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O que somos diante de um gênio como Pascal? Nada, positivamente nada. Mas a todos nós, em algum momento da vida, também é dado viver a epifania.

Pascal converteu-se na noite de uma segunda-feira, 23 de novembro de 1654. Os cavalos desprenderam-se da carruagem que levava o pensador. Durante duas horas e meia, ele teve uma visão do Cristo. Escreveu em um pergaminho: "Fogo. Deus de Abraão, Deus de Isaac, Deus de Jacó, não dos filósofos e dos sábios. (...) Convicção, sentimento, alegria, paz. Deus de Jesus Cristo. Esqueça-se do mundo, exceto Deus".

Quando Pascal morreu, aos 39 anos, um criado encontrou o pergaminho da epifania costurado na roupa do filósofo.

Por volta das cinco da tarde, brincávamos eu e minha irmã Fernanda em um dos gramados da Praça Charles Miller, em frente do Pacaembu, em São Paulo. Eu tinha uns 8 anos; ela, 3. Nas manhãs de sábado, havia uma feira livre na praça. Jogávamos futebol com uma bola de vôlei (guardei esse detalhe, talvez para indicar que várias vezes eu trocaria os pés pelas mãos durante a vida).

De repente, vi na grama algumas espinhas e cabeças de peixe, provavelmente deixadas ali pelos feirantes, como alimento para os gatos que vivem na praça. Eu disse: "Nunuca (era o antigo apelido de minha irmã), vamos brincar ali do outro lado. Aqui largaram esses peixes, bleargh".

Passaram-se talvez cinco minutos. Chutei a bola de vôlei para o meio da praça – sempre fui muito grosso no futebol – e um Fusca veio capotando no gramado. O carro parou exatamente no lugar onde estávamos minutos antes. O motorista sofreu apenas escoriações.

Um dia descobri que os peixes são o símbolo do cristianismo.

A família Domingues viajou para Portugal. Eram cinco irmãos, duas irmãs e Mário, o pai. Na "Terrinha" também estavam os genros, noras e netos do patriarca. Só faltava dona Ermelinda, a mãe, falecida alguns anos antes.

Em Lisboa, foram ao restaurante João do Grão. Rubens, filho de seu Mário, pediu ao garçom – um brasileiro – o melhor vinho da casa.

Era um momento de alegria – mas, de repente, Rubens notou que sua irmã mais velha chorava. Ele se levantou, foi até o lugar da irmã, do outro lado da mesa, e perguntou o motivo das lágrimas. Então ela lhe mostrou o rótulo com o nome do vinho: "Dona Ermelinda."

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