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Temer precisa agir antes que seja tarde, e pressão das ruas pode ajudar
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Duas colunas merecem ser lidas hoje no GLOBO sobre a política brasileira. A primeira delas é de Denis Rosenfield, que fala das manifestações das ruas, no projeto inacabado de reformas e de como Michel Temer ainda precisa entregar mais nessa fase de transição. A segunda é de Paulo Guedes, que vai na mesma linha e alega que o governo precisa aprovar logo as reformas pendentes, antes que seja tarde.

Para Rosenfield, as delações mostram como as maracutaias e esquemas foram longe demais na era lulopetista, com o estado todo sendo assaltado por quadrilhas. Mas, naturalmente, outros partidos de oposição também aproveitaram tanto os recursos das “empresas” corrompidas como o clima de “vale tudo” imoral disseminado pelo próprio governo. Com isso, a questão política virou questão de polícia, e o Congresso perdeu credibilidade.

É nesse contexto delicado que Temer, com sua base colocada em xeque pelas práticas nefastas, precisa agir para aprovar logo as reformas pendentes. Como conciliar, portanto, o clima de revolta e demanda por mais mudanças, com a necessidade de um governo tampão de transição, enfraquecido pelos escândalos, aprová-las? Eis a pergunta que não sai da cabeça dos analistas. Rosenfield argumenta:

Ocorre que a desestruturação política foi de tal porte que produziu um imenso enfraquecimento institucional, que só não foi maior pelo comprometimento com a Justiça, personificado pela Lava Jato. O bem público foi colocado em primeiro lugar. Poderosos, pela primeira vez, foram investigados, condenados e presos. Eis a luz no meio de um cenário sombrio.

O presidente Temer, alçado constitucionalmente à posição de presidente, foi resultado de todo esse descalabro econômico, social, político e institucional. Determinantes foram as manifestações de rua, em particular a de 13 de março do último ano, que deu um não definitivo à ex-presidente Dilma e ao PT, e um sim indireto ao novo mandatário.

Coube a ele empreender a transição, enfrentando uma herança maldita que só aos poucos foi se tornando clara. Medidas urgentes na área econômica foram postas como prioritárias, tendo como resultados a PEC do Gasto Público, o envio da PEC da Previdência, o Projeto de Lei da Modernização da Legislação Trabalhista, a profissionalização da Gestão da Petrobras, a efetiva independência concedida ao Banco Central, tendo se traduzido pela queda da inflação, além de outras medidas igualmente importantes como uma nova Política Externa após o descalabro bolivariano-petista e o PPI (Programa de Parcerias de Investimentos).

Contudo, a sociedade está insatisfeita, e com razão! Exigiu — e continua exigindo — uma nova forma de fazer política, ancorada no princípio da moralidade pública. O “não” dito à ex-presidente Dilma e ao PT não foi um “sim” à permanência das mesmas formas de governar. E neste quesito, o novo governo deixou a desejar.

E é nesse clima que muitos brasileiros poderão voltar às ruas. “A sociedade pode entrar em estado de indignação, traduzindo-se por fortes manifestações de rua”, conclui o professor, separando o joio do trigo, ou seja, aqueles brasileiros que efetivamente querem insistir nas mudanças necessárias daqueles da extrema-esquerda oportunista, circense, que querem apenas usar esse ambiente instável para atacar o governo de transição e enaltecer as velhas raposas petistas, os maiores causadores disso tudo.

Quem fala na volta de Lula é ou palhaço ou cúmplice de quadrilha. Os tais “intelectuais” não passam de uma cambada de safados defendendo interesses particulares contra os nacionais. Mas, como diz Rosenfield, há legitimidade nas manifestações de quem quer continuar com as mudanças que levaram ao impeachment do PT, mas que não podem parar numa “operação abafa” para preservar o PMDB e o PSDB.

Difícil busca de equilíbrio, quando se sabe que é preciso usar esse governo para aprovar logo as reformas necessárias. Eis a mensagem de Paulo Guedes, que lembra de como Temer tem cada vez menos tempo para deixar como legado nessa transição o caminho parcialmente reconstruído para que, em 2018, alguém com uma pauta realmente reformadora possa dar continuidade às mudanças, já sob a batuta de um Congresso renovado pelos votos:

O governo Temer precisa aprovar a reforma da Previdência antes que acabe sua munição. Os principais homens do presidente estão na mira das investigações e caem dos ministérios em constrangedora sequência. Além dos experientes políticos do PMDB, há também importantes apoiadores no PSDB e no DEM entre os alvos das colaborações premiadas. São eminentes articuladores, sobreviventes de uma selva infestada de práticas degeneradas, espécimes aperfeiçoados da Velha Política dos quais depende a eficácia do governo.

Sem essa coluna da reforma previdenciária, desaba o teto de gastos e vem abaixo todo o regime fiscal. A economia voltaria em poucos meses a mergulhar no caos. A perspectiva de controle da expansão dos gastos públicos pela primeira vez em quase 40 anos é a mais importante âncora de um programa anti-inflacionário bem-sucedido e com pouco sacrifício em perda de produção e de empregos. […]

O establishment político está em ruínas. É patético que haja congressistas sonhando com o parlamentarismo quando o Parlamento está em seu pior momento desde a redemocratização. A crise de representatividade se aprofunda. Como o establishment perdeu a decência, será avassaladora a renovação pelas urnas nas eleições de 2018.

A independência do Ministério Público, da Polícia Federal e do Poder Judiciário é a grande novidade de nosso traumático, mas inegável, avanço institucional. A revelação de um sistema político degenerado é um inestimável serviço ao aperfeiçoamento de uma democracia emergente. Mas a tarefa de reconstrução caberá às novas lideranças que emergirão das urnas em 2018. O que esperamos de Temer e seus aliados é que aprovem com urgência as reformas previdenciária e trabalhista, antes que seja tarde, pela eventual interdição de seus articuladores à luz das investigações da Lava-Jato.

Quem está se manifestando, nas ruas ou nas redes sociais, não está pedindo a cabeça de Temer, como querem os velhos esquerdistas que causaram esses problemas todos. Querem a independência dos trabalhos da Operação Lava Jato, a continuidade das reformas, e a punição de quem se lambuzou no poder, independentemente do partido. Isso é necessário para a reconstrução de nossa república, hoje em frangalhos.

Temer conta com o apoio de muita gente para dar prosseguimento às mudanças, mas não para impedi-las. Ninguém lutou tanto para derrubar o PT e simplesmente deixar os velhos caciques fisiológicos no poder, com uma ou outra reforma paliativa. Todos entendem se tratar de um governo de transição, de uma “pinguela”, como disse FHC. Mas insistir com a pressão para mais mudanças, para uma nova forma de se fazer política, pelo fortalecimento de nossas instituições, isso é fundamental para todos os patriotas que sonham com um Brasil mais sério e próspero um dia.

Rodrigo Constantino

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