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Dados divulgados pela ONU mostram que as mulheres conseguiram maior participação no mercado de trabalho na última década, mas  elas continuam sofrendo com a violência dos maridos | Marcello Casal Jr / ABr
Dados divulgados pela ONU mostram que as mulheres conseguiram maior participação no mercado de trabalho na última década, mas elas continuam sofrendo com a violência dos maridos| Foto: Marcello Casal Jr / ABr

Elas morrem mais de doenças do coração

O documento da Organização das Nações Unidas (ONU) aponta que doenças cardiovasculares foram responsáveis por 37% das mortes em mulheres, contra 27% dos homens. De acordo com o estudo, o acesso ao pré-natal se ampliou em todas as regiões do mundo. Na América do Sul, 79% das mulheres grávidas faziam pré-natal em 1996. Entre 2000 e 2008, o índice subiu para 91%. No entanto, a África Subsaariana teve recorde de 270 mil mortes maternas em 2005.

Para a enfermeira membro da Rede Feminista de Saúde, Terezinha Mafioletti, somente a cobertura de pré-natal não é suficiente. "Observamos um incremento, mas não uma melhora na qualidade. Só aumentar o número de consultas não resolve, tem de existir uma rede eficiente no atendimento hospitalar".

As mulheres vivem mais do que os homens em todas as regiões do mundo, cerca de 83 anos para mulheres em países desenvolvidos, contra 78 dos homens. De 1950 para 2005, a expectativa de vida da mulher passou de 48 para 71 anos, na média mundial. O câncer de mama é a doença que mais aumentou entre as mulheres, representando 23% dos novos casos.

No uso de álcool e tabaco, o consumo é maior entre os ho­­mens em todos os países do mundo. No Brasil, mais de 40% das mulheres entre 18 e 29 anos dizem beber frequentemente. Dos 30 aos 49, pouco mais de 30%. Entre os 50 e 65 anos, o índice sobe para quase 50%. O país onde as pessoas mais bebem na América do Sul é a Argentina, onde quase 90% das mulheres entre 18 e 29 dizem consumir álcool. Entre os países da América Latina e Caribe, o Brasil é o segundo com o maior número de mulheres entre 40 e 44 anos que não puderam engravidar, índice de 2,8% contra 3% da República Domini­cana. O uso de contraceptivo na América Latina é próximo da média dos países mais desenvolvidos: 72% das mulheres utilizam qualquer método, contra 28% na África, porcentual que o estudo define como "notavelmente baixo."

Maior participação no mercado de trabalho, acesso crescente à educação superior, cobertura de pré-natal ampliada e melhora na disparidade entre gêneros no Brasil são alguns pontos positivos revelados pelo relatório "As Mulheres do Mundo 2010: Tendências e Estatísticas", divulgado ontem pela Organização das Nações Unidas (ONU). O país, porém, ainda tem uma alta taxa de mulheres sem escolaridade e que sofrem violência doméstica do parceiro.O documento aponta que a população mundial triplicou entre 1950 e 2010, chegando a quase 7 bilhões de pessoas e que existem 57 milhões de homens a mais do que mulheres em todo o mundo. O predomínio do número de homens sobre as mulheres é evidenciado em países mais populosos como a China, onde a proporção de homens é de 108 para cada 100 mulheres. Na Europa a situação é inversa, principalmente no leste, onde são 88 homens para cada 100 mulheres . No Brasil, a taxa é de 97 homens para cada 100 mulheres.

Educação

O estudo destaca que, apesar do crescimento mundial no acesso ao ensino fundamental, existem 774 milhões de analfabetos no mundo. Sendo que dois terços deste total (cerca de 516 milhões) são representados por mulheres. Do total de 72 milhões de crianças em idade escolar fora das salas de aula, 39 milhões (54%) são meninas. O Brasil é um dos países do mundo em que um porcentual alto de mulheres não tem nenhuma escolaridade. A taxa se aproxima de 20%, desempenho pior do que países como Colômbia, China e Peru. A diferença entre gêneros, entretanto, não é tão acentuada. Em Benin, região ocidental da África, 80% das mulheres não são escolarizadas, contra 57% dos homens. As informações são da Agência Brasil.

"Esse índice de pouca escolarização assusta. Acredito que um dos fatores pode ser o fato de, em algumas regiões, a mulher ainda ser vista como a dona de casa e o homem como provedor", diz o presidente do Instituto de Defesa dos Direitos Humanos (IDDEAH), Paulo Pedron. O índice de repetição na educação primária, segundo o documento, é algo "generalizado nos países menos desenvolvidos". O Brasil é o país da América Latina com maior taxa de repetição nesta fase da vida escolar, com 20%, mais elevada do que no Afeganistão (16%), Bangladesh (11%) e Camboja (12%).

Universidade

O acesso ao ensino superior é um "fenômeno mundial", mas há disparidades nas áreas entre os gêneros. As mulheres são pouco representadas em ciência e engenharia, mas permanecem predominantes em áreas como educação, saúde e bem-estar, ciências sociais e artes. Quando as mulheres atuam como professoras, por exemplo, a situação é inversa a dos homens. No Brasil, professoras do ensino primário representam quase 95% dos profissionais. No secundário, 68% e no ensino superior, menos de 50%. A mulher também tem pouca representação política. De acordo com o estudo, em 2009, apenas 14 mulheres no mundo ocupavam posição de chefes de estado.

Trabalho

No mercado de trabalho, a análise do documento da ONU é a de que a participação delas aumentou (é de cerca de 52%) e a disparidade entre gêneros diminuiu, com exceção dos primeiros anos de trabalho. O setor de serviços é o que mais emprega elas na América do Sul (78% dos postos) e o trabalho em um só período aumentou em todos os países e para ambos os sexos. No entanto, o trabalho informal atinge um grande índice de mulheres brasileiras, segundo o estudo, 52% não trabalham formalmente.

Jornada dupla

Apesar dos avanços pontuados pela ONU em relação à participação no mercado, grande parte das mulheres no mundo ainda enfrentam um "segundo turno" de trabalho dentro de casa em todos os países e, de maneira geral, as horas dedicadas por elas para a tarefa é maior do que entre os homens. A América Latina é a região onde as mulheres gastam mais tempo cuidando da casa, quase seis horas por dia, contra pouco mais de 2 horas entre homens. A segunda região onde mais se gasta tempo é a Ásia, com quase cinco horas.

A violência doméstica contra a mulher é outro ponto destacado no estudo como um "fenômeno universal". Entre 1995 e 2006, quase 30% das mulheres brasileiras disseram ter sofrido violência do próprio parceiro. Pedron, do IDDEAH, acredita que o porcentual do Brasil pode indicar que a mulher não esconde mais o problema. "Hoje, o homem que bate em mulher é criminoso e a mulher sabe que tem seus direitos. O que era individualizado passou a ser um problema social e de preocupação para os governos".

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