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Da produção têxtil chinesa ao despejo de químicos nos oceanos: unir as pontas do processo ajudará a criar o hábito do consumo consciente | Greenpeace/Divulgação
Da produção têxtil chinesa ao despejo de químicos nos oceanos: unir as pontas do processo ajudará a criar o hábito do consumo consciente| Foto: Greenpeace/Divulgação

Ação

Supermercado quer rotular produtos até 2015

Um exemplo de iniciativa que pode apresentar resultados claros a médio prazo, segundo a professora Cassia Ugaya, da UTFPR, é a participação da rede supermercadista norte-americana Walmart no Consórcio de Sustentabilidade. Não só no tocante aos produtos têxteis, a multinacional se comprometeu a investigar a cadeia produtiva de tudo o que é oferecido nas lojas. Vai levar um tempo: a meta é rotular todos os produtos até 2015. A promessa é de que o consumidor encontrará uma forma clara e simples de saber quão "verde" um produto é.

Paralelo à avaliação do ciclo de vida dos produtos que oferece, a rede também afirma que tem encorajado os fornecedores a aplicarem em seus produtos iniciativas sustentáveis relevantes. Um sabão em pedra feito com a reutilização de óleo de cozinha coletado por clientes está à venda, com preço mais baixo que o convencional, e a carne da marca própria da empresa apresenta dados como o nome das fazendas em que os animais foram criados e o frigorífico onde acabaram sendo abatidos. (KB)

Mercado

Aderir antes às exigências será diferencial

Ainda são poucas as indústrias seriamente preocupadas com o impacto que causam. Segundo Paulo Darién, coordenador do Centro de Desenvolvimento da Sustentabilidade do Varejo da Fundação Dom Cabral, isso é justificado pelas empresas com a alegação de que já são obrigadas a cumprir muitas exigências ambientais. "Temos muito que avançar, porque hoje a questão econômica ainda está muito acima da ambiental", avalia. Mas para Darién, as empresas que se atentaram para as possibilidades de tirar proveito do momento terão muitos benefícios. "Chegará o dia em que o uso da água será sobretaxado. Quem estiver preparado, gastando menos, vai sair na frente", analisa. Ele reforça que dá para ganhar dinheiro com ações ambientais mais responsáveis, como a venda de resíduos, por exemplo. Mas o professor também reforça que o comprador precisa tomar atitudes.

Cálculo de impacto

A professora Cassia Ugaya, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), pesquisa o ciclo de vida dos produtos e conta que é procurada frequentemente por empresas interessadas em calcular o impacto ambiental do que fabricam ou revendem. O número de empresas preocupadas ainda é pequeno, reconhece a professora, mas estaria em franco crescimento. Para ela, um dos problemas na relação entre empresas e consumidor é que, a partir do desenvolvimento do processo fabril, houve um distanciamento maior entre o comprador e a origem do produto.

Para Cássia, é possível que empresas e consumidores passem a atentar para todos os impactos ambientais envolvidos no processo produtivo – e assim, evitem itens que não sejam sustentáveis ou fabricados dentro de um modelo que possa ser aceito. Uma mudança cultural leva tempo. Ela cita que, há alguns anos, ninguém se preocupava com o consumo de energia elétrica de uma geladeira, atualmente um fator avaliado no momento da compra.

Contudo, a professora defende que, além dos consumidores finais em pequena escala, governos e organizações que compram em grande escala é que têm mais responsabilidade de mudar o mercado. Os produtos brasileiros poderiam apresentar um diferencial se fossem planejados e executados dentro de uma lógica ambiental mais comprometida. (KB)

O cinto que você está usando agora é produzido com couro de boi criado na Região Amazônica, em uma área em que a floresta foi derrubada para dar lugar a pasto? A resposta afirmativa é provável já que pouco se sabe sobre a origem dos produtos que chegam até o consumidor e os impactos ambientais causados por sua produção. Especia­­listas consultados pela Gazeta do Povo revelam que, enquanto não houver uma rastreabilidade de produtos, danos ambientais desnecessários continuarão acontecendo com o desconhecimento de todos. Tanto o consumidor quanto as indústrias têm a responsabilidade de mudar esse jogo.

O Greenpeace lançou a campanha Detox e, com 55 mil assinaturas de consumidores, conseguiu forçar empresas como Nike, Adidas e Puma a se comprometerem publicamente em investir para garantir menos impacto ambiental na fabricação de seus produtos. A campanha exige principalmente a diminuição no uso de produtos químicos. O modelo de produção têxtil na China – que é responsável por boa parte das roupas vendidas no mundo – foi pesquisado por um ano e revelou o despejo de agentes tóxicos em rios importantes do país. Mas o problema não ficaria restrito à água que cerca os chineses. O relatório Dirty Laundry (lavagem suja, em inglês) mostra que até em ursos polares foram encontradas substâncias utilizadas na fabricação de roupas. Elementos como Alkylphenol e PFCs, que causam problemas no sistema endocrinológico e reprodutor, estariam presentes na água. E seriam essas fábricas poluidoras que abasteceriam as grandes distribuidoras de roupas para o mundo. Para o Green­peace, essas empresas têm força suficiente para pressionar os fabricantes para que diminuam a poluição.

Venda global, produção

Impulsionado pela negociação em escala global e pela terceirização cada vez mais intensa da cadeia produtiva – em que uma empresa compra peças de outra especializada apenas na fabricação de uma parte do produto final, como um botão para uma calça, por exemplo –, é cada vez mais complicado controlar todo o processo e saber quais matérias-primas e meios produtivos foram utilizados pelas fábricas. A indústria têxtil está no foco por vários fatores: é muito poluidora, faz parte da vida de quase toda a população, se aproveita da lógica do mercado globalizado, produzindo bens em um lugar e distribuindo-os para o restante do mundo, e é impulsionada por empresas multinacionais.

Para tentar mostrar que estão mais comprometidas com o que oferecem ao consumidor, 30 gigantes do mercado se uniram no ano passado na chamada Coalizão da Sustentabilidade. Elas estão elaborando o "índice do vestuário sustentável", que leva em consideração, principalmente, o uso racional da água, a energia gasta na produção, a destinação de resíduos, a emissão de gases e a aplicação de elementos químicos e tóxicos. Ainda em fase de desenvolvimento, não há previsão de quando esse indicador será visível na etiqueta das lojas de departamento e shoppings pelo Brasil afora.

Interatividade

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