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Lula e Janja abanam para Alckmin na partida para Havana.| Foto: Ricardo Stuckert / PR

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pretende retomar no fim deste mês sua agenda de viagens internacionais. Seu destino principal, a COP28 (cúpula do clima da ONU), que ocorre entre os dias 30 de novembro e 12 de dezembro, nos Emirados Árabes Unidos, é uma viagem que já estava programada antes de Lula passar por uma cirurgia no quadril realizada há pouco mais de um mês. Mas o petista anunciou também novos destinos: Qatar, Arábia Saudita e Alemanha.

A agenda internacional do presidente foi motivo de críticas nos últimos meses. Lula, neste terceiro mandato, foi o presidente brasileiro que mais fez viagens internacionais. De acordo com levantamento do Paraná Pesquisas divulgado em outubro, 50,4% desaprovam as viagens ao exterior do presidente; 44,1% aprovam e 5,5% não souberam responder ou não opinaram.

Lula anunciou o novo roteiro internacional durante sua participação no 6º Fórum Brasil de Investimentos, realizado no Palácio do Itamaraty, em Brasília. O evento reuniu empresários brasileiros e investidores de outros países com o intuito de atrair investimentos para o Brasil. O presidente fez um discurso durante a abertura do fórum e disse que pretende buscar mais investimentos para o país.

Focando na agenda econômica, a previsão é de que o petista visite os países árabes antes de ir para a COP28. De acordo com o consultor de análise política da BMJ Consultores Associados Nicholas Borges, os próximos destinos de Lula fazem parte do discurso que ele tem adotado nos últimos meses com o alegado intuito de atrair mais capital para o Brasil.

"O presidente tem investido em uma agenda, em geral com países árabes, com o intuito de captar investimentos para o país, principalmente no escopo da infraestrutura e do Novo PAC [o Programa de Aceleração de Crescimento do Governo Federal]. Os países árabes têm um interesse muito grande em participar dessas pautas de investimento", analisa o especialista.

“Antes de ir na COP, eu quero passar no Catar, quero passar na Arábia Saudita, e, quando terminar nos Emirados Árabes, passar na Alemanha, na grande reunião entre empresários alemães e empresários brasileiros. Em todos esses encontros, a gente vai levar projetos que o Brasil tem”, afirmou Lula nesta semana.

Guerra também vai ser discutida por Lula

Além das conversas envolvendo negócios, a Gazeta do Povo apurou que o petista também deseja tratar sobre a guerra entre Israel e Hamas durante a visita às ditaduras da Arábia Saudita e do Qatar. Os dois países desempenham papel muito importante na guerra de Israel.

Analistas internacionais avaliam que um dos objetivos dos ataques terroristas lançados pelo Hamas contra Israel em 7 de outubro era impedir uma aproximação diplomática entre a Arábia Saudita e Israel. Os sauditas, que não reconhecem Israel como país, vinham sendo envolvidos em um processo de normalização de relações patrocinado pelos Estados Unidos com o objetivo de se atingir a paz no Oriente Médio.

O Hamas e o Irã teriam então usado os atentados para tentar acabar com a negociação e impedir a reaproximação da Arábia Saudita com os Estados Unidos.

Já o Catar desempenha papel fundamental na guerra pois seu governo autocrático dá abrigo às principais lideranças terroristas do Hamas. Por isso, a cúpula terrorista tende a dar ouvidos aos pedidos do Catar para manter sua base fora da Faixa de Gaza.

Para Nicholas Borges, contudo, o brasileiro não deve conseguir obter o efeito que deseja ao tratar sobre a guerra com outros países.

"No momento, o Brasil não é visto, principalmente por Israel, como um país que pode servir como mediador para este conflito. Para Israel, o Brasil não é visto como um player importante, principalmente pela postura mais branda e comedida que o país adotou sobre o conflito", avalia.

O tom dos diálogos, contudo, pode ser definido com a liberação dos brasileiros que esperam sair de Gaza. O Ministério das Relações Exteriores espera, desde o início da guerra, pela autorização da passagem de 34 brasileiros pela fronteira de Gaza com o Egito. O governo egípcio abriu a fronteira para estrangeiros seis vezes e, em nenhuma delas, brasileiros foram autorizados a passarem.

As viagens de Lula ao território árabe estão previstas para a última semana de novembro e a expectativa do Itamaraty é de que essa passagem seja liberada já nos próximos dias. Caso a repatriação dos brasileiros não aconteça até as viagens, Borges avalia que o presidente deve negociar a passagem com lideranças no Qatar e na Arábia Saudita.

Sem peso para sugerir solução ao conflito, Lula deve tentar se posicionar sobre a guerra

Sem chance de exercer algum tipo de protagonismo no que diz respeito ao conflito no Oriente Médio, Borges avalia que Lula pode ecoar discursos de seu interesse no Qatar e na Arábia Saudita. "Lula deve abordar a questão do cessar-fogo, da construção de um corredor humanitário e, principalmente, se posicionar contra a permanência de Israel em Gaza", avalia o especialista da BMJ.

Ele pontua que Qatar e Arábia Saudita têm sido atuantes no conflito entre Israel e Hamas e, por isso, é do interesse de Lula se posicionar sobre a guerra. O principal ponto deve partir do posicionamento contrário do brasileiro ao interesse do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, de manter tropas israelenses na Faixa de Gaza. Para o especialista, essa deve ser a aposta do mandatário brasileiro nos próximos diálogos com lideranças internacionais.

"O Brasil, na figura dos presidente Lula, já sinalizou que vai colocar em discussões de fóruns internacionais que o país não vai aceitar uma ocupação militar de Israel por tempo indefinido em Gaza. O Brasil deve ser contrário explicitamente e ativamente contra essas intenções de Israel de ocupar permanentemente a Faixa de Gaza", analisa.

COP28 é a grande aposta ambiental de Lula para este ano

Considerado o principal e mais importante evento para discussões ambientais no mundo, a participação de Lula na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2023, a COP28, tem gerado grande expectativa na base governista. Defensor da agenda climática, o petista tem tentado se lançar como um líder ambiental e buscado protagonismo em temas relacionados ao clima, à transição energética e à preservação ambiental.

No evento deste ano também vai ser anunciado oficialmente o local da COP30, marcada para o ano de 2025 — a qual está programada para acontecer no Brasil, em Belém (PA). O evento de 2025 é a grande aposta do terceiro mandato de Lula na área internacional.

Para o encontro deste ano, que acontece nos Emirados Árabes Unidos, Borges acredita que Lula deve dar destaque a pautas do agronegócio, exaltar o esforço de seu governo para tentar vetar o marco temporal de demarcação de terras indígenas e assuntos envolvendo mercado de carbono.

"O agronegócio é um setor onde o presidente sempre enfrentou resistência e, apesar da COP ser um evento voltado para questões ambientais, ele deve levar uma agenda mútua. Portanto, os temas envolvendo a recuperação de pastagens no Brasil e os interesses do agronegócio, devem ser a principal pauta do governo", pontua.

A Alemanha deve ser o último destino no roteiro do petista. No país, Lula tem encontros com empresários e também deve ter uma reunião com o presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier. Assuntos como o acordo entre o Mercosul e a União Europeia devem ser retomados.

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