• Carregando...
Após o anoitecer
| Foto:

Ansioso enquanto o terceiro livro de 1Q84 não sai (previsão para amanhã), aproveitei para devorar nesse fim de semana outro livro do mesmo autor, o japonês Haruki Murakami. Trata-se de Após o anoitecer. Confesso que já me tornei seu fã.

O estilo, a escrita envolvente, a criatividade, as histórias paralelas que vão se entrelaçando e, acima de tudo, o tom onírico que nos transporta para um mundo diferente são simplesmente fantásticos. É difícil parar de ler seus livros.

Novamente, Murakami recheia sua história com sentimentos universais e bastante música ocidental. Os personagens e os locais são japoneses, mas nos sentimos cidadãos de um mesmo mundo, habitado por fantasmas comuns. Há redenção pelo amor?

Parece que sim. São dramas sensíveis, elaborados, com personagens muito bem trabalhados em meio ao turbilhão de pessoas que compõem a massa humana. Mari, a principal personagem deste livro, confessa em certo momento:

Eu concordo com você que, durante todo esse tempo, vim construindo pouco a pouco um mundo que eu possa dizer que é meu. Quando estou sozinha dentro dele, sinto-me um pouco melhor. Mas o fato de eu ter de construir esse mundo para mim não seria a prova de que sou uma pessoa vulnerável e que facilmente se machuca? Esse mundo que construí, aos olhos dos outros, é pequeno e insignificante. É como uma casa de papelão, que ao primeiro vento mais forte é jogada para longe…

E o narrador? Que bela imaginação para construir esse narrador, sempre a peça central de um romance. Começa nos guiando com os seus próprios olhos, olhos de Deus, pois criador de sua própria história:

Estamos vendo a imagem da cidade. Ela é captada pelo olhar de um pássaro notívago a sobrevoar bem alto no céu. A cidade, em perspectiva, é um ser vivo gigante; um aglomerado de vidas que se entrelaçam.

Murakami brinca com esse narrador ímpar, que nos inclui:

Infelizmente (devemos admitir), não podemos fazer nada por Eri Asai. É redundante, mas tornamos a repetir que somos apenas um ponto de vista. Em hipótese alguma podemos interferir nessa situação.

E assim vai, em cenas que parecem sonhos nossos mesmos, só que observados por esse olhar de fora, aguçado, capaz de detectar mínimos sinais até o limite que o autor permite. Além disso, cada um com seu próprio filtro, sua subjetividade e interpretação singular.

As histórias ocorrem durante a madrugada de Tóquio, com um relógio marcando a cronologia dos eventos em cada capítulo. A hora da escuridão, que separa o lado de lá do lado de cá, a luz da escuridão. Uma das personagens desabafa:

O chão que pisamos parece ser bem firme, mas uma coisinha de nada é o suficiente pra fazer ele ceder e, de uma hora para outra, caímos lá pra baixo e desaparecemos. E, uma vez que caímos, não podemos mais voltar. Depois disso, só nos resta viver lá embaixo, sozinhos, num mundo de semiescuridão.

O segredo é tentar evitar essa queda. Mas como? Cada um terá que encontrar a própria resposta. Murakami nos leva para profundas reflexões sobre a vida, seu sentido, a força do amor, no caso entre duas irmãs que pareciam definitivamente distantes e perdidas. Um grande livro!

E que venha o terceiro da saga 1Q84, pois depois já tem outro dele na fila, aguardando sua vez…

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]