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Lula e o ditador venezuelano, Nicolás Maduro.
Lula e o ditador venezuelano, Nicolás Maduro.| Foto: EFE/ André Coelho

Enquanto Bolsonaro era difamado como uma ameaça à democracia para grande parte da mídia nacional e internacional, Lula era incensado como o democrata que salvaria o Brasil das trevas. O petista, apesar de condenado e preso por corrupção no Brasil num passado bastante recente, viajava o mundo ainda como candidato à Presidência recebido com pompa e circunstância por políticos de países que jamais elegeriam um ex-preso por lavagem de dinheiro para o mais alto cargo político do país, a exemplo de França, Bélgica e Alemanha.

A narrativa funcionou: Lula emplacou a volta à Presidência e hoje viaja o mundo como chefe de Estado. O problema da narrativa, porém, é que ela não resiste aos fatos – sobretudo quando lhes são tão flagrante e abundantemente contrários. A reaproximação do Brasil com a “democracia relativa” da Venezuela de Maduro; a recusa em condenar os crimes de Ortega na Nicarágua; o apoio aos terroristas do Hamas no conflito israelo-palestino, com direito a ser o primeiro presidente da República declarado persona non grata por outro país; e a congratulação a Putin pela sua “reeleição” recente, amplamente contestada e criticada por todas as mais importantes democracias liberais ocidentais, são apenas alguns dos exemplos mais extravagantes de uma política externa baseada em um misto de ideologia anacrônica e ressentimento escancarado.

Não adianta Lula esbravejar e tentar corrigir o rumo no grito em reuniões ministeriais: a queda de sua popularidade está diretamente relacionada com suas ações e vitupérios públicos.

A erosão da historieta petista de que Lula salvaria alguma coisa no Brasil ou representaria a democracia no exterior já está superada. Aqui ou além-fronteiras a narrativa dá, finalmente, lugar aos fatos: estamos nos aliando ao que há de pior em termos institucionais no mundo. No Congresso Nacional, conforme pesquisa do Ranking dos Políticos e divulgada também nesta Gazeta, mais da metade dos senadores e perto desse índice entre os deputados considera ruim ou péssima a política externa do PT. Especificamente sobre a relação de Lula com a ditadura venezuelana, já são três em cada cinco parlamentares que a consideram ruim ou péssima.

Quando cotejados os mandatos de Lula e Bolsonaro, também aí o petista passou a perder a disputa: há mais parlamentares que consideram a política externa de Lula pior do que a de Bolsonaro do que o inverso. Não é pouca coisa: a força da narrativa petista, que contou inclusive com o inestimável apoio da inconstitucional censura do TSE no período eleitoral sobre a amizade do então candidato com ditadores (o que vitimou até mesmo a Gazeta do Povo), hoje está de joelhos diante dos fatos.

Não é à toa, portanto, que Lula passou a tentar reverter sua condição cada vez mais consolidada de pária internacional. Quando a farsesca eleição venezuelana converteu-se na farsa da própria farsa, nem o chanceler Mauro Vieira conseguiu ficar calado. O impedimento feito pelo regime ao registro da candidatura de Corina Yoris, em substituição à também impugnada candidata da oposição, María Corina Machado, mereceu finalmente uma manifestação da diplomacia brasileira, ainda que tímida, em admoestação contra o país vizinho. Para confirmar o engodo, o regime de Maduro acusou o Itamaraty de ter terceirizado a redação da já tardia nota a escribas norte-americanos.

E assim, de impostura em impostura, a verdadeira face da tirania petista emerge. Não adianta Lula esbravejar e tentar corrigir o rumo no grito em reuniões ministeriais: a queda de sua popularidade está diretamente relacionada com suas ações e vitupérios públicos, inclusive (e com especial peso, por ter prometido algo completamente diferente), na arena internacional. Quem vendeu democracia agora entrega tirania, pois não há narrativa linda que consiga subsistir a fatos torpes.

Conteúdo editado por:Jocelaine Santos
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