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Por vassalagem cultural, a história da Grã-Bretanha e dos Estados Unidos está na ponta da língua e a nossa própria, no mindinho do pé. Estou me referindo ao fato de que o título levou muita gente a pensar no Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte sem ao menos cogitar o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. Com essa asserção não faço apologia da nova base curricular de História proposta pelo MEC, que é contaminada pelo vezo de achar que o passado deve ser visto de modo artístico, engajado, revolucionário. Quero dizer que há eventos definidores da nossa existência dos quais mal e mal se noticia.

Na semana passada – dia 16 – completaram-se 200 anos da criação do nosso Reino Unido. O que as escolas – primárias a superiores – fizeram para lembrar e estudar esse aniversário? O governo do país, o que fez para ressaltar a data como preparação do bicentenário da Independência? Será que a presidente sabe que o Brasil começou muito antes do FHC e vai durar apesar dela? O poder costuma gerar egolatria e a pessoa imagina que antes era o caos, com ela se fez a luz e depois será o dilúvio.

Quem não conhece o ontem pensa que só existe o hoje e que nunca antes na história houve algo ou alguém tão valioso

A celebração das datas históricas também tem a função de pôr os poderosos no quadro do tempo, para que percebam a insignificância de sua existência. Quem não conhece o ontem pensa que só existe o hoje e que nunca antes na história houve algo ou alguém tão valioso. O narciso se cerca de espelhos.

Escusada a digressão, volto ao tema do Reino Unido para dizer que durou pouco, é verdade. A insensibilidade política da elite portuguesa, que se sentiu apequenada ante as potencialidades imensas do Brasil, foi uma das causas da separação. Diga-se, os acontecimentos seguiram curso curioso, tanto que no dia 23 de setembro de 1822 entrou em vigor a primeira constituição política do Reino Unido, fruto da assembleia constituinte que havia começado as sessões no ano anterior, com a participação de deputados brasileiros.

A morosidade das comunicações levou à promulgação de texto que não condizia com a independência do Brasil, ocorrida dias antes. A terra não permaneceu toda uma, como se mar a unisse. Mais adiante, a Constituição do Império do Brasil, promulgada em 1824, foi adaptada a Portugal. A costela da cria enxertada no criador.

A turbulência levou muitos pescoços à forca e guerra fraticida nas terras lusitanas e brasilianas. No Brasil, a pacificação interna veio depois do término da Revolução Farroupilha, em 1845. Até na dor as trilhas foram paralelas, apesar de haver tanto mar a nos separar.

Pedro I se tornou Pedro IV. Um rei, dois reinados e a brevidade da eternidade. Como são as coisas da lusitanidade, rompeu-se sem ruptura; afastou-se sem distância; foi-se ao horizonte para voltar ao mesmo lugar. A secessão política não gerou seccionamento cultural e a América lusitana continuou a ser extenso Portugal.

A Europa na América tem componentes trágicos, dramáticos, heroicos, cômicos das magnas epopeias. Porém, os feitos de Portugal foram muito além do que prometia a força humana. Assim, por ela se esqueçam os humanos de assírios, persas, gregos e romanos.

Não do reino, mas da união, hei de lembrar.

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