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O balconista Bruno Souza notou a alta nos preços do açougue, mas diz que é impossível deixar de comer carne vermelha | Aniele Nascimento/ Gazeta do Povo
O balconista Bruno Souza notou a alta nos preços do açougue, mas diz que é impossível deixar de comer carne vermelha| Foto: Aniele Nascimento/ Gazeta do Povo

Previsão

Recuo nos preços só virá a partir do segundo semestre

Os preços da carne bovina já atingiram ou estão perto de atingir um pico, mas não dão sinais de recuo. O consumidor deve esperar baixas só depois da Copa do Mundo, aponta o coordenador do Centro de Informação do Agronegócio da Universidade Federal do Paraná, Paulo Rossi.

"É um ano atípico, de chegada de muitos estrangeiros. Eles vão achar nossa carne barata porque pagam no exterior muito mais do que aqui", prevê. Outras questões também estão em jogo. "O preço da arroba sobe no início do mês porque a primeira coisa que a pessoa faz com o salário é ir comprar uma carne melhor", frisa.

Os preços estimulam a produção, e deverão se reequilibrar quando houver mais oferta. "Vai chegar em um ponto que isso vai se estabilizar. Os produtores estão contentes, mas temos que lembrar que depois de toda festa há uma ressaca", alerta Rossi.

Ciclo de alta

De acordo com o supervisor técnico do Dieese no Paraná, Sandro Silva, este é o segundo ciclo de aumento no preço da carne num intervalo de sete anos. "Registramos altas já a partir de 2007 [12,68%]. Em 2010, se comparado a 2009, tivemos o maior crescimento, quando o preço aumentou 32,28%", diz. Depois de uma trégua em 2011 e 2012, as cotações voltaram a subir agora.

A carne de boi nunca foi tão cara no Brasil, mas não vai ser por isso que a Copa do Mundo vai passar a frango frito. Os preços no campo bateram a casa dos R$ 120 por arroba – aumento de 12% em um ano – e nos supermercados estão 8% mais altos. Os cortes preferidos chegam a custar R$ 40 o quilo. Se for de novilho precoce, o quilo sai por R$ 60. Apesar disso, a demanda segue firme em 2014. Além de a Copa ser motivo para churrasco durante um mês inteiro, o brasileiro está mais resistente na hora de trocar o bife por uma carne mais barata.

O quadro provoca impacto direto no custo de vida, principalmente na Região Sul, onde o consumo é maior, aponta o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). As carnes representam um terço do custo da cesta básica e estão acima da média dos outros alimentos.

Em Curitiba, a carne vermelha subiu 11,76% no último ano (fev a fev), segundo a Pesquisa Nacional da Cesta Básica promovida pelo Dieese. De 18 capitais avaliadas, a paranaense só perde para Florianópolis (15,07%) e Rio de Janeiro (19,08%) na escalada de preços do churrasco. O aumento de preço fez a carne pesar mais na conta final do supermercado, passando a representar 38,4% (antes era 34,4%) do custo da cesta básica que o Dieese usa como referência dos hábitos curitibanos, que sai hoje por R$ 293,49.

A Copa se soma à nova condição de renda do consumidor e estimula o consumo, avalia a diretora do setor de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Federal do Paraná, Ana Paula Cherobim. "Ninguém se reúne para comer frango frito. É uma questão cultural. As pessoas gostam de carne, estão ganhando melhor e vão continuar comprando", aponta. Porém, a desigualdade de renda persiste. "Quem vai sofrer são os mais pobres, mas a classe média vai acabar investindo um pouco mais."

Em média, o brasileiro ingere entre 35 e 40 quilos do produto por ano, volume comparado ao dos Estados Unidos e que pouco oscilou nos últimos anos. O consumo de frango está em 42 quilos por ano e o de carne suína em 15 quilos anuais.

No açougue

Alguns consumidores acostumados com as oscilações nem notaram o fato de a carne vermelha estar em um novo patamar de preço. "Sei que houve aumento, mas não percebi quanto", afirma a empresária Hida Lambros. "Alguns cortes realmente aumentaram bastante, mas é impossível deixar de comer carne vermelha", diz o balconista Bruno Souza.

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