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O fotógrafo volta ao Xingu 37 anos depois e encontra os índios usando telefones celulares e tablets. | Ana Ottoni/Folhapress
O fotógrafo volta ao Xingu 37 anos depois e encontra os índios usando telefones celulares e tablets.| Foto: Ana Ottoni/Folhapress

Um príncipe, da linhagem dos imperadores do Brasil, desembarcou no Parque Indígena do Xingu. Dormiu na oca, pintou o corpo e banhou-se no rio. Não, esta história não é uma ficção passada no século 19: aconteceu mês passado. O nobre em questão era João de Orleans e Bragança, trineto de dom Pedro II e bisneto da princesa Isabel. Ele voltava à tribo dos camaiurás 37 anos depois de uma primeira estada entre os índios. Com uma câmera na mão, o herdeiro da família imperial –em tempos republicanos, fotógrafo e empresário – repetia o que fizera anos antes: flagrantes dos indígenas no norte do Mato Grosso. E, aos 61 anos, escrevia mais algumas páginas em seu roteiro de viajante, honrando seus antepassados, que desbravaram florestas, navegaram rios e cruzaram mares.

Sua descoberta do Xingu foi aos 24 anos. Época em que dom Joãozinho, como ficou conhecido quando surfava nas praias cariocas, acompanhou amigos numa pesquisa universitária sobre a arquitetura indígena. Cabia ao príncipe fotografar a incursão, que virou uma reportagem, com imagens e texto dele, na Geográfica Universal. Desde então, quando os irmãos Orlando e Cláudio Villas-Boas ainda eram vivos, o mundo se transformou. Tanto que, ano passado, quando João postou uma das fotos da expedição numa rede social, foi encontrado por um dos índios clicados por ele em 1978.

“Demorei meses para ler a mensagem, porque estava aprendendo a usar a ferramenta. Mas, quando vi, começamos a conversar. E ele me convidou a voltar ao Xingu, para o Quarup [cerimônia de homenagem aos mortos]”, conta João, relatando as diferenças entre a experiência recente e a anterior. “Hoje, os índios têm iPhone e iPad. Quero levar para eles painéis de energia solar. A essência da tribo, que é a valorização das relações humanas e da amizade, no entanto, não mudou”, observa.

A mulher de Joãozinho, a artista plástica Claudia Melli, diz que esse seu jeito o leva a papear com qualquer pessoa, em qualquer lugar, independentemente da língua. É essa curiosidade por conhecer gente, afirma o príncipe, que o torna um “fotógrafo antropológico”.

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