preparadas para a vida, para serem adultas.

Então, estou lançando mão do mailling do Clube da Brincadeira para pedir a vocês ajuda. Como? Doando brinquedos usados (em bom estado) ,ou novos, se o coração e o bolso de vocês autorizarem.

Eu me disponho a coletar os brinquedos e dar à Fundação todo o suporte para que a brinquedoteca se torne uma realidade!!!!!

O fim do ano está chegando. O Natal vem aí. Eu, com esta cara de pau que Deus me deu, estou aqui para pedir a colaboração de vocês. Visitem o site da Fundação (http://www.finiciativa.org.br/). Conheçam o trabalho.

Li uma frase, do Raul Seixas (acreditam??) que diz assim: “Sonho que se sonha só é só um sonho. Sonho que se sonha junto é realidade”.

Se isto tocar o coração de vocês do modo como tocou o meu, tenho certeza que vamos fazer uma coisa incrível!!!!!

Por fim, peço desculpas pela invasão. Mas achei que o tema merecia eu colocar a minha credibilidade em cheque. Confio em vocês!!

Quem quiser colaborar, pode encaminhar a doação para o Clube da Brincadeira. Quem quiser mais informações, pode me ligar: 9944 3231.

Obrigada!

Abraços brincantes,

Maria Cristina Pires

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