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Nessa imagem medieval, o Menino Jesus segura um globo. Não é que ele gostasse de jogar bocha: é que os medievais sabiam que a Terra era esférica. (Foto: Walters Art Museum/Wikimedia Commons)
Nessa imagem medieval, o Menino Jesus segura um globo. Não é que ele gostasse de jogar bocha: é que os medievais sabiam que a Terra era esférica. (Foto: Walters Art Museum/Wikimedia Commons)| Foto:

Um amigo me chama a atenção para uma imagem compartilhada anteontem pela fan page do Facebook I fucking love science. Trata-se de uma obra do cartunista Adam Zyglis, do jornal The Buffalo News, originalmente publicada em 12 de julho. Clique aqui para ver (questão de ética: a não ser nos casos de divulgação expressamente autorizada, não gostamos quando simplesmente copiam e colam todo o nosso conteúdo em outro site, deixando de gerar tráfego para quem realmente produz a informação. Fica o aviso para um ou outro que já vi publicando na íntegra textos do Tubo, por mais nobres que sejam as suas intenções).

Qual é o problema? São os quadrinhos da esquerda. No primeiro quadrinho, ambientado no século 15, um sujeito coloca uma régua colada ao chão e diz “se a Terra é redonda, então explique isso, insinuando que a régua comprovava a não esfericidade do planeta. Assim, Zyglis dá a entender que haveria uma crença generalizada de que a Terra era plana (e essa crença, acrescento, existiria por influência da Igreja Católica). Ora, nada mais distante da realidade. Trata-se de mais uma das lendas sobre a relação entre ciência e fé espalhadas pela dupla John Draper e Andrew White, e que já foi desmentida por inúmeros historiadores da ciência e grandes cientistas, como Stephen Jay Gould. E, caso alguém lembre do ceticismo que rondava a viagem de Cristóvão Colombo, precisamos ressaltar que a controvérsia, em seu tempo, não se relacionava ao formato da Terra, mas ao seu tamanho; Colombo achava que a circunferência do planeta era bem menor do que realmente é.

(Só para deixar claro, houve, sim, alguns pensadores cristãos que defendiam uma Terra plana, como Lactâncio, ainda no fim da Antiguidade, e Cosme Indicopleustes; mas sua obra acabou praticamente ignorada por seus contemporâneos e sucessores; em outras palavras, ninguém lhes deu bola.)

Imagem medieval da Virgem Maria com o Menino Jesus segurando um globo.

Nessa imagem medieval, o Menino Jesus segura um globo. Não é que ele gostasse de jogar bocha: é que os medievais sabiam que a Terra era esférica. (Foto: Walters Art Museum/Wikimedia Commons)

E daqui passamos ao outro quadrinho da esquerda, ambientado no século 19. Um sujeito de terno, gravata e chapéu (pelo menos não está vestido como clérigo) segura uma Bíblia e diz “se a evolução é real, então explique isso“. É a velha tentativa de opor religião e evolução, tropeçando tanto na história quanto na dimensão. Afinal, o fundamentalismo antievolucionista é um fenômeno do século 20, não do século 19. Além disso, por mais estridentes que sejam os que recusam a evolução com motivos religiosos e fazem disso uma bandeira, eles são uma minoria, se me permitem a redundância, bem minoritária. Podem estar até ganhando terreno, ter dinheiro e presença midiática, mas ainda são muito menos numerosos que os cristãos que conciliam perfeitamente a evolução com a crença em um Deus criador do universo, ou aqueles para quem o tema não importa absolutamente nada.

Mas, como sabemos do poder das imagens, temos que lamentar a perpetuação de preconceitos e lendas sobre o conflito entre ciência e fé por meio de charges de jornal.

Mais ciência e fé em Curitiba

Sei que está meio em cima da hora, mas o Guilherme de Carvalho (que está por trás da divulgação no Brasil do material do Teste da Fé e está ajudando a organizar o curso Faraday em São Paulo, do qual falei alguns posts atrás) dará uma palestra em Curitiba na segunda-feira, dia 1.º. Vejam aí as informações (e, se você é de Joinville ou São Leopoldo, confira também), com horário, endereço e telefone:

(Imagem: Divulgação)

(Imagem: Divulgação)

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