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A batalha ideológica entre “desenvolvimentistas” e “estabilizadores” (ou ortodoxos) não é de hoje, como lembra o editorial do GLOBO. Vem de longa data, o que é alarmante e assustador, já que os “desenvolvimentistas” nunca aprendem com os erros passados, e sempre voltam a quebrar o país com suas receitas econômicas furadas, tendo que delegar aos “estabilizadores” o trabalho sujo de fazer a limpeza geral da lambança.

É como o “cleaner” do filme “Pulp Fiction”, que precisa vir depois que a turma mafiosa espalhou sangue por todo lado para arrumar a bagunça. O pior é que os ortodoxos ainda ficam com a fama ruim pela crise causada pelos “desenvolvimentistas”, o que talvez explique, além da ignorância econômica da população em geral, a insistência dos eleitores nos mesmos erros do passado. A esquerda faz a cagada e a direita precisa limpar depois.

É nesse contexto que vem o embate entre Joaquim Levy e Nelson Barbosa dentro do governo. Levy chegou como o “mãos de tesoura”, para arrumar a casa, cortar gastos, mas já viu que é batalha perdida enquanto a presidente for Dilma. Afinal, ela tem total afinidade ideológica com a ala “desenvolvimentista”, e foi ela mesma quem ajudou a fazer a sujeirada em primeiro lugar. Levy realmente achou que poderia persuadir Dilma de ser ortodoxa? Como alerta o jornal, o cabo de guerra pende claramente para um lado, e não é o certo:

Emerge do imbróglio criado no envio ao Congresso da proposta orçamentária para 2016, com a previsão de déficit, uma zona mais nítida de tensão entre os ministros da Fazenda e Planejamento, Joaquim Levy e Nelson Barbosa. Do ponto de vista da história republicana brasileira, nenhuma novidade. É antiga esta oscilação entre “desenvolvimentistas” e “estabilizadores”. Ela é observada, por exemplo, em Rui Barbosa (Deodoro) e Joaquim Murtinho (Campos Sales), passa por Delfim, Reis Veloso, Simonsen (Médici, Geisel e Figueiredo), Malan e Serra (FH).

Não por acaso, a predominância de “desenvolvimentistas” num governo chefiado por Dilma Rousseff, com Guido Mantega e o maquiador de estatísticas Arno Augustin, quebrou o país. Entraram para a História. E com Dilma 2, volta a tradicional dualidade nas figuras de Levy e Nelson Barbosa.

Com a diferença que é um agravante: o cabo de guerra se dá no bojo de uma séria crise política, com a credibilidade/popularidade da inquilina do Planalto ao rés do chão.

[…]

Espera-se que o Planalto saiba que Levy continua a ser visto como fiador de alguma sensatez na condução dos ajustes.

Não é desprezível o risco de o Brasil entrar em longo processo de estagnação e até retrocesso. A Argentina, no começo do século passado, já ostentou renda e outros indicadores de país desenvolvido. Hoje é um pária no mundo globalizado.

Ainda há esperança, em alguns, de que o bom senso possa prevalecer, mas considero tal esperança otimista demais. Como disse em minha coluna Lente Liberal da TVeja hoje, o PT é perda total e está destruindo o Brasil, batendo cabeça sem saber o que fazer para nos tirar desse buraco que nos colocou. Levy não só é incapaz de mudar isso sozinho, como parece ter aderido a um modus operandi um tanto petista, propondo ele mesmo mais impostos, o que é uma indecência no Brasil.

Elio Gaspari, em sua coluna de hoje, argumenta que Levy saiu do prazo de garantia, o que tendo a concordar:

O Joaquim Levy “mãos de tesoura” não existe mais. Havia algo de fantasia na figura do banqueiro sorridente e severo que daria um novo rumo ao desastre econômico produzido pela doutora Dilma. Ele parecia o tal porque todo ministro da Fazenda que entra é o imperador Napoleão chegando a Moscou. Quando as coisas dão errado, a menos que vá embora porque não aguenta mais, sai como o general Bonaparte, ferrado, voltando para Paris.

Levy saiu do prazo de garantia. Não é mais o que seria, mas, na verdade, nunca chegou a sê-lo. Resta saber qual o prazo que lhe resta para sair do prazo de validade. Guido Mantega, seu antecessor, nunca teve certificado de garantia ou de validade e tornou-se o primeiro caso de ministro apreendido, publicamente dispensado em setembro para deixar o cargo em janeiro.

Levy sempre foi um estranho no bunker dos comissários. O que ninguém esperava é que fritassem a gestão da economia com episódios vulgares. O senador Renan Calheiros, genericamente abençoado pelo Planalto, propôs cobrar o atendimento no SUS. Dois dias depois, desistiu. O ministro Nelson Barbosa soltou a ideia do retorno da CPMF. Durou dois dias, e o recuo se deu enquanto Levy defendia a medida numa palestra em Campos de Jordão. Nesse episódio encapsula-se algo maior. Faltou alguém que lhe mandasse ao menos um tweet: “Saltamos da CPMF”. Coisas desse tipo só acontecem quando outras coisas já aconteceram. Mandar ao Congresso um Orçamento prevendo um déficit de R$ 30,5 bilhões sem dizer mais nada é uma cenografia irresponsável. O que o governo chama de uma peça realista e transparente significa apenas que parou de mentir.

Já começaram a fritura de Levy, e por saber que isso iria acontecer, fui contra desde o começo sua ida para o governo. Levy apenas emprestava a fama de ortodoxo para um governo “desenvolvimentista”, que poderia, depois, culpar a ortodoxia por suas trapalhadas. É o que está acontecendo. Dilma não mudou. Dilma não vai mudar. Nelson Barbosa é prova disso. A proposta de mais impostos é prova disso. A tentativa de resgatar a CPMF é prova disso.

Acabou o prazo de validade de Levy, e agora parece questão de tempo até ficar insustentável sua permanência no ministério. Na batalha entre “desenvolvimentistas” e “estabilizadores”, perde o povo quando os últimos demoram mais a chegar para limpar as sujeiras dos primeiros. Infelizmente, ainda não temos os “estabilizadores” no comando da economia. Ainda estamos na fase de mais lambanças produzidas pelos “desenvolvimentistas”. Salve-se quem puder!

Rodrigo Constantino

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