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José Mauri e a esposa Célia vão quitar o imóvel 22 anos após o financiamento | Rodolfo Bührer/ Gazeta do Povo
José Mauri e a esposa Célia vão quitar o imóvel 22 anos após o financiamento| Foto: Rodolfo Bührer/ Gazeta do Povo

Ao menos na teoria, a Tabela Price não é tão venenosa quanto parece. Em termos nominais, o mutuário de fato gastará mais para comprar seu imóvel, mas por um bom tempo vai pagar prestações menores que nos outros sistemas – o que não deixa de ser uma forma de inclusão social. Em um empréstimo de 20 anos, por exemplo, a parcela da Price será inferior à do SAC e à do Sacre durante os seis primeiros anos.

"A Price é o sistema mais usado no mundo inteiro, por uma questão simples: todo mês você paga a mesma coisa. Para efeito de administração de caixa, é mais simples para quem empresta e para quem pega emprestado", explica Jackson Ciro Sandrini, professor da UFPR.

O "porém" do sistema francês é a lentidão com que o saldo devedor diminui. Nos primeiros seis anos, ele cai pouco mais de 10%, frente a pelo menos 30% nos outros sistemas. A sensação de estar pagando um imóvel "impagável" começa – mas não termina – por aí.

Em qualquer dos três sistemas, não apenas os juros incidem sobre o saldo devedor, mas também a correção monetária. Caso a inflação e a renda do mutuário continuem estáveis, não há problema. Mas, se a situação econômica degringolar, o aperto será maior para quem financiou pela Price.

"Estamos falando de contratos muito longos, que podem chegar a 30 anos. Não há como prever o que vai ocorrer com o país ou a vida de uma pessoa nesse período", alerta a economista Ione Amorim, do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec). "Todos os sistemas de amortização têm prós e contras. Mas, em caso de problemas econômicos, quem adere à Price tende a ser mais afetado. Principalmente pessoas de baixa renda."

Pesadelo

O imbróglio da Price surgiu do descompasso entre os mecanismos de correção aplicados a partir da época da superinflação. O saldo devedor era corrigido mensalmente pela TR, mas a prestação, não. Ela ficava congelada por meses, subindo apenas quando o salário do mutuário era reajustado – e era comum que os reajustes não acompanhassem a inflação. A parcela, defasada, já não abatia os juros, e o saldo devedor só crescia.

"Se você corrigir o saldo e a prestação pela TR, não tem erro: o saldo vai zerar no fim do financiamento. Agora, se corrigir só o saldo, ou corrigir saldo e prestação por indexadores diferentes, aí não zera mesmo", explica Sandrini, da UFPR.

"Quando mais eu pagava, mais a dívida aumentava", lembra o comerciário José Mauri Dal Negro, que entrou na Justiça em 2002 e conseguiu entrar em acordo com a Caixa Econômica em novembro passado. "O saldo devedor estava em R$ 83 mil, e consegui fechar por R$ 31 mil. Paguei metade com o FGTS e o restante em sete parcelas. A última eu pago neste mês."

"As distorções foram causadas por inflação alta e pela reposição apenas parcial da inflação nos salários. Se, no futuro, as reposições salariais acompanharem a inflação, no mínimo teremos menos problemas", avalia Antônio Carlos Béllio, professor da Estação Business School. (FJ)

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