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Protesto no Rio de Janeiro contra projeto de Eduardo Cunha., em outubro de 2015. | Wladimir Plantonow /Agência Brasil
Protesto no Rio de Janeiro contra projeto de Eduardo Cunha., em outubro de 2015.| Foto: Wladimir Plantonow /Agência Brasil

No legislativo, na internet, nas ruas, na arte e no esporte: 2015 foi um ano de grandes conquistas para as mulheres. Elas estiveram no centro de acontecimentos importantes e protagonizaram movimentos cujo alcance extrapolou os limites do movimento feminista.

Confira alguns fatos marcantes:

Hashtags

A internet se consolidou como terreno fértil para a reflexão e a problematização das pautas feministas e para a criação de campanhas com ampla adesão. Por meio de hashtags, milhares de mulheres verbalizaram todo tipo de assédio e violência que já sofreram em algum momento.

Imagem da campanha Chega de Fiu Fiu, do coletivo Think Olga. Reprodução

Começou com o #agoraéquesãoelas, movimento em que homens simpáticos ao debate cederam seus espaços na mídia para que mulheres publicassem suas ideias. Depois, veio o #meuprimeiroassédio, que reuniu depoimentos sobre as primeiras experiências de mulheres com o assédio – físico, sexual e verbal. A hashtag, replicada mais de 80 mil vezes, provocou revolta ao revelar que a idade média do primeiro assédio é 9 anos.

Por fim, tivemos a #meuamigosecreto, através da qual mulheres denunciaram o comportamento abusivo e violento de homens de convívio próximo – amigos, namorados, chefes, parentes.

A historiadora Máira Nunes, professora da Uninter, observa que o impacto das hashtags é resultado do fortalecimento da militância feminista e de movimentos sociais, que fizeram crescer a visibilidade da luta nas redes sociais.

Especificamente sobre as hashtags, ela destaca que o anonimato foi fundamental para estimular mulheres a participar da mobilização e a denunciar. “Pesquisas indicam que as denúncias aumentaram 40% entre janeiro e outubro de 2015. Isso mostra que, ao escancarar aspectos da violência, a militância permite que essas mulheres percebam que não estão sozinhas, que são vítimas e que têm força para denunciar”, analisa.

Inspiradoras

O site Think Olga selecionou as mulheres mais inspiradoras de 2015 em diversas áreas. Entre as mulheres homenageadas, algumas são paranaenses:

Andressa Cor – Nascida em Curitiba mas residente em Los Angeles, é diretora de fotografia para cinema. Stealth, sua tese de mestrado na área, venceu o Student Emmy e o Student Academy Awards 2015 e ganhou menção honrosa no Festival de Cannes.

Teliana Pereira – A curitibana é a tenista brasileira mais bem-sucedida nas quadras depois de Maria Esther Bueno. Está no top 50 da WTA (Associação de Tênis Feminino).

Carla Clausi – A Major paranaense é a primeira mulher a comandar uma unidade do Exército Brasileiro. Em janeiro, ela assumiu o comando do Hospital da Guarnição de João Pessoa (PB).

Lei do Feminicídio

Sancionada em março de 2015 pela presidente Dilma Rousseff, a lei 13.104/2015 classifica o feminicídio como crime hediondo. Por definição, designa o crime praticado contra a mulher em duas hipóteses: em situações de violência doméstica e familiar e de menosprezo ou discriminação à condição de mulher (discriminação de gênero).

Na justificativa do projeto que resultou na lei, destaca-se que, entre os anos 2000 e 2010, 43,7 mil mulheres foram assassinadas no Brasil. Mais de 40% delas foram mortas dentro de suas casas, muitas pelos companheiros ou ex-companheiros. O Mapa da Violência – Homicídio de Mulheres, divulgado pela ONU Mulheres em novembro, mostrou que em dez anos a incidência desse tipo de crime aumentou 21%.

Para a promotora Mariana Seifert Bazzo, coordenadora do Núcleo de Promoção da Igualdade de Gênero do Ministério Público do Paraná (MP), a importância da lei não se restringe à criação de um novo tipo penal. Vai além disso, pois possibilita uma análise contextual e a identificação de padrões da violência de gênero.

“O mais relevante não é o aumento da pena, mas o filtro que nos permite, em um universo geral de homicídios, identificar aqueles ocasionados por violência de gênero e as similaridades, como requintes de crueldade e motivação relacionada à desobediência. Facilita o conhecimento do fenômeno da violência de gênero e a implementação de políticas públicas”, avalia.

Feminismo popular

O coletivo feministas Think Olga fez um levantamento sobre a tendência dos termos “feminismo” e “empoderamento feminino” na internet. Os resultados mostram que em outubro de 2014 buscou-se a palavra “feminismo” 18.100 vezes; um ano depois, outubro de 2015 registrou 90.500 buscas.

Já o conceito de “empoderamento feminino” era pouco conhecido até o início de 2014. De lá para cá, no entanto, a procura pelo termo cresceu constantemente: o Google registrou um aumento de 354% nas buscas. Em números, até fim de 2014, foram 3.960 buscas; em 2015, até outubro, foram 18 mil.

Cena do filme Que Horas Ela Volta?, da diretora Anna Muylaert. Divulgação

O cinema delas

Apontado pela crítica especializada como uma das obras-primas nacionais da última década, o filme Que horas ela volta?, de Anna Muylaert, causou rebuliço por todas as salas de cinema em que foi projetado. A razão do desconforto é o fato de expor as relações contemporâneas entre classes socioeconômicas distintas no Brasil.

A história coloca em confronto Val, empregada doméstica “quase da família”, ingênua e agradecida, e Jéssica, a filha, desafiadora do status quo e ativa nas decisões que lhe dizem respeito.

Afora o enredo, a produção é representativa: dirigido por uma mulher e protagonizado por mulheres, foi alvo de comentários machistas dos cineastas Lírio Ferreira e Claudio Assis, que durante debate sobre a obra de Muylaert teriam impedido a diretora de falar e causado mal estar no público.

Marta, a artilheira

Em 2015, o país do futebol ganhou um novo goleador. Ou melhor, goleadora. Vestindo a camiseta da seleção brasileira, a jogadora Marta marcou três gols em um amistoso contra Trinidad e Tobago, no dia 9 de dezembro, somando 98 gols pelo Brasil e superando a marca de 95 gols feitos por Pelé, o “Rei”. A “Rainha” tem outras marcas importantes na carreira. Vestindo a camisa 10, é a atleta mais premiada da história do futebol feminino mundial, com cinco troféus de Melhor Jogadora do Mundo.

Todas contra Cunha

Em outubro, um projeto de lei de autoria do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que dificulta o acesso legal ao aborto em caso de estupro foi aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados.

Pela proposta, a mulher vítima de estupro teria de ir diretamente à delegacia registrar boletim de ocorrência e fazer exame de corpo de delito, para só então buscar um hospital e tomar o coquetel de medicamentos que evitam uma gravidez indesejada e a contaminação pelo HIV e outras doenças DSTs.

O texto gerou uma onda de reação convocada e protagonizada por mulheres.

Na avaliação da advogada Xênia Mello, integrante do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Curitiba, a mobilização refletiu, mais do que a insatisfação com o teor da proposta, a inserção da mulher em espaços tipicamente masculinos. “As mulheres têm assumido liderança em espaços que eram de hegemonia masculina, como sindicatos e movimentos de luta pela moradia e trabalhistas.”

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