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O caso da fala com tons homofóbicos de Levi Fidelix: entre a liberdade de expressão e a censura
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Ainda não tinha comentado o “tema da semana”, a desastrosa fala com tons homofóbicos do candidato Levi Fidelix no debate da Record. Mas como sou um liberal sem medo de polêmica, como diz a descrição do blog, vamos lá, tentar acrescentar meus dois cents nessa história.

Em primeiro lugar, sobre a dimensão que o caso tomou. Artur Xexéo, que gostaria de ver Fidelix atrás das grades, acha que isso prova como o debate em si foi fraco e monótono, e por isso “todos” resolveram focar nos comentários do candidato do PRTB. Não concordo. Não que o debate tenha sido quente e empolgante, mas vejo outro motivo para tanta repercussão: as “minorias” controlam boa parte dos meios de comunicação.

Ou seja, o eco dos temas sobre casamento gay, racismo, feminismo e aborto tendem a ganhar pauta desproporcional na imprensa em relação ao que o povo em geral coloca como prioridade. Já comentei sobre isso aqui. O povo brasileiro está focado em corrupção, segurança, redução da maioridade penal, saúde, educação e transporte.

Luciana Genro, a candidata das bandeiras das “minorias”, tem traço nas intenções de voto. Mas quem liga a TV ou abre o jornal poderia jurar que todos só se importam com a homofobia ou o aborto no país. Será que a homofobia de Fidelix é mais relevante para o país do que a bandidagem instalada dentro da Petrobras, a maior empresa do Brasil?

O que me leva ao segundo ponto: Fidelix caiu direitinho na armadilha da filha de Tarso Genro, deixou que ela o pautasse. Sua resposta poderia ter sido bem diferente. Bastava dizer que achava muito estranho uma socialista defensora do modelo cubano se colocando como protetora dos gays, uma vez que todos sabem como Cuba os perseguiu, e Che Guevara, ídolo dessa turma, achava que os homossexuais deveriam ser “curados” em campos de trabalho forçado. Seria um xeque-mate.

Mas provocado, o “conservador” defensor de um estado nacionalista saiu da toca e fez um comentário pra lá de infeliz. Misturou homossexualismo com homofobia, foi grosseiro ao falar que aparelho excretor não reproduz (um fato, mas fora de foco), e radical ao dizer que os gays precisam de tratamento psicológico. Dito isso, a reação, além de desproporcional em minha opinião, como já disse, mostrou-se um tanto autoritária.

É o que argumenta Bernardo Santoro em seu texto no Instituto Liberal, lembrando da velha postura de Volaire sobre defender “até a morte” o direito de o outro dizer o que pensa. Mesmo que seja um néscio proferindo estultices! Aliás, eis o grande teste da liberdade de expressão: aturar idiotices, até mesmo ofensas, pois a alternativa pode ser a pura censura. Escreveu Santoro:

Sem dúvida que o discurso de Levy é ridículo, mas ele pode servir para esclarecer de maneira definitiva para o eleitor quais candidatos estão efetivamente comprometidos com a democracia liberal e quais não estão. Os princípios mais basilares da democracia liberal são a liberdade de expressão e a pluralidade política, e todo candidato que esteja comprometido com uma sociedade livre e plural deve, como diria Voltaire, discordar da ideia de alguém, mas morrer pelo direito do adversário defendê-la. Se deparar com uma ideia contrária, discordar publicamente dela mas garantir ao seu portador o direito de livremente expressá-la é o parâmetro moral mais difícil de ser cumprido numa democracia, e também a mais necessária.

[…]

Em suma, todos se portaram contra o direito de livre-expressão de Levy, e não apenas contra o conteúdo dessa manifestação. E isso é muito grave. É a demonstração definitiva de que todos esses candidatos não pensariam duas vezes em abolir o mais importante direito individual de um cidadão numa democracia com a finalidade de ganhar a eleição. Ver o candidato do PSDB defender a censura é particularmente chocante, dentro de um contexto onde ele é o “campeão” da democracia liberal nessas eleições.

E é isso que se está buscando aqui: a censura do candidato do PRTB.

Claro que a liberdade de expressão não deve ser irrestrita, e que a incitação explícita ao ódio ou à violência poderia ser um caso aceitável de censura, mesmo em uma democracia liberal. Creio que nenhum liberal chegaria ao ponto de defender o direito de um membro da falecida KKK pregar abertamente que negros sejam queimados. Mas não foi o caso, por mais abominável que seja a opinião de Fidelix sobre os gays.

Ele tem o direito de desejá-los longe dele, assim como os gays – e todos os demais, na verdade – têm o mesmo direito de desejar ficar longe de Fidelix, ou de usar a mesma liberdade de expressão para acusá-lo de idiota e preconceituoso.

É assim que deve ser em uma sociedade realmente tolerante. O problema é que hoje os “tolerantes” são os mais intolerantes, e quem não rezar sob a mesma cartilha do politicamente correto merece sofrer ostracismo, ser linchado, preso, banido do mundo. Tudo em nome da tolerância, que não tolera desvios do discurso oficial.

O verdadeiro liberal irá sempre preferir pecar pelo excesso de liberdade de expressão, mesmo que seja preciso conviver com declarações estapafúrdias. Afinal, não toleramos até mesmo a fala de Luciana Genro e Jean Wyllys, de gente que consegue pregar o socialismo em pleno século 21, mesmo depois da morte de cem milhões de inocentes sob tal utopia igualitária?

PS: Como recordar é viver, vejam o que Lula disse sobre Pelotas:

httpv://youtu.be/c_2csPaWL4s

Será que não cabe um repúdio ao ex-presidente, ainda que tardio? Ou vamos adotar o velho duplo padrão de dois pesos e duas medidas?

PS2: A presidente Dilma acha que devemos dialogar até mesmo com terroristas islâmicos que degolam os “infiéis”, mas com Fidelix não há conversa, ele deve ser encarcerado e ponto final? É isso mesmo que a esquerda prega em nome da tolerância e diversidade?

Rodrigo Constantino

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