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E o apartheid cubano, pode?
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Os ataques por causa do meu texto mostrando o outro lado de Mandela, aquele não tão admirável assim, continuam. Mas, curiosamente, o lado de lá, aquele podre e abjeto, usa o mesmo fato – a grande amizade e admiração de Mandela por ditadores comunistas – para enaltecer o líder sul-africano, agora morto. Foi o caso desse artigo no Huffington Post.

É interessante notar que a admiração mútua não foi algo preso no passado, na época em que Mandela ainda acreditava na luta armada contra o regime do apartheid. Em 1991, quando visitou Cuba, essa proximidade ficou evidente. Foi reverenciado na ilha-presídio caribenha, e teceu elogios ao tirano local. Fidel foi, inclusive, convidado de honra em 1994, quando Mandela se tornou presidente.

“O que Fidel tem feito por nós é difícil de descrever com palavras”, disse Mandela. “Em primeiro lugar, na luta contra o apartheid, ele não hesitou em dar-nos toda a sua ajuda e agora que somos livres, temos muitos médicos cubanos a trabalhar aqui”, completou.

Resta perguntar: e o apartheid cubano? Como nos mostra Humberto Fontova, escritor e dissidente cubano, há um claro apartheid em Cuba existente até hoje. De toda a cúpula do poder, menos de 1% é formada por negros. Já das prisões, algo como 80% é de negros! Isso ninguém fala na imprensa. Por que?

Além disso, existem duas classes de “cidadãos” em Cuba: a daqueles próximos do poder, e a dos súditos sem direitos alguns. O leitor sabia que certas comidas são proibidas para os cubanos comuns? Ou que eles não podem entrar nas melhores praias, como Varadero, reservadas para os turistas?

Nem vou falar da perseguição que os homossexuais e roqueiros sofreram por décadas em Cuba. O próprio neto de Che Guevara teve de fugir, pois guitarra e cabelos longos não eram tolerados na ilha. Che Guevara, aliás, acreditava que gays tinham de ser “curados” em campos de trabalho forçado, e muitos foram parar justamente em locais assim.

Silêncio constrangedor da imprensa. A turma dos direitos humanos não liga para esse apartheid em pleno século 21? É isso que me incomoda: louvemos os méritos de Mandela, pois eles existem. Mas saibamos dosar isso com mais realismo e cautela.

Ninguém que elogia tanto um psicopata como Fidel Castro pode virar santo. Mandela foi muito importante para colocar um fim no nefasto regime de apartheid da África do Sul. Mas quero saber de tantos que estão hoje endeusando o homem: e o apartheid cubano, ainda existente, não será combatido?

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