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Vocês se lembram da exposição “Quem é o Homem do Sudário?”, que na década passada percorreu dezenas de cidades brasileiras, levando a muita gente o que havia de mais interessante a respeito do Santo Sudário (ou Sudário de Turim), como as suas características e as informações sobre as pesquisas científicas feitas no pano? A mostra está sendo repaginada, e os preparativos para que ela possa voltar ao Brasil já estão em andamento.
Pude ver a “versão 2.0” da exposição no Ateneu Pontifício Regina Apostolorum, dos Legionários de Cristo, em Roma, onde estive semanas atrás, participando do XII Congresso Latino-Americano de Ciência e Religião – aliás, o papa Leão XIV enviou uma bela mensagem aos participantes do evento. O padre Rafael Pascual, coordenador do curso sobre o Sudário que a instituição oferece, explicou que as informações das dezenas de painéis com aspectos históricos, científicos e teológicos do tecido foram atualizadas – com destaque para a inclusão do artigo publicado em 2019 com os dados brutos do exame de carbono-14 feito em 1988, dados esses que tiram ainda mais credibilidade da controversa datação feita sob supervisão do Museu Britânico.
Painéis com informações sobre o Sudário foram atualizados, e novos objetos foram incluídos na mostra
A exposição mantém praticamente todos os objetos que os brasileiros já tinham visto, como um fac-símile em tamanho real do Sudário; reconstruções de alguns instrumentos de tortura romanos, como a coroa de espinhos (que estava mais para um capacete); e a escultura do Cristo morto, em uma posição compatível com a imagem do Sudário. Uma novidade é o chamado “crucifixo sindônico”: um crucifixo criado pelo monsenhor Giulio Ricci, um especialista no Sudário, que reflete os possíveis movimentos do crucificado de acordo com as manchas do pano, e que indicariam o fluxo de sangue durante a morte de Jesus. Este crucifixo foi uma adição tardia à primeira versão da exposição, e ainda não fazia parte da mostra quando ela passou pelo Brasil; portanto, será inédito no país.
Um terceiro acréscimo é um painel que mostra a sobreposição do rosto do Santo Sudário com uma escultura de Gian Lorenzo Bernini redescoberta anos atrás, intitulada Salvator Mundi – os dois rostos se encaixam muito bem. Segundo o padre Rafael Pascual, foi a fotógrafa Daniela di Sarra quem teve a intuição de fazer essa comparação, e desde então já publicou dois livros com os resultados de suas pesquisas. Desde o fim do século 16, o Sudário já estava em Turim, onde Bernini fez uma breve parada a caminho da França, onde passou alguns meses no ano de 1665; possivelmente, na qualidade de hóspede ilustre dos duques de Savoia, teve a chance de ver o Sudário.

Parte financeira é empecilho, mas organizadores estão empenhados em trazer mostra para o Brasil
O trabalho de trazer para o Brasil a exposição “Quem é o Homem do Sudário?” está sendo capitaneado pela pesquisadora Renata Beman. Ela diz que já existem dioceses brasileiras interessadas em receber a mostra, como Maceió e Rio de Janeiro, mas que há alguns entraves para que fique tudo pronto. “Reproduzir a exposição como está em Roma envolve custos, em particular com transporte, desenvolvimento de artefatos, exibições, tradução e confecção dos painéis, material de impressão. Temos pesquisadores muito qualificados dispostos a ajudar, mas também devemos considerar a realidade do Brasil e as dificuldades com o financiamento para tais iniciativas”, afirma Renata, que já fez cursos sobre o Sudário e tem doutorado e pós-doutorado em Psicologia, no Reino Unido e nos Estados Unidos.
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Uma possibilidade, afirma Renata, seria adaptar a exposição. Como uma de suas linhas de pesquisa é a interface entre a inclusão e a experiência da fé e da arte, ela criou um espaço multissensorial que inclui uma cópia de O sepultamento de Cristo, de Caravaggio, pintada por sua filha. Este espaço foi incluído na mostra sobre o Santo Sudário que foi montada na basílica romana de San Giovanni dei Fiorentini, e está garantido na futura versão brasileira da exposição. “Mas, com o devido apoio, pretendemos recriar uma exposição que seja a mais idêntica possível à que está em Roma”, diz Renata. “Temos esperanças de que, até a Páscoa de 2026, a iniciativa esteja em algum lugar do Brasil”, acrescenta – quem quiser informações sobre como patrocinar a versão brasileira da mostra pode entrar em contato com a pesquisadora.
Curso sobre o Sudário ainda está aceitando inscrições
O padre Rafael Pascual, como falei, é coordenador de um curso oferecido pelo Regina Apostolorum em parceria com o grupo de pesquisa Othonia e com o Centro Diocesano de Sindonologia Giulio Ricci, de Roma, que aborda o Santo Sudário em todos os seus aspectos, apresentando o que há de mais novo em termos de estudos sobre o pano. O curso pode ser feito remotamente, dura um ano e o diploma seria mais ou menos equivalente ao de uma pós-graduação lato sensu, do tipo especialização. O custo é de 550 euros, e as inscrições estão abertas até 31 de outubro – mas o primeiro semestre de aulas começa já no próximo dia 8. O programa completo, com todas as informações sobre o curso, as disciplinas ofertadas, as exigências acadêmicas e as datas e horários das aulas, está no site do Regina Apostolorum.








