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O fracasso de Cuba não é culpa do embargo americano
| Foto: istock

Nessa quarta e última parte da nossa série de colunas sobre as tensões diplomáticas entre Cuba e EUA, vamos chegar à seguinte conclusão clara: o principal culpado pela catástrofe econômica de Cuba é o próprio governo socialista de Cuba, e não o embargo americano.

Quando o embargo é aplicado em 1962 pelo governo Kennedy "Fidelito" e "Chezinho" riram da cara dos ianques: você sabe e eles sabiam que na Guerra Fria, se os Estados Unidos saem... Quem entra? A União Soviética chegou pra sustentar Cuba! E quando eu falo sustentar, era sustentar mesmo! Durante 30 anos Cuba foi sustentada pela União Soviética. É isso que mostram dois artigos escritos pelo professor Carmelo Mesa Lago: “Problemas socioeconômicos em cuba durante a crise”, que mostra como as políticas insustentáveis de Cuba agravaram a crise dos anos 90 e 2000; e outro novinho em folha publicado agora em 2023 pela Cambridge chamado “Avaliação da performance socioeconômica de 2 modelos de economia socialista: Cuba (economia centralizada) e China e Vietnã (socialismo de Mercado)”, onde o professor faz um estudo comparativo bem interessante do progresso desses dois países comparados com Cuba. Enquanto a China e o Vietnã ajustaram suas políticas, permitindo que a propriedade privada movesse a economia, Cuba continua com seu planejamento estatal centralizado.

O professor segue mostrando que, mesmo que o embargo americano durasse mais em Cuba do no Vietnã e na China, esses dois países foram devastados por décadas de guerra externa e interna. Entre os vários dados interessantes que o professor mostra, está o de que, antes da Revolução, 52% do PIB cubano era dependente dos EUA, como a gente pode ver nesse seminário da “Associação para o Estudo da Economia Cubana”. O professor segue mostrando que, depois da Revolução (1960-1990), 72% do PIB cubano se tornou dependente da USSR, 20% a mais do que com os EUA no período pré-revolucionário. E agora, indo para o Estudo comparativo do professor Mesa-Lago, vemos que durante os 30 anos de parceria, a USSR forneceu a Cuba $ 65 bilhões de dólares. O professor Mesa-Lago explica a dimensão colossal dessa ajuda: a USSR forneceu só a Cuba o equivalente ao triplo da ajuda total fornecida pelos Estados Unidos a toda a América Latina pelo plano “Aliança para o progresso da América Latina”, pra se manterem próximos aos Estados Unidos e longe da USSR. Também, com a União Soviética, Cuba conseguiu acordos vantajosos, exportando produtos acima do preço de mercado e recebendo abaixo do preço de mercado: o açúcar era vendido a sete vezes acima do preço do mercado, níquel a 50% acima; 99% do petróleo cubano era fornecido pela USSR abaixo do preço do mercado.

Enquanto a China e o Vietnã ajustaram suas políticas, permitindo que a propriedade privada movesse a economia, Cuba continua com seu planejamento estatal centralizado

Ou seja, de repente Cuba tinha muito dinheiro pra gastar e não se preocupar em investir na sustentabilidade econômica do país. Com a queda da União soviética, houve o período de escassez chamado “Período Especial em tempos de paz”, e foi queda livre a partir daí. Cuba foi incapaz de conseguir se sustentar depois disso. Mas vamos continuar colocando mais alguns números e estatísticas em perspectiva aqui, para entendermos o quadro geral econômico e social de Cuba: o professor Mesa-Lago, no seu artigo comparativo “Avaliação da performance socioeconômica de Cuba”, mostra na p. 5 que, embora o embargo tenha causado “efeitos adversos” em Cuba, o embargo se tornou muito menos prejudicial do que anteriormente. Trump reforçou o embargo em 2017-2020, mas Cuba negociava com mais de 100 países (incluindo os Estados Unidos, que ficou em oitavo lugar nas importações para Cuba, com 16% das importações de alimentos em 2019), bem como investimentos de várias nações. O professor segue mostrando que em 2021 a Reuters publicou um estudo da ONU dizendo que o embargo americano custou a Cuba cerca de 130 bilhões de dólares, isso desde o início do embargo total em 1962.

O professor mostra ainda que foram 65 bilhões de dólares de ajuda não reembolsáveis de 1960-1990. E sabe quanto valeria 65 bilhões de doletas em 1990 ajustados pela inflação hoje? 160 bilhões de dólares! Ou seja, Cuba recebeu em apenas 30 anos, 30 bilhões a mais do que o valor total de 60 anos de embargo americano. Tanto que Yuri Pavlov, que era um embaixador soviético na América Latina, disse que “o relacionamento com Cuba foi o maior gasto individual da URSS num regime político amigável.” O professor Carmelo segue mostrando que, depois que a União Soviética caiu, vieram os subsídios da Venezuela, que chegaram a 100 bilhões de dólares entre 2005 e 2017. Além disso, a maior parte da dívida externa de Cuba foi perdoada num total de 42 bilhões: nesse montante entram e China, Rússia, os 22 países do Clube de Paris, de que o Brasil faz parte; Japão perdoou, Canadá também.

Portanto, Cuba sempre teve um influxo de dinheiro absurdo, mas como todo o governo socialista irresponsável, Cuba era ótimo em gastar irresponsavelmente! Todas as melhorias em saúde e educação foram excessivas, acima do que Cuba era capaz de manter, principalmente por seus próprios meios. É bonitinho ver um país esbanjando em saúde e educação, só fica feio quando o país quebra porque esbanjou em saúde e educação, e se lixou para a economia. É isso que o professor Mesa-Lago mostra no artigo “Problemas socioeconômicos de Cuba durante a Crise”: os gastos de Cuba nessas áreas foram excessivos! Aliás, o próprio Raúl, irmão de Fidel, admite abertamente que o governo foi improdutivo e gastou absurdamente com benefícios sociais ao longo das décadas, como podemos ver claramente no Sexto Congresso do Partido Comunista de Cuba: mas como era de se esperar eles também jogam a culpa nos Estados Unidos, claro.

Cuba, como todo país que algum momento tentou o socialismo, vive uma crise severa onde a única salvação, segundo eles próprios admitem, é a suspensão do embargo. Esperemos que esse embargo seja totalmente suspenso o quanto antes, qualquer ajuda para o sofrido povo cubano será bem-vindo. Mas a suspensão desse embargo e a subsequente melhoria de Cuba mostrarão mais uma vez ao mundo que o último bastião do socialismo "raiz", não pode sobreviver sem o capitalismo dos outros.

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