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Thiago Braga

Thiago Braga

Entender a história da guerra é entender a história dos homens. Uma nova coluna todo domingo.

“America first”

“América primeiro” é o primeiro grande erro de Trump

(Foto: Gage Skidmore/Wikimedia Commons)

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O retorno de Donald Trump à Casa Branca é algo histórico, literalmente. A história política ao longo do século XX mostra que a democracia funciona como um pêndulo: ele pode ser puxado com muita força para um lado; mas quando for solto, será naturalmente deslocado para o outro extremo; esse vórtice é uma constante na história geopolítica global do último século e o nosso está se encaminhando para isso.

Quando falo em Donald Trump fazer parte desses extremos, nada tem a ver com essa baboseira de “extrema-direita” propagandeada pela mídia. Bater nesse espantalho se provou um grande fracasso porque Trump ganhou com folga em uma eleição democrática, mesmo com todos os “escândalos” envolvendo seu nome. 

Em grande medida, ela reflete os anseios de uma nação cansada do identitarismo massacrante das últimas décadas. As pautas de uma esmagadora minoria tem sido enfiadas violentamente - às vezes quase literalmente - goela abaixo do povo comum, que tem anseios muito mais mundanos: economia, imigração ilegal, violência, saúde e moradia são preocupações que recebem muito mais atenção das pessoas comuns do que “me chame de elu/delu”.

Entretanto, não é novidade que o que acontece nos EUA afeta o mundo e a eleição de Trump traz preocupações extremas para o nosso mundo: “o Ocidental democrático”.

Estamos vivendo uma nova “era dos extremos” no planeta. Nesse contexto, não é surpresa que os Estados Unidos se tornaram o maior poder dissuasivo global desde o início do século passado, principalmente após a Segunda Guerra Mundial. 

Apesar dos crimes de guerra cometidos que devem ser lembrados e condenados, os Estados Unidos foram peças-chaves para acabar não só com o extremismo nazista, como derrotar diretamente o avanço comunista soviético na Guerra Fria.

Hoje, os Estados Unidos é a única força global dissuasiva que pode impedir avanços de regimes totalitários como a Rússia e a China. Sem o fator atômico em jogo, esses países não têm chance em uma guerra aberta; a Rússia, um “cão que latia muito”, se provou um fiasco militar incapaz de tomar a Ucrânia em mais de 2 anos de guerra.

Mesmo assim, novas alianças no Oriente estão surgindo: Rússia, Coreia do Norte e China, em especial. Aí está a verdadeira preocupação geopolítica global.

Sem um Estados Unidos forte e dissuasivo, a Europa inteira, com a Coreia do Sul e Japão na Ásia, correm grande risco nessa avalanche totalitária

O slogan “America first” (América primeiro) deve ser uma preocupação a nível global. Trump é ambíguo em suas declarações sobre seu papel na geopolítica mundial: ‘acabar com a guerra na Ucrânia em 24h’. Perder a Ucrânia pode ser uma catástrofe global a curto ou médio prazo. 

Desde a Segunda Guerra, os EUA sempre foi o socorro de países democráticos em risco: a Europa Ocidental inteira, Coreia do Sul. A Ucrânia implora por esse socorro agora. O isolacionismo americano pode gerar um desequilíbrio de poder que se torne irreversível em pouco tempo. 

Por enquanto, esse equilíbrio ainda existe e tem nome: OTAN. Nada protege mais a Europa do expansionismo russo, apoiado pelas ditaduras, do que a Aliança. A carga maior nela sempre vai recair aos americanos inevitavelmente.

Não podemos nos esquecer como a falta de atitude do Reino Unido e França contra Hitler, apoiado secretamente por Stalin, quase custou a Europa: tudo isso em poucos meses. 

O equilíbrio da ordem global que existe hoje, pode deixar de existir muito rapidamente. Trump tem pautas preocupantes pela frente: dentro e fora do país. Certamente, Canadá e Groenlândia não são uma delas.

Que Trump perceba que se isolar, não é uma opção para os Estados Unidos. Pode ser um desastre histórico.

Conteúdo editado por: Aline Menezes

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