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Quando entrou no Instituto Akatu, organização não-governamental que trabalha pela conscientização e mobilização da sociedade para o consumo consciente, a diretora-executiva Ana Wilheim mudou seu modo de vida. Além de adotar a crença de que não é necessário comprar tanto, vendeu o carro e passou a usar transporte coletivo ou táxi, opção que, evidentemente, nem sempre é a mais confortável. "Claro que nem sempre os ônibus são bons, os trens estão lotados. Mas essa é a ideia do futuro, a de compartilhamento." Leia a seguir os principais trechos da conversa de Ana com a Gazeta do Povo:

O consumo é hoje um estilo de vida. Ao mesmo tempo, comprar de forma planejada também é bastante discutido. A senhora pode definir o que é, de fato, o consumo consciente?

É ter noção do impacto na minha vida, na sociedade e no planeta. Significa que, na hora que eu compro uma caneta, preciso saber de onde veio aquele produto, o quanto ele consumiu de bens naturais e o impacto na produção de energia e de água. Estamos imbricados no uso-descarte, e as políticas públicas não nos chamam para prestar atenção nisso. No Akatu, queremos dar esse caminho, colocar as informações.

Por qual motivo o consumo ainda é diretamente relacionado com qualidade de vida?

Vivemos numa sociedade que não não está curtindo o bem-estar. Trabalhamos para ganhar dinheiro e consumir. Temos de nos perguntar: afinal, consumimos para viver ou vivemos para consumir? O consumo não é um fim em si mesmo. Precisamos entender que trocar de celular constantemente gera um impacto enorme na produção de lixo eletrônico, e os excessos colocam as pessoas em uma armadilha.

O consumo tem um papel importante no desenvolvimento econômico. Como lidar com isso?

No Akatu, não pregamos o não comprar, mas sim ter consciência dos impactos, que a pessoa pense em como descartar depois. Outro ponto importante é que as políticas públicas devem regulamentar a produção da indústria, para que se consuma menos energia, já que o grande impacto vem da indústria.

Também lidamos com o consumo como merecimento. Será que conseguiremos mudar esse pensamento?

Creio que sim. Algumas pessoas preferem investir em uma viagem de lazer e relaxamento ao invés de uma viagem para consumo. De se presentear com uma ida a uma exposição, com coisas que não dão despesa. Aos poucos, tribos sociais e urbanas vão se cansar de uma vida que se vive para consumir, de trabalhar e gastar tudo o que se tem, de ter de fazer gestão de dívidas. Acho que essa transição para o bem-estar começa a ser buscada, tem relação com esse futuro em que vamos ficar tão sobrecarregados de ofertas e consumo, que não daremos conta.

Hoje é celebrado o Dia sem Comprar. Como essa data pode nos fazer refletir?

O estímulo da compra existe, não é algo espontâneo. Ninguém acorda com vontade de comprar. Uma data como essa nos ajuda a parar para pensar o que é realmente necessário, se a empresa que fabrica o produto é responsável, se vou pagar à vista e se tenho consciência do que é pagar a prazo. É sabido que desperdiçamos muita comida porque não planejamos direito, por exemplo. Nesse dia, é importante crer que não precisamos consumir o tempo todo para nós mesmos, e sim compartilhar.

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