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Nísia Trindade choro
Nísia Trindade: buááá!| Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil

A notícia é esta: uma mulher chorou. Não uma mulher qualquer; estamos falando da ministra da Saúde, Nísia Trindade. A queridinha da turma que ainda usa máscara e que acha que saúde é uma questão sociológica. O detalhe é que Nísia não chorou porque bateu com o dedinho na quina da mesa. Nada disso. Ela chorou porque teria sido cobrada por um homem: Lula.

Mas o que disse Lula para levar uma socióloga, e ainda por cima do tipo que usa camiseta preta com os dizeres “lute como uma garota”, às lágrimas? Nada de ofensivo. Não desta vez. Lula, interpretando o papel de chefe dessa caquistocracia, apenas pressionou Nísia Trindade, cobrando dela uma atitude mais firme frente ao ministério da Saúde. Inclusive na questão do aborto. (Não que seja do interesse de Lula defender a vida, mas ele sabe que essa causa o faz perder votos).

Reza a lenda ainda que Janja “acolheu o choro” de Nísia – como estava escrito numa manchete por aí. “Acolheu o choro” não faz sentido nenhum, mas tudo bem. Que se dane o idioma pátrio. O importante é pintar a futura presidente Janja como a mulher compassiva, quiçá até oprimida pelo patriarcado. Se bem que o macho nessa história é o Lula, né? Aí complica. Voltemos ao início do parágrafo.

Reza a lenda que Janja “acolheu o choro” de Nísia. Ao ler isso, por algum motivo pensei em andropausa. Será que o SUS oferece tratamento? Aí me levantei, fui dar uma choradinha porque minha mulher me chamou de machista, e voltei a tempo de retomar o fio da meada e, com alguma sorte, me colocar no lugar da ministra. Deve ser mesmo difícil reconhecer que todas aquelas leituras de socióloga, os tratados feministas, os panfletos marxistas e os manuais identitários, não servem para absolutamente nada quando se está diante de Lula, o incontestável.

Farsa utópica

Mas bem sei que não foi um choro epifânico, como se Nísia Trindade de repente percebesse toda a hipocrisia que a rodeia. Infelizmente. Tampouco foi um choro de arrependimento por fazer parte de um governo de vingança e interesses pequenos e mesquinhos. Nem foi um choro de quem se dá conta de quem está disposta a servir a um ego chamado Lula. Infelizmente, mil vezes infelizmente, sou obrigado a dar ouvido ao meu lado cínico e dizer que foi um choro publicitário.

Por falar em publicidade, o outro lado desta disputa, que por sinal é o meu lado e o lado da maioria dos meus leitores, está usando as lágrimas, supostas lágrimas, de Nísia Trindade para apontar a hipocrisia óbvia que serve de combustível para o petismo. Fala-se em machismo e até em assédio moral. E tudo bem. A gente entende. É do jogo. Mais do que isso, é um jeito de tirar proveito da situação constrangedora. De esfregar na cara do outro: você não tem vergonha de fazer parte desse grupelho, não?

Antigamente, eu gastaria os dois parágrafos que me restam para criticar esse pragmatismo todo e perguntar: adianta? Por acaso você acha mesmo que alguém vai deixar de ser petista ou de gritar “Viva o SUS!” ou de beijar o chão onde Lula pisa porque ele foi machista e fez a ministra chorar? O que é só mais uma forma de perguntar: você acha realmente que algum esquerdista está preocupado com a saúde mental feminina, a dengue e os ianomami?

Hoje, no entanto, deixarei essas perguntas para lá e usarei o exíguo espaço que me resta para dizer que Nísia Trindade não chorou porque se sabe incompetente. Não. Ela não chorou de arrependimento. Não. Nem de solidariedade pelas vítimas da dengue ou pelos ianomami. Não. O choro de Nísia foi, isso sim, a expressão semi-sincera (com um toque de marketing) de uma frustração particular: a de não ganhar estrelinhas do líder máximo. Ou melhor, a de decepcionar o pai simbólico dessa farsa utópica chamada petismo.

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