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Holanda vs Portugal: a “verdadeira” Primeira Guerra Mundial
| Foto: Portuguese American Journal

Os holandeses fizeram praticamente um Ctrl+C / Ctrl+V com os portugueses. E se você não está entendendo que história é essa, dê uma olhada na minha coluna anterior que vai ser muito importante a partir de agora, e você não vai querer perder o que está por vir nas próximas linhas. Pelo menos é o que eu espero.

Então, com seus super navios, os holandeses chegam aonde eles sempre quiseram chegar: nas Índias. Mas Portugal, com seu império afundando (muito literalmente), ainda estava lá e ainda era o senhor (moribundo) daquelas águas. Os holandeses conheciam os portugueses e certamente sabiam que aquele velho lobo do mar lutaria para manter o que havia levado quase 100 anos para conquistar. Portanto, as regras de abordagem dos Holandeses no Oceano Índico eram simples e diretas: atirar primeiro e não perguntar depois. Foi a melhor estratégia, porque eles sabiam que os portugueses fariam exatamente a mesma coisa do outro lado. Diplomacia seria a primeira palavra a ser mandada pelos ares. Era guerra total! Por isso a Guerra Luso-Holandesa iniciada em 1602 foi descrita pelo renomado historiador inglês Charles Boxer de “a verdadeira primeira guerra mundial”. E agora você vai entender o porquê.

O primeiro teatro da guerra acontece na Ásia, nas importantíssimas cidades indianas do Siri Lanka, Ceilão, Diu, Ormuz e a menina dos olhos lusitana: Goa. E os holandeses não querem só a riqueza das cidades indianas, não. Para destruir Portugal eles vão até a China, literalmente: a grande cidade portuária de Macau seria dos holandeses também. Qualquer pessoa que visse os beligerantes nesse conflito, veria uma colossal desproporção de força: a Holanda novinha em folha; Portugal, um caco.

Esse era um momento decisivo para a história de Portugal e para o império português também.

A propósito, um mercador inglês na Índia e contemporâneo desse conflito nos conta que os ‘portugueses estavam em uma condição lastimável, cercados de holandeses por todos os lados’. Os holandeses juravam que seria uma guerra rápida; mas rápida essa guerra não foi. Décadas se passaram e a disputa pela Índia parecia interminável. Mas ela terminou e com um resultado surpreendente: empate. Portugal consegue vencer nos teatros de Goa, Ormuz e Macau enquanto os Holandeses vencem em Malabar, Ceilão e ilhas da Indonésia.

Mas lembra que falamos de uma “verdadeira” Primeira Guerra Mundial? Pois bem, enquanto a bala comia solta na Ásia, o bicho pegava na África também: em Moçambique e na maior “jóia” africana para os europeus, Angola. Lá o conflito foi sangrento e implacável, e teve a participação importante de chefes locais também, como o Reino do Congo e talvez a mais famosa de todas, a Rainha Nzinga, sobre quem, aliás, também já escrevi aqui na Gazeta. Mas resumindo, a rainha Nzinga era uma mulher sedenta de poder que matou membros de sua própria família e escravizou tantas tribos quanto pôde ao seu redor para ter o monopólio do comércio de escravos com os europeus, e assim aumentar ainda mais seu poder dentro da África.

Inicialmente, a rainha era uma importante aliada dos portugueses mas depois de se sentir ameaçada por eles resolve se aliar aos holandeses oferecendo aos protestantes quantos escravos quisessem ter em troca de ajuda contra os portugueses. A região de Luanda era o epicentro desse conflito. Os holandeses por sua superioridade militar conseguem expulsar os portugueses de Angola, com facilidade. Um fator que pesava contra Portugal era que enquanto guerreavam contra os holandeses, também guerreavam em casa contra os espanhóis, que governavam o país há 60 anos e queriam sua independência. Esse era um momento decisivo para a história de Portugal e para o império português também.

E a luta não parava na África: em agosto de 1648, os portugueses liderados pelo governador da capitania do Rio de Janeiro, Salvador de Sá, partem do Rio de Janeiro em direção a Angola para recuperar o território. Mesmo superiores em número e apoiados por Nzinga, os holandeses não conseguem resistir ao assalto português e são expulsos de Angola, definitivamente. Os portugueses ganham em Angola e em Moçambique, mas perdem Elmina e São Tomé (este último, temporariamente). Assim como na Ásia, temos um saldo equilibrado no teatro africano também.

Entretanto, um plano ainda maior e mais ambicioso estava sendo preparado pelos Holandeses. Liderados pelo grande Mauricio de Nassau os Holandeses partem com força total para seu ataque final, no último e decisivo palco dessa guerra global: esse terrenão rico e precioso que nós chamamos de Brasil.

Conteúdo editado por:Jônatas Dias Lima
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