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Habilidade visual se desenvolve nos três primeiros meses de vida. | Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
Habilidade visual se desenvolve nos três primeiros meses de vida.| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

Se os pais pudessem ver o mundo pelos olhos de um recém-nascido certamente se surpreenderiam: embora os bebês enxerguem desde o nascimento, o universo para eles não passa de um borrão. Nas primeiras semanas de vida, a criança ainda não consegue distinguir cores e vê apenas vultos, mesmo assim somente se o rosto ou o objeto estiver bem próximo dela, a cerca de 30 centímetros de distância. Por outro lado, pesquisas mostram que as habilidades visuais se desenvolvem a uma velocidade surpreendente nos primeiros meses, descoberta que pode ter importantes implicações na reabilitação de bebês com alterações no desenvolvimento.

Estudo publicado no fim de setembro na revista norte-americana PLOS Biology investigou a atividade cerebral em bebês com sete semanas de vida. A partir de exames de ressonância magnética funcional, a pesquisadora Maria Concetta Morrone verificou as áreas do cérebro estimuladas quando os recém-nascidos observavam pontos que se mexiam. As imagens revelaram uma maturação precoce inesperada das áreas responsáveis pelo processamento de movimento. De acordo com o estudo, a descoberta lança nova luz sobre a capacidade de o cérebro desenvolver novas conexões sinápticas entre os neurônios a partir de determinados estímulos.

A oftalmologista Luísa Hopker, especialista em Oftalmopediatria e Estrabismo, explica que a pesquisa reforça conclusões semelhantes de outros estudos, que levaram ao desenvolvimento de estratégias de reabilitação para problemas de visão. “Quando a criança tem dificuldades, prescrevemos estimulações visuais para potencializar as sinapses mais precocemente. Quanto mais nova é a criança, maior é a capacidade de desenvolver novas sinapses, maior é a plasticidade neuronal do cérebro”, afirma.

Teste do olhinho

Ex-presidente da Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica, a médica Ana Tereza Ramos Moreira diz que a visão do bebê apresenta um desenvolvimento galopante nos três primeiros meses de vida, com alterações fundamentais para que no futuro ele consiga enxergar do mesmo modo que um adulto. Por esse motivo, o recém-nascido deve fazer o Teste do Olhinho bem cedo, ainda na maternidade. O exame pode indicar risco de doenças como a catarata congênita. “Quando a criança tem catarata, ela deve ser operada até 12.ª semana de vida, justamente para permitir o desenvolvimento adequado da visão”, alerta Ana Tereza.

O exame, realizado por um pediatra, identifica se há opacidade em estruturas do olho que devem ser transparentes, como a córnea e o cristalino. No Paraná, a Lei 14.601, de 28 de dezembro de 2004, estabelece a obrigatoriedade do Teste do Olhinho em todos os recém-nascidos das maternidades do estado.

FASES

Conheça alguns marcos do amadurecimento visual infantil:

Primeiras semanas

Quando o bebê nasce, a visão é embaçada, mas ele distingue luz, movimento e formas, desde que o objeto ou a pessoa esteja a mais ou menos 30 cm dos seus olhos, exatamente a distância do rosto da mãe durante a amamentação. Nessa fase, ele vai conseguir distinguir com mais facilidade cores bem contrastantes, como preto e branco ou preto e amarelo. O alinhamento coordenado dos olhos ainda é difícil e a criança pode apresentar estrabismo.

3 OU 4 MESES

Nessa fase, o estrabismo não é mais comum. O bebê já tem alguma noção de profundidade, que o ajuda a saber se alguma coisa está perto ou longe. Também consegue identificar alguns detalhes. Do primeiro para o quarto mês ocorre um acentuado desenvolvimento visual.

6 meses

Os objetos já estão mais nítidos e o bebê consegue focalizá-los a uma distância maior, a cerca de 50 cm dos seus olhos.

Entre 3 e 5 anos

Com essa idade a criança já enxerga da mesma forma que um adulto.

Fontes: Luísa Hopker, oftalmologista com especialização em Oftalmopediatria e Estrabismo; Ana Tereza Ramos Moreira, oftalmologista, professora da UFPR e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica; e Andrea Zin, oftalmologista pediátrica e integrante da Sociedade Brasileira de Oftalmologia.

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