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Já faz tempo me falavam do debate ocorrido em 2007 entre Richard Dawkins e John Lennox, ambos da Universidade de Oxford. Muita gente dizia que o Lennox tinha dado um baile, que só faltou a torcida gritar olé, no YouTube um usuário descreve a discussão como “Lennox dando uma escovada no Dawkins”. Procurei versões legendadas do debate para trazer ao Tubo, e achei essa que está aí embaixo, com tradução do Dimas Luz. E, assistindo ao vídeo, percebi por que ficou a impressão de que o matemático tinha levado a melhor sobre o biólogo: o formato do debate foi extremamente desfavorável ao Dawkins, já que Lennox sempre tinha a última palavra sobre os assuntos. Dar a Dawkins a chance de abrir e encerrar o evento foi apenas uma compensação inútil para o fato de que, onde mais interessava (o “durante”), a palavra final seria sempre de Lennox.

(são 11 vídeos no total. Assim que um termina, o outro já carrega. Reserve pouco mais de 1h30 para ver tudo)

Os argumentos do Lennox eram muito bons, e justamente por isso eu esperava que Dawkins tivesse a chance de tentar respondê-los. Os dois cientistas perceberam o absurdo da situação, tanto que ambos tentaram, digamos, burlar as rergras, mas aí aparecia aquele juiz chato para cortar o barato deles e nosso. Moderador de debate não está lá para interromper discussões interessantes, e sim para dar pontapés iniciais e impedir que se baixe o nível.

As discussões sobre religião e ciência estão mais nos primeiros 45 minutos de debate; depois eles passam a falar mais sobre a religião em si. De qualquer modo, destaco algumas coisas. Percebi que tanto Dawkins quanto Lennox rejeitam a tese dos Magistérios Não-Interferentes de Stephen Jay Gould. Obviamente eles o fazem por razões diferentes, e a de Lennox é parecida com a que citei aqui quando resenhei Pilares do tempo. Para mim, a tese dos MNI só serve como um paliativo no caso de pessoas que defendam o conflito entre ciência e fé: entre aderir aos MNI e advogar o conflito aberto, menos mal que se fique com os MNI. Reparem que também se discute a questão em relação ao caráter de “fé” do ateísmo, tema esse que já apareceu no blog e nos comentários.

Além disso, Dawkins faz uma ligação automática entre Darwin e ateísmo que não existe. Pode muito bem ser verdade que a teoria da evolução tenha sido, para Dawkins, uma espécie de empurrão final para o ateísmo, mas essa associação tanto não é automática que foi rejeitada pelo próprio Darwin, como nos mostra o Reinaldo Lopes em um texto publicado em janeiro deste ano. Esse tipo de associação se parece muito mais com extrapolações filosóficas de uma teoria biológica, denunciadas tanto por Mary Midgley quanto por Bento XVI.

Minha conclusão é que, apesar do formato desigual, a discussão tem muitos argumentos interessantes que merecem ser levados em consideração, e por isso vale a pena ser assistida.

Aproveito para perguntar aos leitores, vale a pena continuar buscando vídeos para colocar no blog? Ou a maioria de vocês já conhecia esses debates ou programas que venho publicando? Pretendo em breve reunir todos os vídeos numa seção do blog, como já temos sobre livros, cinema, entrevistas, Ano da Astronomia e a “big question” da Templeton.

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