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Contrário às cotas, o historiador e professor da Universidade da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) José Roberto de Góes é critico das cotas sociais e raciais. Em entrevista à Gazeta do Povo, ele defende a melhoria da educação básica para garantir a inclusão social na universidade e diz que estabelecer reserva de vagas pela cor da pele é racismo.

O senhor tem um posicionamento contrário às cotas. Por quê?

As chamadas cotas sociais partem do pressuposto de que uma boa escola não é tão necessária. Mas é. A garotada precisa ter um bom domínio do Português, da Matemática, de Biologia. Ingressar na universidade é fácil, difícil é sair dela qualificado e pronto para enfrentar o mercado de trabalho. Escola faz falta, não adianta tergiversar sobre isso. Em vez de soluções enganosas, o governo e os políticos deviam estar ocupados em levar uma escola de qualidade para todos os brasileiros. Foi assim que a pobreza foi superada nas sociedades prósperas. O Brasil não vai reinventar a roda, não há saída da pobreza senão por uma boa escola. Quanto às cotas raciais, bem, aí estamos diante de um crime que se quer cometer contra a sociedade brasileira. O propósito é dividir os brasileiros entre brancos e negros, criando direitos distintos conforme a cor da pele de cada um. É racismo puro e simples, travestido de boas intenções.

A justificativa para a implantação das cotas por parte de quem as defende é que o país tem uma dívida histórica com os negros. Qual a sua avaliação a respeito dessa afirmação?

Não creio que o Brasil tenha uma dívida histórica com os "negros". Nem sei direito, aliás, o que é "negro". Conheço pessoas de pele preta, morena, branca... A minha é branca. Mas não me vejo como um "branco", mas como um brasileiro. Tem gente que acha que deve cultivar algum tipo de identidade desse tipo, racial – brancos, negros, índios, sei mais lá o que. Tudo bem, cada um sabe de si. O que não é admissível é o Estado obrigar todos os brasileiros a se enquadrarem racialmente. Isso fizeram os Estados Unidos de antes das lutas pelos direitos civis, a África do Sul no tempo do apartheid e a Alemanha nazista. Não é o que queremos para o Brasil. Quanto ao problema da reparação histórica, trata-se de um embuste. Que culpa têm as gerações presentes pelas ignomínias do passado? O que seu filho deve ao filho de outro brasileiro? Só respeito. Essa história no Brasil chega a ser ridícula, pois no passado havia muitos ex-escravos que tornavam-se livres e senhores de escravos. Está em Brás Cubas, de Machado de Assis: o liberto Prudêncio espancava seus escravos à vista de todos, no passeio público.

Os negros realmente estão em desvantagem no nosso país. Diante dessa realidade, a adocão de ações afirmativas não poderia diminuir essa desigualdade?

Segundo o IBGE, quase metade dos brasileiros se diz branca, 40 e tantos por cento se declaram pardos e apenas uns 7% se dizem pretos. Abaixo da linha de pobreza existem, em números absolutos, mais brasileiros de pele branca do que de pele preta. Com tantos pobres, por que privilegiar aqueles de pele preta? E os branquinhos, não merecem igual compaixão? Os negros não estão em desvantagem no Brasil. Os pobres existem, infelizmente, e são de todas as cores.

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