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Durante as últimas três semanas conclui um ciclo precioso da minha vida profissional. A Olimpíada de Londres e a Sagrada Unção, digamos assim, do Estádio Rasunda, de Estocolmo, registraram momentos emblemáticos. Como se eu estivesse diante de uma tela, assistindo à genialidade criativa de Claude Lelouch.

Os Jogos de Londres completaram 20 anos de um projeto ambicioso com a Gazeta do Povo, iniciado em Barcelona-92. Foram seis Olimpíadas, cinco Copas do Mundo e inúmeros outros eventos esportivos internacionais que cobrimos – seguramente mais de 60.

Nesse último, a Grã-Bretanha deu um show de organização olímpica, dentro do propósito sustentável. Espero que os observadores do Rio-2016 tenham tomado consciência de que os enormes gastos públicos não podem ser destinados apenas a algumas semanas olímpicas. Desperdício é uma palavra que deve ser riscada do mapa. A estrutura material dos Jogos de Londres será toda reaproveitada.

Rebobinando o filme, fatos mais antigos lembram-me um passado não muito recente. A perda da medalha de ouro para o México foi diferente da eliminação precoce na chuvosa Liverpool de 1966.

Naquela Copa, vimos Pelé e Garrincha juntos pela última vez, cada um fazendo o seu gol na vitória por 2 a 0 sobre a Bulgária. Juntos, eles jamais perderam jogando com a camiseta da seleção. Aquele Brasil já havia ganhado duas Copas; este de Mano Menezes segue sem medalha de ouro.

Em Manchester, antes de Brasil e Coreia do Sul, aproveitei para um bate e volta a Liverpool, apenas para rever o estádio daquela Copa. De passagem, dei uma entrada no Cavern Club, que se esforça para manter o charme da época. Na frente, uma estátua de John Lennon em bronze. Antes ali tocavam quatro garotos de ouro.

O amistoso de Estocolmo teve outro apelo. Foi pelo rádio que acompanhei aquela Copa de 58. Os narradores esportivos nos fascinavam: "Placaaarrrr na Suéééécia...", soltava a voz Edson Leite. Olhando para Thiago Silva e David Luis neste amistoso, via neles as imagens de Bellini e de Orlando projetadas pelo locutor Pedro Luís. O jogo e a vitória em si deram apenas um pano de fundo para as homenagens aos campeões mundiais.

Pelé, Zito, Pepe e Mazolla estavam no hotel quando apareceu Ulf Lindberg, filho de Garrincha (deixo para um artigo futuro). Pelé o abraçou carinhosamente e, pela primeira vez, foram fotografados juntos. O "garoto", com 52 anos, vende cachorro-quente no porto de Halmstad.

Presente e passado é uma só coisa. Depende de nossos olhos, imaginação e respeito ao tempo. A foto imediata, colorida e perfeita dos tablets de hoje é tão valiosa quanto o retrato amarelado, romântico e saudoso revelado pela rolleyflex da nossa memória. São os retratos da vida que dão valor a ela.

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