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Thiago Braga

Thiago Braga

Entender a história da guerra é entender a história dos homens. Uma nova coluna todo domingo.

Guerra e diplomacia

O respeito por Trump acabou

Trump se iludiu em achar que Putin cederia; a Rússia segue agressiva, a Ucrânia resiste e o conflito mostra que bajulação não garante paz. (Foto: Yuri Gripas/Toms Kalnins/Vyacheslav Prokofyev/EFE/EPA/POOL/SPUTNIK )

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Um tapete vermelho, palmas e pompas para receber Putin. Foi uma reunião histórica: fazia anos que Putin não pisava nos EUA. E Trump, como já dizia desde antes de ser eleito, acreditava que o fim da guerra estava próximo com a sua poderosa intermediação.

Porém, poucos dias depois da reunião, a Ucrânia sofre um dos maiores ataques de drones da história do conflito. Crianças estão entre os mortos! Se Trump mostrou que respeita Putin, Putin demonstrou que o contrário não é verdadeiro.

Há alguns meses, escrevi uma coluna dizendo como a política de “América Primeiro” de Trump seria um erro. O texto foi criticado por muitos defensores de Trump aqui na Gazeta! Obviamente, como presidente, ele deve priorizar a sua nação. Mas o contexto em que ele se colocava envolvia a retirada das questões geopolíticas europeias.

Como sabemos, historicamente, a Europa sempre foi o “centro do mundo”, de onde surge a hegemonia; e essa hegemonia sempre se estabelece pela guerra. Desde a Grécia Antiga, a dissuasão e a projeção de poder andavam juntas para a manutenção da ordem mundial vigente; a falta delas resultou na queda de impérios e da ordem global: foi assim que Grécia e Roma antigas caíram. Uma superpotência não pode deixar de projetar dissuasão e poder, principalmente quando outra potência militar está projetando força debaixo do seu nariz.

Trump foi ingênuo, intencionalmente ou não, ao achar que a Rússia, inimiga mortal durante boa parte do século XX, cederia diante da sua presença como presidente da maior força militar do planeta. Trump tem razão de jogar a culpa em Biden por ter “permitido” o início do conflito.

Mas falar é fácil! E ele mesmo teve que admitir, em sua última reunião, que achou que “esse conflito seria fácil de resolver, mas se provou o mais difícil de todos.” Ele se levou a sério demais e teve que reconhecer que estava errado.

Putin não vai parar. Apesar da calorosa reunião com Trump, continua exigindo a Crimeia e toda a região do Dombass, contradizendo as próprias falas positivas de Trump pós-reunião, segundo fontes russas relatadas pela Reuters. Além disso, claro, a Ucrânia não poderá entrar na OTAN.

Trump e o Ocidente estão sendo desafiados vez após vez por uma nação militar e economicamente fraca em proporção, que precisou receber ajuda até mesmo de militares norte-coreanos em campo, e que precisa constantemente apelar para a vergonhosa ameaça nuclear. Porém, especialistas são unânimes em dizer que é muito mais difícil uma guerra nuclear acontecer, até mesmo para um país como a Rússia.

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Agora, mais uma vez, como numa gangorra, Trump sobe o tom: “não dá para ganhar uma guerra sem atacar o agressor”. Promete novamente ajudar com mais armamentos. Mas, infelizmente, suas palavras já não têm peso algum para Putin

Ele sabe que qualquer bajulação ou tapete vermelho para Trump não reverterá suas mazelas. Recuar do Dombass seria uma admissão de derrota da Rússia, depois de perder mais soldados que a própria Ucrânia nessa guerra. Seria o fim vergonhoso de Putin.

A “poderosa” mãe Rússia sabe que, desde o início, seria tudo ou nada! A Rússia está no limite militar e econômico, mas continua projetando uma fachada forte — em um edifício que mostra rachaduras incômodas.

A Ucrânia mostrou que é historicamente resiliente: resistiu às cataclísmicas coletivizações soviéticas, que mataram em três anos mais do que esta guerra inteira. Com a ajuda americana e a presença permanente dos EUA como potência global, Putin sabe que a Ucrânia resistirá novamente.

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