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Quase todos os dias a gente vê no noticiário europeu que mais um grupo de imigrantes ilegais acabou morrendo numa trágica tentativa de tentar uma vida melhor na Europa. Pobres pessoas que recorrem a esta forma arriscada de entrar no Velho Continente e deixar para trás uma vida de miséria e sofrimento.

Mas todos os dias chegam aqui também jovens casais, homens e mulheres que tinham uma vida confortável em seus países de origem, mas que decidiram, por algum motivo, imigrar. Eu nunca entendi direito este grupo específico de pessoas. Particularmente, eu sempre quis passar uma temporada fora do meus país. Mais precisamente em Paris. Era um projeto de vida. Mas mudar para sempre, deixar para trás toda a família e amigos, juntar toda uma vida em duas malas de 32 quilos e começar do zero num outro lugar, nossa, isso é para os corajosos.

Acho que sempre fui meio receosa por conta do exemplo que tive em casa. Meu pai é um imigrante. Ele chegou ao Brasil aos 20 e poucos anos sem falar um A de português. Trabalhou como mascate, fez de tudo um pouco até aprender melhor a língua e, como grande parte dos conterrâneos, acabou se fixando no comércio. Levou 20 anos para voltar pela primeira vez ao país de origem e, apesar de todas as dificuldades, diz que não troca o Brasil por nada. “É o melhor país do mundo para se viver, não existe igual”, diz.

Ele conta que, quando chegou ao Brasil, estava passando na TV a novela Selva de Pedra. Logo a novela chegou ao fim e ele ainda não falava (e muito menos entendia) o português. Ele conta que no dia do último capítulo ele queria entender o que estava acontecendo, ninguém nem piscava na sala enquanto o capítulo final se desenrolava e uma tentativa qualquer dele, em perguntar o que o Francisco Cuoco e a Regina Duarte estavam dizendo, era interrompida com psius e resmungos. Ele teve que esperar 13 anos, quando houve o remake da produção (em 1986), para conseguir entender aquele bendito último capítulo.

Estar fora do nosso ambiente é isso: é ligar a TV e não entender direito as referências que são feitas; não conseguir rir, com o mesmo entusiasmo, de certas piadas. É também não conseguir ser entendida muitas vezes pelo simples fato de que a nossa forma de pensar é completamente diferente e, assim, nos expressamos de forma diferente. Depois que a gente ultrapassa a barreira do idioma e já consegue se fazer entender sem tanto sofrimento, a sensação que dá é de que tudo vai ser diferente a partir de então. Mas ainda não é.

Para mim, o mais difícil de tudo é compreender como as pessoas funcionam. Quando estamos no país da gente, é fácil saber como se comportar e, o melhor do melhor, você sabe como o outro se comporta e como ele aceita (ou não) as coisas. Quando você vem de uma cultura diferente, entender os limites e as aberturas é um desafio.

Depois deste tempo aqui eu olho com mais admiração aos imigrantes. A gente que veio com data marcada para voltar, vai aceitando as dificuldades, respira fundo e pensa: “é por um tempo”. Você não tem as mesmas oportunidades de trabalho, sempre vai ser alvo do preconceito alheio e mesmo que você adore o lugar que escolheu para estar, nunca é como o país da gente. Definitivamente, ser imigrante não é para qualquer um.

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