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Curitibano tem costumes bem diferentes dos paranaenses que moram no interior |
Curitibano tem costumes bem diferentes dos paranaenses que moram no interior| Foto:

Metade não vai à praia

O litoral paranaense é um mistério para metade da população do interior do Paraná: cerca de 52% destes moradores nunca estiveram nas praias daqui. E os motivos são óbvios, segundo pesquisadores. "Diria que 70% da população de Londrina e Ma­­ringá, quando vai a praia, escolhe Santa Catarina. É um estado de referência para o veraneio. Acredita-se que lá existam mais atrações, ou ainda, porque muitos que vivem no interior cultivam o hábito de sair de férias para um lugar que não tenha tanta gente co­­nhecida. Por isso, fogem para Santa Catarina", diz o sociólogo e pró-reitor da Uni­versidade Estadual de Londrina (UEL), Paulo Bassani.

Para a historiadora Yonissa Wadi, as condições das estradas favorecem o estado vizinho. "O acesso às praias do litoral paranaense é complicado para quem vive em Toledo. Além disso, a distância entre as praias paranaenses e as catarinenses é muito parecida. Como existe um turismo mais forte lá, eles acabam optando pelas praias do vizinho", afirma.

Pelo fato de não conhecerem ou porque vieram apenas uma vez ao litoral do Paraná, os habitantes que vivem no interior costumam dar uma nota maior às praias daqui: numa escala de 0 a 10, votaram em uma média de 7,6. Para quem vive na capital, na região metropolitana e no próprio litoral, a nota do litoral cai para 6,4.

Viagem

Poucos têm hábito de vir para a capital

Oito a cada dez moradores do interior do Paraná não visitaram Curitiba no ano passado. Isso significa, em partes, que estes habitantes têm uma vida independente da capital e costumam recorrer, quando necessário, às cidades mais próximas, mesmo que elas estejam em outro estado.

No Norte Pioneiro, por exemplo, existem mais linhas áreas e de ônibus que levam os moradores a São Paulo do que a Curitiba. "A distância e a falta de infraestrutura das estradas fizeram com que o pessoal do interior buscasse alternativas nas proximidades. Temos alunos com mestrado que nunca foram a Curitiba. Eu por exemplo, sou gaúcha, moro no Paraná há dez anos, mas nunca fui à capital curitibana. Vou sempre a Porto Alegre, onde vivem meus familiares", diz a historiadora historiadora Yonissa Wadi.

Para o sociólogo Paulo Bassani, da Universidade Estadual de Londrina (UEL), Curitiba não é visitada porque não é vista pelo pessoal do interior como local de turismo. "Quem procura a capital, vai em busca de trabalho ou de uma universidade para estudar."

Afinidades

Em comum, o tipo físico e o som sertanejo

Poucas são as características comuns apontadas por quem vive tanto no interior do Paraná como na capital. Mas quando o assunto é trabalho, a pesquisa mostra que a maioria dos entrevistados (90%), de qualquer região do Paraná, diz ser um povo trabalhador. A percepção também é a mesma sobre alguns aspectos físicos: o paranaense acredita ser alto, com cabelos morenos e pele branca.

Qualquer um que nasceu ou vive por aqui elegeria as Cataratas do Iguaçu como o principal ponto turístico do estado e, ainda, o churrasco como o prato típico (apesar de o barreado e o porco no rolete estarem em segundo lugar nos gostos do curitibano e do interiorano, respectivamente).

Já sobre o patriotismo, nota ze­­ro para ambos: poucos sabem o hino do estado do Paraná, ou seja, 70% deles afirmaram não conhecer a canção. Os paranaenses se assemelham ainda no gosto mu­­sical – a maior preferência é a sertaneja – e na escolha das férias. Grande parte diz não viajar, mas, quando viaja, vai para outras cidades localizadas no próprio estado.

Se fosse preciso traçar o perfil do cidadão paranaense, as chances de chegar a um consenso seriam quase zero: enquanto 42% dos curitibanos acompanham o campeonato paranaense de futebol, a ponto de parte da torcida quebrar um estádio inteiro se o time cair para a segunda divisão, os que vivem no interior do estado não estão nem aí para a bola que rola no campeonato daqui – apenas 22% se interessam pela competição. Também é difícil chegar a uma conclusão sobre o prato típico do Paraná: o churrasco, que é popularmente gaúcho, é o mais votado tanto pela população da capital como pela do interior. Mas em segundo lugar, o prato eleito costuma variar conforme a tradição das regiões : 17% da população do interior fica com o porco no rolete, enquanto os curitibanos e os moradores do litoral elegeram o barreado.Não há consenso, ainda, sobre o humor do paranaense: na capital, região metropolitana e litoral, apenas metade da população diz ser extrovertida; no interior o índice chega a 75%. Os dados são resultado de uma pesquisa encomendada pela Gazeta do Povo ao Instituto Paraná Pesquisas.A explicação para opiniões tão diversas está no modo como o Paraná foi colonizado. A historiadora Roseli Boschilia, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), dividiria o estado em pelo menos três territórios distintos que vivem quase que de maneira autônoma, o que quer dizer que todos são paranaenses, mas cultivam um estilo de vida bem diferente. A primeira ocupação é a do Paraná tradicional (Curitiba e litoral): são paulistanos que desceram a região de São Vicente (SP) e passaram a ocupar o primeiro planalto. "Eles trouxeram e cultivaram um tipo de vida por aqui. Depois vem o pessoal do Sul (Rio Grande do Sul) com o caminho das tropas. Eles têm um modo de falar, de se vestir e de se alimentar totalmente diferente dos outros e se estabeleceram na região da Lapa e Campos Gerais", explica Roseli. Uma terceira ocupação acontece por volta dos anos 40 e 50, no Oeste: são os gaúchos que mi­­gram por conta da estrutura fundiária. Há ainda uma quarta ocupação que os historiadores chamam de Norte Pioneiro novo: foi a região "tomada" por fazendeiros de São Paulo. "Até os anos 60, o Paraná não tinha todo o território ocupado. Por isso é difícil criar uma identidade cultural entre um parnanguara e um cidadão que nasceu em Marechal Cândido Rondon. Isso demanda tempo, e nós temos um longo caminho a percorrer", diz Roseli. GastronomiaNo interior do Paraná, por exem­­plo, a historiadora lembra que o barreado já foi imaginado como um prato feito à base de peixe, por ser típico do litoral. "Eles não conhecem mesmo. O processo de identificação está vinculado com as raízes e, no Pa­­raná, são muitos paulistas e gaúchos", diz.

O porco no rolete é um dos pratos mais lembrados na região de Toledo porque foi criado na década de 70 nesta cidade. A festa que homenageia a iguaria , em um único dia, serve 350 porcos inteiros e assados. A fama do porco paranaense já chegou a ganhar destaque na Marquês de Sapucaí, quando a Escola Unidos da Ponte homenageou o Paraná em um dos desfiles de samba do Rio de Janeiro – a escola apresentou o prato toledano em uma das alas.

Já em Curitiba, o Disk Costelas de Ricardo Bortolan é um exemplo de como o churrasco é um prato que concorre fortemente com a tradição do barreado. O costelão funciona a todo vapor a partir de quinta-feira à noite até domingo, vendendo no balcão carnes sob encomenda. "Eu não abro mão do churrasco. É estranho dizer: vamos lá em casa fazer uma festa e comer barreado", explica o produtor de vídeos Marcos Ferreira, cliente do Disk Costelas. Ferreira é paranaense e acredita que o barreado deveria ser o prato típico por causa do regionalismo. Ele não nega, porém, que o churrasco é a preferência geral.

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