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“Se Hitler invadisse o inferno eu faria ao menos um comentário favorável ao diabo na Casa dos Comuns”, teria dito jocosamente Winston Churchill, para justificar a aliança tática com Stalin. O inimigo do meu inimigo é meu amigo? Não necessariamente. Mas existem momentos em que os riscos são tão grandes que, de fato, justificam uma aproximação com o “diabo”.

Eduardo Cunha não é santo, e isso todos sabem. Os indignados com o PT e o governo Dilma – uns 70% da população – viram no presidente da Câmara uma chance de apear Dilma do poder. Ninguém virou fã de Cunha da noite para o dia, mas muitos enxergaram nele um aliado do momento. Já os petistas passaram a odiá-lo com todas as suas vísceras, parte do corpo responsável por seu “raciocínio”.

Por que os petistas odeiam tanto Cunha? Não pode ser pela corrupção. Afinal, são petistas. Também não é pelo “conservadorismo”, pois há outros deputados bem mais “reacionários”. O motivo é claro: odeiam Cunha e concentram nele todo o foco de seus ataques pois ele pode abrir um processo de impeachment contra Dilma. Apenas por isso.

Desde o começo, então, Cunha atrai a revolta dos petistas. O deputado tem se feito de vítima e acusado um complô contra ele, envolvendo o Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot. Cunha não combina bem com o papel de pobre vítima de conspiração, papel este que, diga-se de passagem, é o preferido dos próprios petistas. Mas certas coisas acabam por alimentar a tese conspiratória, como destaca Merval Pereira em sua coluna de hoje:

Ao denunciar o presidente da Câmara Eduardo Cunha na primeira leva de acusações, sem que nenhum petista tenha entrado na lista por enquanto, o Procurador-Geral da República Rodrigo Janot deu margem a que Cunha desse curso à sua teoria conspiratória de que o Palácio do Planalto estaria agindo em conluio com o Ministério Público para enfraquecê-lo.

É uma retórica previsível, de fato, e não deve dar-lhe muita sustentação nem provocar comoção entre os deputados, mas é um fôlego desnecessário para quem busca apenas um pretexto para prosseguir no seu projeto de fazer-se de vítima de um governo corrupto.

Por que só Cunha na leva das novas denúncias? Por que isso logo depois de um suspeito jantar envolvendo Janot e Renan Calheiros? Por que Renan, após essa reunião, mudou o tom e lançou a “Agenda Brasil”, saindo de incendiário como Cunha a bombeiro do governo? São perguntas incômodas para todos aqueles que apreciam os valores republicanos, o império das leis, e gostariam de ver todos os corruptos investigados e, eventualmente, punidos.

Desconfianças à parte, resta constatar, uma vez mais, o assombroso duplo padrão moral do PT. O partido não liga e nunca ligou para a ética, para princípios morais universais, pois isso é coisa de “coxinha”, de “burguês”. Para o PT, uma coisa é boa se ajuda a perpetuar a quadrilha no poder, e ruim se a prejudica. Ponto. E é por isso que os brasileiros estão tão cansados do partido de Lula, desse cinismo todo, essa hipocrisia, dessa cara de pau.

Não foi Dilma que, há poucos dias, disse não respeitar delatores? Os petistas não estavam defendendo os seus com base no fato de que eram “apenas” delações? Então por que, agora, a delação de uma pessoa, a única coisa mais concreta que possuem contra Cunha, torna-se de repente a prova mais irrefutável de seus desvios e motivo mais que suficiente para pedirem sua cabeça?

Basta uma rápida reflexão sobre isso para conhecer melhor o PT e seus métodos. Os brasileiros decentes, revoltados com o governo, não morrem de amores por Cunha, e não se importam nem um pouco se ele acabar punido pelas supostas propinas, inclusive recebidas pela igreja, segundo denúncias. Desde que a punição seja “across the board”, geral, para todos aqueles que estiverem sob o mesmo tipo de denúncia.

Há basicamente dois tipos de brasileiros: aqueles que se incomodam com a roubalheira geral e querem instituições republicanas mais avançadas, sólidas e independentes; e aqueles que defendem o PT, e para isso selecionam a dedo quando e como usar tais instituições, que detestariam se fossem de fato republicanas. Esses se entregam quando demonizam Cunha em suas redes sociais, mas não dão um só pio sobre Dirceu, Lula e companhia.

Rodrigo Constantino

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