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Em 1992, durante a campanha à presidência dos Estados Unidos, o consultor político James Carville, assessor do então candidato Bill Clinton, cunhou a hoje famosa expressão "É a economia, burro!". Carville queria mostrar, de uma forma um tanto quanto enfática e grosseira, que a situação econômica é o fator decisivo para que os eleitores escolham um candidato. Se a economia vai bem, não há por que mudar de governante. Caso contrário, o eleitor naturalmente elegerá novos nomes na política.

A frase antológica de Carville bem que poderia ser usada para alertar as autoridades a respeito da miopia com que elas enxergam duas áreas que se tornaram notícia nos últimos dias: as drogas e o desmatamento. Embora sejam assuntos completamente distintos, ambos obedecem a uma lógica econômica que impede que o combate a eles seja eficaz.

Na semana passada, a ONU decidiu não mexer na atual política de combate do problema, focada na repressão à produção, comércio e uso das substâncias ilícitas. A despeito disso, as estatísticas mostram que o narcotráfico não sofreu nenhuma redução nos últimos dez anos. Ou seja, a guerra às drogas está fracassando. E por quê? É a economia! A lei de oferta e procura reza que sempre que houver consumo, haverá oferta. Ainda que para isso o traficante tenha de correr o risco de ser preso. Afinal, o capitalismo não preconiza que o empreendedor tem de correr riscos?

As últimas notícias sobre o desmatamento no Paraná e na Amazônia também revelam que a fiscalização não tem conseguido impedir que as florestas continuem sendo derrubadas. Por quê? É a economia! Para o dono de uma propriedade rural, a mata vale mais derrubada do que em pé e compensa o risco de ser flagrado pelos fiscais.

O combate ao desmatamento e às drogas esbarra justamente nas razões econômicas que motivam esses crimes a serem praticados. Provavelmente porque o enfoque que se dá é quase exclusivamente o de coibir o crime por meio da repressão.

Isso não quer dizer que não deva haver repressão. Ela é importantíssima. Mas insuficiente, pois sempre haverá alguém disposto a correr riscos em nome do lucro. É preciso, portanto, atuar no outro lado do problema, sob o enfoque da economia.

No caso das drogas, se não se consegue impedir a oferta, é necessário investir pesadamente na redução do consumo, por meio de campanhas massivas de conscientização dos riscos dos entorpecentes e da oferta de uma ampla rede de proteção social que impeça os jovens de serem seduzidos pelos entorpecentes. Mas, infelizmente, esse enfoque ainda é tímido em nossas políticas públicas.

Já para conter o desmatamento, há muito se discute a possibilidade de o Estado pagar para que os donos de áreas bem conservadas continuem a preservar a mata. Mas essa discussão nunca sai do lugar.

Enquanto isso, a roda econômica continua a girar e a moer tanto as florestas que restam quanto a vida de milhares de jovens dependentes. Afinal, é a economia!

Fernando Martins é jornalista.

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