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Projeto em CMEI de Curitiba distribui bonecas de “todas as cores”. | Antônio More/Gazeta do Povo
Projeto em CMEI de Curitiba distribui bonecas de “todas as cores”.| Foto: Antônio More/Gazeta do Povo

Uma palavra de quatro letras, num recado enviado por uma creche paulista aos pais, causou comoção e quase acabou com a festa prevista para esta quarta-feira (3), ao pedir que as crianças fossem para a comemoração de final de ano com o cabelo LISO para que a apresentação ficasse mais bonita. Qual o problema do pedido? É o estigma social e a busca por um padrão esteticamente aceito. Você conseguiria imaginar um recadinho pedindo que as crianças fossem com o cabelo crespo para deixar a festa mais bonita? A resposta expõe o preconceito.

O caso evidencia que é preciso falar sobre diversidade na rede de ensino. Mais do que isso, pais, professores e demais funcionários do ambiente escolar devem ser orientados e depois orientarem as crianças sobre a necessidade de aceitar as pessoas como elas são. “Deve-se evitar reforçar estereótipos como toda sardenta é bagunceira, por exemplo”, comenta a psicopedagoga Rossana Marinho, especialista em Educação Infantil no Rio de Janeiro.

Creche de São Paulo pede cabelo liso para crianças

Um comunicado causou indignação entre pais e mães de alunos de uma creche municipal de M” Boi Mirim, na zona sul de São Paulo. A mensagem deixada no caderno dos alunos, direcionada aos pais, pede que as meninas estejam de cabelo liso e solto durante a apresentação de fim de ano

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Ela pesquisou como crianças de 7 a 9 anos com baixo rendimento escolar se enxergavam (autoconceito). Frequentemente os alunos reproduziam o que ouviam dos adultos próximos, introspectando que não seriam capazes de vencer barreiras. “O limite era imposto pela fala dos mais próximos. A valorização deles também deve vir da família e da escola”, reforça.

Para a psicopedagoga, nada de muito extraordinário precisa ser feito para transformar essa realidade. “São atitudes simples, mas que de uma certa forma demandam mudar culturas”, diz. Ela salienta que os adultos devem buscar valorizar o que cada um tem de melhor, promovendo a autoaceitação e também o reconhecimento das qualidades individuais pelos colegas. “Deve-se trabalhar na lógica do ‘eu sou diferente”, afinal de contas, todos somos diferentes”, resume. Comparações devem ser evitadas.

Em junho a Gazeta do Povo mostrou o exemplo de uma creche de Curitiba que distribui bonecas de todas as raças e tipos. No Centro Municipal de Educação Infantil (Cmei) Jardim Paraná, os negros não são mencionados apenas no dia da Consciência Negra ou nas comemorações pela Lei Áurea. O trabalho com a diversidade é o ano inteiro, a partir de exemplos que sejam inclusivos. O trabalho começou em 2010, com bonecas de diversas etnias costuradas pela professora Kelly Regina Mayer Boeira Vieira, que trabalha na unidade.

Veja outras dicas de como agir

O site Cacheia, sobre cabelos crespos e cacheados, fez uma lista com dicas de como agir para que as crianças se sintam valorizadas. A primeira é que os pais também mantenham os cabelos ao natural, para não ser incoerente. É porque exemplos são mais importantes do que palavras. Comprar brinquedos que se pareçam com a criança também é simbólico. Até pouco tempo atrás, era mais difícil de achar, mas recentemente algumas empresas têm desenvolvidos produtos mais personalizados. Também estão se tornando mais comuns programas de tevê que enfatizam a diversidade, como Zack e Quack, Milly e Molly e Super Why: a Princesa Ervilha.

Outro cuidado necessário é com o vocabulário. Usar expressões como cabelo “ruim”, “fuá” ou “sarará” não ajuda a fugir de estigmas. Deixar a criança brincar com o próprio cabelo (ou outra característica) como forma de aceitação também é recomendável.

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