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Cidades não sabem organizar o crescimento

Alguém sabe dizer onde estão os rios das grandes cidades? Provavelmente estarão canalizados: o cenário é comum em Curitiba e São Paulo, por exemplo. A má gestão dos órgãos públicos – com prefeitos ou governadores que resolveram entubar os rios para que a cidade fosse habitada – acentuou gravemente os problemas de alagamento. "As pessoas têm a falsa impressão de que os rios são ruins, poluídos. Mas pior ainda é a enchente. O Brasil não soube investir em drenagem urbana", afirma o professor Carlos Mello Garcias, engenheiro ambiental da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR).

Canalizar o rio significa dar uma velocidade maior para a água, ou seja, ela chega onde o rio não está fechado com maior velocidade e em menos tempo – é neste local que ele vai transbordar facilmente. "Não é errado um rio extrapolar, pelo contrário, ele normalmente fará isso quando tem uma precipitação grande de chuva. O problema é que as pessoas não respeitam os limites de ocupação e ainda canalizam o rio", explica Garcia.

Curitiba tinha, no ano passado, cerca de 13 mil famílias que moravam na beira do rio: elas não respeitavam a distância mínima estabelecida pelo Código Florestal, que deve ser de 30 a 50 metros do rio para que ele possa transbordar quando necessário. A prefeitura começou um programa para reassentar essas pessoas, mas de 2008 para 2009 apenas 1,1 mil famílias foram atendidas.

Além disso, as prefeituras, de um modo geral, podem ser omissas com as enchentes quando deixam de ofertar à população uma boa coleta de lixo e uma manutenção constante nas bocas-de-lobo (PM).

O mês de setembro marcou a vida de Leidi Quirino Borges, moradora de São José dos Pinhais, região metropolitana. Pela primeira vez, ela viu a água da chuva empoçar no terreno, ficando na altura do joelho. E o problema não ficou apenas do lado de fora. Pelos ralos do banheiro, o esgoto voltou e infestou o ambiente. "Nunca tinha acontecido isso. Falaram que era problema na rede, que não deu conta do volume de esgoto. Mas aqui em casa não tem ligação clandestina", diz.

Leidi não foi a única neste mês que sentiu as complicações da enchente. Somente na segunda-feira, houve na Sanepar 257 reclamações de refluxo do esgoto. O volume de água – que em um dia ultrapassou a média de um mês – assustou a população. Afinal, as cidades estão preparadas para receber tanta água? Certamente não: basta chover para que o caos se instale. Especialistas, no entanto, dizem que seria possível conter as inundações, desde que houvesse uma cooperação mútua entre os órgãos públicos e os moradores.

As pessoas cometem diversos erros, às vezes sem saber, que resultam em uma rua alagada. No caso do refluxo do esgoto, a Sanepar explica que o grande problema são as ligações clandestinas – quando alguém junta, indevidamente, a rede de água pluvial (da chuva) com a de esgoto. O resultado é um volume de água na rede de esgoto muito maior do que o projetado.

Outro vilão para os rios e para as bocas-de-lobo (bueiros) é o resto de areia da construção deixado na frente de casa. "A areia se deposita no fundo dos rios e dos bueiros e começa a entupir. Se a prefeitura não fizer o desassoreamento, formam-se ilhas de areia nos rios que facilitam o transbordamento", explica o diretor do departamento de pontes e drenagens da Secretaria Municipal de Obras, Djalma Mendes dos Santos.

Lixo jogado nas ruas e rios também causa estragos. "Tem gente ainda que é capaz de despejar o óleo de cozinha usado na boca-de-lobo. É claro que ele vai entupir o bueiro. Depois reclamam que a rua ficou alagada. É a mesma coisa que dar um tiro no pé", explica Santos.

Concretar todo o terreno também contribui com as enchentes. A prefeitura exige que 25% do terreno tenha área permeável, ou seja, com grama ou jardim. Depois que as pessoas conseguem o alvará, porém, elas concretam tudo para fazer garagem.

Para o engenheiro ambiental Carlos Mello Garcias, professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), se todas as casas e edifícios tivessem cisterna, as cidades seriam capazes de suportar qualquer volume de água. "É uma pena que a prefeitura ainda não exija as cisternas de todos, apenas das construções maiores", diz. A cisterna é um depósito de água feito no terreno da casa (tipo uma caixa d'água subterrânea) que armazena a água da chuva coletada pelas calhas. Ela ameniza o impacto nas galerias pluviais, pois solta aos poucos o volume de água armazenado.

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