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Necessidade de autorização prévia do biografado era uma "barbaridade", diz editor da Record
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Carlos Andreazza é o jovem e competente editor da Record, que já fez seu nome no mercado ao ter a coragem de lançar diversos autores liberais ou conservadores em um país dominado pela militância esquerdista. Emplacou alguns incríveis bestsellers no processo, como o livro de Olavo de Carvalho organizado por Felipe Moura Brasil, da VEJA, sobre como não ser um idiota, a biografia de José Dirceu escrita por Otávio Cabral, também da VEJA, e o meu Esquerda Caviar, que já vendeu quase 50 mil exemplares. Também fez barulho com a excelente biografia de Eike Batista escrita por Malu Gaspar, aqui da VEJA. É editor também de craques como Guilherme Fiuza, Merval Pereira e Diogo Mainardi. E acaba de lançar Pare de acreditar no governo, de Bruno Garschagen, que já desponta para um novo bestseller. Ou seja, já tem muitos sucessos na carreira, apesar de ainda ter que envelhecer alguns anos para chegar aos 40. Ele falou com o blog sobre a decisão do STF sobre as biografias não-autorizadas:

O que significou para os editores a decisão do STF nesta quarta?

Não posso responder pelos editores. Para muitos, sem dúvida, terá representado a chance de publicar biografias. Para a Record, porém, e para mim, por consequência, significou uma contundente chancela jurídica à prática corrente há anos na Casa: a de comprar brigas, correr riscos e, sim, publicar importantes biografias e reportagens não autorizadas. É uma questão conceitual, política. Acho que estivemos e estamos na vanguarda disso tudo. Não à toa, em seu voto, o ministro Marco Aurélio citou dois de nossos livros recentes: a biografia de José Dirceu, escrita por Otávio Cabral, e a reportagem de Malu Gaspar sobre o Grupo X de Eike Batista.

Como fica o risco de tentativas veladas de censura, mesmo após essa decisão? Há clareza sobre o que está e o que não está permitido, e se as obras podem ou não ser retiradas de circulação depois?

A única novidade foi a derrubada da necessidade de autorização prévia do biografado ou dos personagens do livro antes da publicação. Uma barbaridade. De resto, felizmente, quem se sentir prejudicado pelo que foi publicado tem – continua tendo – absoluto direito de recorrer à Justiça. É assim que deve ser no mundo civilizado. Tentativa velada de censura não pode intimidar um editor.

A Record já vinha desafiando a censura com biografias como a de José Dirceu, por Otávio Cabral, e de Eike Batista, por Malu Gaspar. A editora pretende modificar sua postura de alguma maneira, tornar-se mais ousada ainda? O que muda para uma editora como a de vocês, que já tinha coragem de remar contra a maré da censura?

Nãp dá para ser mais ousado… Nossa postura é agressiva e assim continuará. Mas com a responsabilidade habitual. Temos uma programação de lançamentos de biografias e reportagens da pesada para os próximos meses – e que seria obedecida ainda que o Supremo tivesse falhado ontem. Creio que estamos na liderança neste segmento e preparados para o assédio de biógrafos antes tímidos pelas restrições e agora interessados em se associar ao trabalho que firmamos. Só hoje eu recebi dezenas de e-mails… É ótimo. Mas talvez agora tenhamos, finalmente, mais concorrência. O que também é ótimo.

A editora teme uma enxurrada de processos de calúnia e difamação como nova estratégia para intimidar os autores, elevando, assim, o custo da publicação?

Não. Processar escritor/editora hoje, mais do que o peso de um processo judicial, traz a carga da imensa reprovação da sociedade. Isso já estava assim antes de o STF se manifestar.

Como conciliar a liberdade de expressão e o direito à privacidade? Você vê o risco de biografias se tornarem cada vez mais fofocas sobre os famosos, em vez de documentos históricos de interesse público? O editor precisa agradar o público, ávido por fofocas, mas ao mesmo tempo ter uma responsabilidade cívica: como conciliar ambos?

O triunfo da liberdade redobra a responsabilidade do editor.

Ns era das redes sociais, há uma tendência de ultra-exposição voluntária das pessoas. Acredita que ainda assim há demanda do público por livros mais densos sobre os famosos?

O que se esgota nas redes sociais não é matéria para livro. A ideia de biografia – ao menos a que me interessa, como leitor e editor – desloca-se do objeto “famoso” para o da “pessoa pública”, aquela cujas ações públicas influenciam a vida das pessoas e, pois, interessam à sociedade.

Nos Estados Unidos, você encontra dezenas de livros sobre presidentes, com um foco bastante imparcial ou mesmo negativo. Obama, por exemplo, é alvo de várias biografias duras. Enxerga um amadurecimento brasileiro para uma biografia totalmente isenta de alguém como o ex-presidente Lula, por exemplo?

A hora de uma biografia sobre o Lula ainda chegará. Está cedo. A abordagem negativa de uma figura pública – de um presidente – não deve ser objetivo ou ponto de partida de um trabalho biográfico etc., mas consequência natural de uma apuração séria.

Quais figuras públicas brasileiras você gostaria de ver biografadas?

São várias, mas não posso revelar. Não quero dar ideia à concorrência.

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