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Mesmo com as crescentes restrições à compra de terras por estrangeiros, o Brasil segue representando peça-chave para a ampliação dos negócios de empresas agropecuárias da Argentina. No rastro de multinacionais como Los Grobo e El Tejar, que diluem riscos e multiplicam seu faturamento cultivando grãos nos países vizinhos, o Grupo Gaviglio quer ampliar sua movimentação de 400 mil para 1 milhão de toneladas de grãos expandindo sua atuação e entrando em território brasileiro.

A Expedição Safra Gazeta do Povo entrevistou os diretores do grupo numa de suas fazendas em Clucellas, pronvíncia de Santa Fé, a 530 quilômetros de Buenos Aires. Eles disseram que buscam no Brasil a estabilidade econômica e a coerência na política agrícola que não encontram em "casa". Neste ano, procuram uma forma de se estruturar no país com aquisições de terras ou parcerias com produtores e empresas.

O Gaviglio vem atuando por meio de duas empresas na Argentina: a Cuatro Lunas, dedicada a atividades agropecuárias em áreas próprias e arrendadas, e a Gaviglio Comercial, que administra a compra de insumos e a venda da produção. A área de atividade abrange 22 mil hectares para agricultura e 17 mil para criação de gado – 20 mil próprios e o restante arrendado. Mas o alcance do braço comercial vai além dessas terras.

Do total de 400 mil toneladas de grãos movimentadas anualmente, apenas entre 15% e 20% são originadas em áreas próprias. Para chegar a 1 milhão de toneladas, será necessário crescer na Argentina e passar a atuar no Brasil, afirma Analía Gaviglio, diretora da Gaviglio Comercial. "Deixamos de ser uma empresa exclusivamente familiar para atuar de forma competitiva com participação de gestores externos. Isso é que permite esse salto", argumenta.

O encarregado de traçar as estratégias do grupo, José Bonansea, toma como referência empresas que, além de atuarem na produção, se especializaram na comercialização de grãos e insumos e na prestação de serviços financeiros. Ele redesenha o grupo buscando diferenciais ante a concorrência.

"Na Argentina, nosso diferencial é estar mais perto dos produtores do que dos terminais de embarque portuários como a maioria das empresas de logística e comercialização", cita. A área de atuação do Gaviglio se estende a um raio de aproximadamente 50 quilômetros de suas fazendas. Elas ficam a 250 quilômetros de Rosário, região que embarca 80% da soja e do milho produzidos na Argentina.

Para competir com gigantes do setor, o grupo tenta gerar volume de grãos cada vez maior, ganhando força de barganha, e se obriga a oferecer mais agilidade no transporte dos produtos agrícolas que o mercado. A capacidade de armazenagem ainda é pequena para o volume de grãos movimentados: 80 mil toneladas.

Uma forma de ampliar a atuação seria arrendando mais terras na própria Argentina. No entanto, a instabilidade das políticas nacionais faz com que a atuação no Brasil se torne cada vez mais atraente, afirma Horacio Gaviglio, gerente da Cuatro Lunas. "Nossas leis de arrendamento estão mudando à revelia. A impressão que temos é que as decisões de governo são tomadas com tal improviso que geram o caos", reclama.

As multinacionais agropecuárias de origem argentina consideram que o Brasil tem 30 milhões de hectares para expandir sua produção de grãos nos próximos anos – área maior que toda a extensão dedicada atualmente à soja (24 milhões de hectares). As terras cultivadas no Brasil pelos grupos argentinos El Tejar, em Mato Grosso, e Los Grobo, concentrado no Nordeste, somam 240 mil hectares, correspondentes a 1% dos campos cobertos pela oleaginosa, principal cultivo brasileiro. Nessa área, as duas empresas colhem no Brasil mais de 2 milhões de toneladas de grãos por ano.

Seguradora sonda mercado do PR

O grupo argentino Sancor Seguros, que vem sondando o mercado brasileiro desde o ano passado com um escritório em Campinas (SP), decidiu se instalar em Curitiba ainda neste semestre para expandir seus negócios no Brasil a partir dos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A empresa, que funciona como uma cooperativa, chegou há seis anos ao Uruguai e há quatro anos à Bolívia e ao Paraguai, onde é líder em seguros agrícolas.

O mercado de seguro agrícola será o foco da Sancor também no Brasil. Os investimentos totais ainda não foram definidos. Num primeiro momento, a empresa vai buscar parcerias com organizações ligadas ao agronegócio, para em seguida buscar espaço no setor de garantia à produção. Para a cooperativa, o país tem um amplo mercado a ser explorado. A Sancor considera que, na Argentina, perto de 55% da área de produção de grãos é assegurada enquanto, nas lavouras brasileiras, esse porcentual não chega a 15%.

Com faturamento de US$ 1 bilhão em 2010, a empresa alcançou a liderança na Argentina vendendo principalmente contratos de seguro agrícola contra granizo. No Brasil, deverá oferecer cobertura também a riscos como seca, inundação e geada, como fazem as seguradoras que já operam no país. O presidente do grupo, Raúl Colombetti, avalia que nem todos os riscos têm cobertura viável do ponto de vista das seguradoras, mas considera que uma parcela maior que a atual das plantações brasileiras pode ser garantida.

A empresa tentará se habilitar junto ao programa nacional de subvenção ao seguro agrícola, que custeia até 70% do prêmio ao produtor, no caso do trigo. O risco de corte na subvenção – de R$ 400 milhões para R$ 200 milhões – não vai afetar os planos da Sancor, afirma o gerente de Seguros Agro­pecuários, Carlos Hoffmann. O seguro tende a ser adotado como uma ferramenta da política agrícola, defende o operador de Seguros Agropecuários Andrés Martino.

Em Sunchales, na província argentina de Santa Fé, a Sancor inaugura nesta semana nova sede com área de 16 mil metros quadrados e investimento de US$ 33 milhões. Conforme os diretores da cooperativa, 600 pessoas vão trabalhar no local. Entre os dias 4 e 9 de abril, os executivos vão percorrer o Paraná para conhecer melhor a estrutura das cooperativas e das unidades de produção do estado.

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