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Mesmo que o governo gaste o R$ 1,2 bilhão previsto para os lei­­lões, favorecendo o es­­­coamento de 11 milhões de toneladas, pode continuar sobrando milho no mercado. Só Mato Grosso e Paraná, os dois principais produtores, têm 19 milhões de toneladas pa­­ra vender, 73% a mais do que o volume subsidiado. Será preciso operar no livre mercado e torcer pa­­ra que haja demanda internacional.

O Paraná ainda não vendeu 10% da primeira safra nem 5% da segunda, do ciclo 2008/09. Faltam ainda 50% da primeira safra 2009/10, conforme o Departa­mento de Economia Rural (Deral). Com a colheita que está começando (safrinha), estimada em 5,6 milhões de toneladas pela Expe­dição Safra RPC, os produtores terão 10 milhões de toneladas para escoar dentro de dois meses. Em Mato Grosso, nas contas da Asso­ciação de Produtores de Soja e Millho (Aprosoja), a oferta é de 9 milhões de toneladas no final deste ciclo (safrinha e safra normal).

Com as compras dos últimos dois anos, a Conab tem 5,5 milhões de toneladas em estoque. Nesta safra, não cogita novas operações de Aquisição do Governo Federal (AGF). Deve atuar basicamente através de Prêmio para o Escoamento do Produto (PEP), sistema que não infla seus próprios estoques.

Mesmo diante de tamanha oferta, os leilões "com certeza vão ter impacto nos preços", avalia Eugênio Stefanelo, técnico da Conab. Ele afirma que, nesta primeira rodada, os prêmios podem ser considerados baixos, mas já viabilizam a exportação do cereal a partir de regiões como Ponta Grossa, que tem armazéns a 200 quilômetros do Porto de Paranguá. A elevação de 2% nos preços no estado na última semana é apontada como reflexo da notícia do leilão desta semana.

Em Mato Grosso, o efeito também pode ser pontual. A soma dos prêmios com as cotações praticadas localmente só atingem o preço mínimo, que é de R$ 13,98 no estado (ante R$ 17,46 nos demais estados que participam dos leilões), em uma de suas seis regiões, a Nor­deste, conforme a Aprosoja.

A expectativa é que, esvaziando os armazéns de uma ou outra região, haja alívio para as demais. Com o escoamento do milho de Mato Grosso, a pressão da oferta tende a ser menor no Paraná. No en­­­tanto, os leilões por si só têm im­­pacto relativo nos preços, in­­fluenciados também pelas cotações internacionais, por exemplo. "Não dá para considerar um só fator. A situação do milho no mercado internacional está folgada", frisa a economista Gilda Bozza, da Federação da Agricultura do Paraná (Faep).

Mato Grosso deve receber os maiores prêmios – de R$ 2,64 a 6,84 por saca. No Paraná, vigora o valor de R$ 2,52 por saca para todas as regiões. Na safra 2008/09, o estado do Centro-Oeste vendeu mais de 85% da produção de milho com apoio do governo, considerando todos os programas (AGF, PEP e Pepro). Já o índice paranaense ficou abaixo de 5%. O mercado chegava a ofertar R$ 6 pela saca de milho em Mato Grosso, metade do que os produtores paranaenses recebiam no ciclo passado.

Estoque global limita exportação

O aumento da produção de milho em âmbito mundial dificulta os planos do Brasil de exportar volume próximo de 10 milhões de toneladas neste ano. O estoque final global subiu 17% entre 2007 e 2009, chegando a 154 milhões de toneladas, o que significa que o volume colhido tem ficado repetidamente acima do consumo.

Existe milho armazenado para cerca de dez semanas de consumo, uma semana a mais do que havia três safras atrás, conforme os números do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, o USDA.

Com estoques para oito semanas, os EUA estão ampliando a produção ante o contínuo aumento do consumo interno para fabricação de etanol. Líderes no cereal, eles produzem mais de 330 milhões de toneladas por safra, duas vezes o estoque internacional, para um consumo interno de 287 milhões. Assim, com as sobras, elevaram as exportações para 50 milhões de toneladas, o que equivale a quase um ano de produção do Brasil.

Com produtividade oscilante, a Argentina recuperou produção e estoque no último ano. Apesar de produzir pouco mais de 20 milhões de toneladas por safra, deve exportar 12 milhões neste ano. Ou seja, produz menos da metade do que o Brasil e vende 20% mais ao exterior, situação garantida pela competitividade dos campos e da infraestrutura de escoamento.

"Estamos achando um novo patamar de produção de milho no Brasil", analisa Sílvio Farnese, coordenador da Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura. Ele afirma que a produção, elevada por conta da adoção de tecnologias mais eficientes e da ampliação da área cultivada, tende a ganhar competitividade com obras como a pavimentação da BR-163, que está em curso e promete baratear a exportação de milho de Mato Grosso pelas regiões Norte e Nordeste.

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