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A possibilidade, real, de ser rebaixado, há al­­guns anos já não era novidade na Baixada. Mesmo assim, o torcedor atleticano, o ser humano de uma forma geral, só bota fé mesmo ao tomar o tapaço na cara – quando vê o clube entre os quatro úl­­ti­­mos na rodada derradeira, ao ler o "reprovado" no boletim final, ou ao encontrar aquela trouxinha de "cigarro que passarinho não fuma" malocada no armário do filho entusiasta do reggae. Aí, meu amigo, é tempo de encarar a dura realidade.

E a do Furacão é a Segundona em 2012, competição que o clube não disputa há 16 anos – naquela época, Luiz Inácio Lula da Silva tinha a barba preta e apenas sonhava em envergar a faixa presidencial. Ou seja, boa parte da molecada que frequenta o Joaquim Américo nos dias de hoje não tem a menor noção do que é frequentar o segundo escalão do futebol brasileiro.

Para estes, faço um breve remember. Em 1995, o Rubro-Negro passava por um período de transição. Após um início de temporada catastrófico – com direito a uma impiedosa goleada por 5 a 1 em Atletiba –, Mário Celso Petraglia, um completo desconhecido do mundo da bola, assumia o clube cheio de marra e promessas.

Era também a fase de retorno à Baixada, feito realizado um ano antes, graças a José Car­­los Farinhaqui. Foi o mais mal falado dos ex-presidentes atleticanos quem devolveu a torcida à "Terra Prometida", depois de oito anos com o clube vivendo as mais loucas aventuras no cemitério indígena do Centro Poliesportivo Pinheirão.

Na bola, finalmente, o destaque era o bom baiano Oséas. O apelidado "Gullit da Baixada" protagonizou, formando dupla de ataque com Paulo Rink, a con­­quista do título de uma Série B que não existe mais.

Foi-se a época em que a logística para determinadas viagens incluía algumas travessias a nado. Da mesma forma, o jogador não corre mais o risco de apreciar todas as frutas da estação, arremessadas pela galera adversária, ao cobrar um tiro esquinado.

A Série B parece ter acompanhado o incremento econômico da classe C brasileira. Não rola o luxo da elite – longe disso. Mas os estádios são, na maioria, ajeitadinhos. E a rapaziada usa chuteirinha colorida, corta o cabelo estilo moicano e apavora nas redes sociais.

Apesar da mudança considerável de conceito da disputa, a queda pode servir para outro contingente de torcedores do Furacão, os denominados "bum­­bunzinhos de veludo", ou "Geração Arena", aqueles que passaram a seguir o clube quando a mexerica e o suco no saco plástico já não eram mais permitidos na bancada.

O próprio clube poderia promover esse banho de humildade. Mais do que a recuperação técnica, com uma campanha firme dentro de campo para voltar à Série A – algo que o Furacão tem todas as condições de empreender –, vale à pena recuperar alguns valores perdidos e, principalmente, entender que todo time, grande ou pequeno, cai.

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