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A África do Sul é um país cheio de contrastes. Conhecida pelos problemas de segregação racial ou ainda pela última Copa do Mundo, ela é também um dos integrantes do chamado Novo Mundo dos vinhos (produtores fora do eixo europeu que começam a se destacar na produção vinícola). O que poucos sabem é de suas belezas naturais, da sua rica história e, principalmente, do passado glorioso de muitos de seus vinhos.

Constantia, uma região vinícola próxima a Cidade do Cabo, já fazia sucesso no século 17. Seu vinho era requisitado pela corte europeia mais sofisiticada.

Hoje a história é outra, mesmo sendo a África do Sul um dos primeiros produtores de vinho do Novo Mundo, o Cape Wine briga para achar espaço no concorrido mercado global. As armas para convencer os consumidores são bem conhecidas: vinhos frutados, acessíveis, com bom corpo e certa doçura natural.

Viajei a África do Sul para participar do Nederburg Auction, um badalado leilão que serve de vitrine para compradores e consumidores, e foi neste evento que tive a oportunidade de provar algumas raridades. Como em qualquer leilão, as grandes atrações são os vinhos antigos. Por sorte, alguns estavam disponíveis para degustação.

O ponto alto foram os vinhos doces, como o Nederburg Edelkeur 1979, um fantástico Chenin Blanc de podridão nobre. O KWV Muscadel 1930 também impressiou, fortificado no melhor estilo Moscatel de Setúbal. Outro destaque foi o Klein Constantia Vin de Constance 1988, delicado e sedutor, faz jus ao legado histórico da sua região de origem. Esses três arrasaram. Vinhos de estilos diferentes, mas todos igualmente deliciosos.

Na categoria de brancos secos, a qualidade geral foi muito boa, embora o excesso de madeira tenha sido um traço marcante nos vinhos que passam por barrica. Quando bem trabalhada, a madeira de carvalho ajuda, esse é caso do Stellenrust 45 Barrel Fermented Chenin Blanc 2009, um vinho fresco, com ótima fruta e notas agradáveis da fermentação em carvalho.

Já o De Morgenzon Reserve Chenin Blanc 2005 é bem mais untuoso e exuberante, porém deixa a desejar em frescor. Por sua vez, o Boschendal Chenin Blanc 2010 é harmonioso: fruta fresca e passagem mínima na madeira garantem um bom resultado.

Para os fãs da Chardonnay também não faltam opções, como o Uva Mira Single Vineyard 2009, bem equilibrado e com deliciosas notas tostadas; e o ótimo Bouchard Finlayson Sans Barrique 2010, com fruta cítrica em evidência e delicadas notas minerais.

Os tintos geralmente pecam pelos excessos: de maturação, álcool e carvalho. Mas alguns surpreenderam, exibindo boa concentração de fruta, equilíbrio e complexidade.

O Stellenzicht Pinotage 1998 é um bom exemplo, macio e suculento, com notas terrosas e de madeira tostada. Já o Ashbourne Pinotage 2005 exibiu um belo perfil, com fruta fresca deliciosa e taninos de ótima qualidade, uma preciosidade da região de Walker Bay.

Outro grande vinho é o Kanonkop Paul Sauer 1995, feito no estilo Bordeaux, com concentração impressioante após quase 15 anos de garrafa. Um dos meus preferidos foi o Thelema Cabernet Sauvignon 1997, um vinho macio e vibrante, com aromas intensos de cassis e minerais.

Além dos ótimos vinhos, a Cidade do Cabo oferece bons restaurantes e excelente infraestrutura para turismo. Vale a pena passar alguns dias na cidade, passear pelo Waterfront, comer frutos do mar a preços convidativos e, principalmente, visitar algumas vinícolas. A África do Sul encanta, e a Cidade do Cabo é um dos principais atrativos deste país surpreendente.

*Jomar Brustolin é fotógrafo e enófilo. É editor do blog sobre vinhos e gastronomia QVinho (www.qvinho.com.br) e confrade da Confraria do Armazém. Ele visitou a Àfrica do Sul em setembro para participar do leilão Nederburg Auction à convite da companhia de bebidas sul-africana Distell.

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