Os dois principais pilares externos responsáveis pela fase de bonança do Brasil foram: 1) crescimento chinês; 2) custo de capital barato no mundo.
O primeiro fator é óbvio: a China demandou recursos naturais que o Brasil, por sorte do destino, possui em abundância. O segundo é mais indireto: com o custo de capital muito baixo nos países desenvolvidos, os investidores exportaram capital para países mais arriscados, tais como o Brasil, em busca de maiores retornos.
A economia chinesa já dá sinais de desaquecimento, mas ninguém sabe dizer qual será a magnitude da redução. Alguns dados melhores recentes chegaram a animar bastante os investidores. Particularmente, penso que o modelo chinês calcado em pesados investimentos dirigidos se esgotou, e o risco de queda acentuada na taxa de crescimento é elevado.
Já o custo de capital é a outra grande incógnita para os mercados. Dados mais fortes da economia americana colocaram em xeque essa política de afrouxamento monetário do Fed, o banco central americano. Ainda é cedo para afirmar que a recuperação veio para ficar, e que o Fed terá de retirar os estímulos. Mas a taxa de juros dos títulos de dez anos já começaram a abrir, e bem:
É verdade que Ben Bernake é visto como dovish, ou seja, alguém que prefere pecar pelo excesso de estímulo, não de rigor no combate à inflação. Janet Yellen, potencial substituta do atual chairman, é mais dovish ainda, e é difícil imagina-la agindo com muita firmeza.
Mas é preciso lembrar que os Estados Unidos são os Estados Unidos. No passado, quem apostou que os Estados Unidos eram como os países latino-americanos quebrou a cara. Quando foi preciso agir, os banqueiros centrais americanos agiram, mesmo provocando sofrimento no resto do mundo.
Paul Volcker fez isso na década de 1980, e Alan Greenspan na década de 1990. Quando o Fed subiu a taxa de juros para combater a inflação, o México quebrou, depois a Ásia veio na sequência. O efeito dominó ocorre pois esses países costumam ser devedores em dólares. Quando os EUA enxugam a liquidez para conter a alta dos preços, o dólar se fortalece perante as demais moedas e quem deve em dólar fica de joelhos.
Usando uma velha metáfora do mercado, a abundância de liquidez que o Fed produz é como rodadas grátis de bebida na festa, entorpecendo todos, que relaxam seu critério de julgamento e se encantam mais facilmente pelos ativos disponíveis. Quando o Fed enxuga a liquidez, ele retira o ponche da festa, e os eufóricos se deparam com a inevitável ressaca da alegria artificial.
Alguns acham que os países emergentes aguentam o tranco atualmente. Tenho sérias dúvidas. O que não sei é se o Fed agirá logo, se a economia americana realmente retomou um crescimento mais sólido. Mas se ele tiver de agir, acredito que haverá muito ranger de dentes ao redor do mundo. Inclusive por aqui…
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