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Escrevi nesta quinta um texto sobre a extrema necessidade de reformas estruturais que reduzam os gastos públicos se quisermos evitar a total tragédia com a Previdência Social, uma espécie de Titanic em direção ao iceberg. É curioso notar duas visões distintas sobre o assunto na página de opinião do GLOBO de hoje.

O economista ligado ao PT, Paulo Nogueira Batista Jr, defende que há uma excessiva “carga negativa” no país hoje, e menciona justamente o pessimismo com as contas públicas. Para ele, que está “horrorizado com o país”, não pelo estrago que o PT causou, mas pela reação das pessoas ao perderem as esperanças, a desvalorização da moeda será uma bênção e só compara o Brasil com a Grécia quem não entende nada, “quem não tem a mais remota ideia do que foi a calamitosa irresponsabilidade dos governos gregos no período que antecedeu à crise internacional de 2008”.

Acho curiosa essa tara que os economistas com viés “desenvolvimentista” têm pela desvalorização cambial, como se uma moeda fraca fosse um bálsamo para a nação, como se pudesse compensar a falta de competitividade sem custos. Foi-se o tempo em que uma moeda forte era sinal de uma economia saudável, ao menos na cabeça desses economistas inflacionistas. Um Kennedy, que lutava por uma moeda “tão forte quanto o ouro”, seria visto como um “neoliberal reacionário” por essa turma.

Mas volto ao assunto previdenciário: ninguém diz que o Brasil já é a Grécia, como Nogueira deveria saber. O que dizem, e com razão, é que se nada sério for feito com urgência poderemos chegar ao trágico destino grego. Eis um fato insofismável: basta ver as contas públicas e extrapolar a tendência atual. Negar isso é mais que um erro; é uma irresponsabilidade total.

O outro artigo, escrito por Cássio Turra, professor da UFGM e presidente da Associação Brasileira de Estudos Populacionais, é bem mais realista e sério do que o de Paulo Nogueira. O professor lamenta que os economistas não tenham incorporado os estudos demográficos antes nas análises, uns 20 anos antes, para evitar uma desgraça anunciada. Diz ele:

Há, pelo menos, 35 anos já sabíamos que o envelhecimento populacional brasileiro era inevitável, que a transição demográfica seria muito rápida. Nos anos 90, quando a Previdência Social se consolidava como a mais importante política de transferência de renda do país, já era fato que seria difícil manter benefícios equivalentes para futuras gerações de idosos se as reformas não fossem feitas.

Sempre houve economistas interessados na agenda de população e desenvolvimento. Mas notamos agora que essa interação não foi suficiente para garantir que temas centrais para o equilíbrio econômico fizessem parte da agenda nacional com a devida antecedência.

[…]

Nos últimos 40 anos, a agenda de população, especialmente nos temas mais relacionados à economia, foi sufocada por problemas conjunturais do país. O adiamento do debate aumentará as chances de agravamento das desigualdades e do surgimento de novos problemas econômicos. A incorporação da pauta dos demógrafos por economistas, pesquisadores de outras áreas, jornalistas e políticos é mais que bem-vinda, urgente.

A mensagem é mais realista. O “bônus demográfico” está se esgotando, a população brasileira está envelhecendo antes de ficar mais rica, e a conta não fecha. O sistema previdenciário é um esquema de pirâmide Ponzi, e as aposentadorias não guardam relação alguma com aquilo que foi individualmente poupado ao longo da vida de trabalho. Há muitos privilégios espalhados por aí, e com a redução da quantidade de entrantes no sistema, ficará inviável pagar a aposentadoria dos que se aposentam.

Trata-se de uma bomba-relógio, de um enorme elefante na sala de porcelanas que os políticos insistem em ignorar. A postura de Pangloss como a de Paulo Nogueira não tem como resolver o problema. Tomar Prozac e enxergar o mundo cor de rosa não vai alterar a dura realidade. Já um Pessimildo sim, pode chamar a atenção para a urgência do problema, de modo a evitar o pior à frente.

Qualquer economista sério e responsável deveria estar batendo nessa tecla de maneira insistente, pois a alternativa é o Brasil quebrar de vez no futuro, um futuro cada vez mais próximo. A Grécia é um caso claro do que pode acontecer com a gente se as reformas estruturais não forem adotadas o mais rápido possível. Quem desqualifica tal alerta como “paranoico” age de forma irresponsável e contra o povo brasileiro, que pagará a conta depois.

Rodrigo Constantino

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