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Ni Hao,

Assim que pus os pés em Shenzhen, liguei o meu senso crítico na potência máxima e não desliguei mais. Foi por conta deste estado de espírito 100% analítico que pude perceber e escrever, em um dos meus primeiros posts, que brasileiros e chineses são muito parecidos em alguns pontos.

De volta ao Brasil, exatamente 1 ano depois (chegamos à China dia 17 de julho de 2011), algumas experiências confirmaram esta sensação.

De manhã muito cedo, fui fazer exame de sangue com as crianças. Depois de esperar um tempão para sermos atendidos (90% do público era de velhinhos com senha prioritária), não pudemos fazer o exame porque não tínhamos nenhum documento comprovando que aquelas crianças eram nossos filhos. Em compensação, a atendente com pena de nós, abriu uma exceção e deixou os exames pré-agendados para facilitar na hora do nosso retorno.

Em seguida, fui trocar um pijama que comprei numa loja de departamentos, cuja marca prefiro não citar. A atendente do setor de trocas, maquiada às 9 da manhã com sombra azul clara cintilante e batom laranja-maravilha, me pediu à la carioca um documento de identidade: “Fala aí a identidade”. Ao receber meu passaporte, percebi que ela nunca havia tido contato com aquele livrinho azul marinho, o qual ficou folheando por algum tempo até desistir e me pedir o número do meu CPF e RG. Na hora de efetivar a troca no caixa do andar de baixo, a outra atendente me pediu o CPF e o RG para poder conferir se eu era eu mesma. Disse que não tinha meus documentos comigo e que havia ditado os números para a atendente do setor de trocas. Ela riu simpaticamente e fez a troca sem problemas.

De lá, eu e Luiz seguimos para um cartório para autenticar a autorização de viagem das crianças. Pagamos R$ 120,00 por dois selos para dizer que nossos nomes tinham sido verificados; mais dois carimbos, um na etiqueta e outro nos selos; outro carimbo de não sei mais o que e um carimbo de mãozinha apontando para o nome da gente. Isso tudo em cada uma das 4 vias, porque o número de vias tem que ser par e não impar mas, segundo o atendente, parece que não será mais necessário, mas ainda não foi confirmado, então talvez seja melhor realmente fazer…..

E o que isso tudo tem a ver com a China?

A primeira é a imensa burocracia dos dois países conhecida e experimentada por todos que tentam fazer negócios entre eles. O segundo é o jeitinho de driblar a papelada toda e conseguir atalhos para fazer o processo andar mais rápido ou para, simplesmente, ajudar o outro que está na roubada.

Na China, posso dizer que, normalmente, não há problema sem solução quando se tem dinheiro. Não se trata de ajudar ao próximo como no Brasil, mas de faturar um troquinho mesmo. Como já mencionei em post anterior, o chinês gosta de dinheiro e não tem falsos pudores para assumir isso.

Enfim, o famoso jeitinho brasileiro encontra similar no outro lado do mundo onde, assim como nós, os cidadãos chineses precisam encontrar formas de viver num estado burocratizado.

Em tempo, daí ao advogado de João Havelange e Ricardo Teixeira dizer que “pagamento de suborno é prática comum na América do Sul, onde a propina faz parte do salário da maioria da população” (como li na coluna do Veríssimo do Globo deste domingo), já é avacalhação e ultrapassa os limites do meu blog…

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