Os brasileiros são maioria entre os sojeiros do Paraguai, mas não estão sozinhos. Há produtores descendentes de holandeses, russos e japoneses. Eles atuam em cooperativas que, num ano de safra duas vezes maior que a capacidade dos armazéns, retomam projetos para consolidar sua atuação. No departamento de Alto Paraná, a colônia de japoneses Yguazú, formada há exatos 50 anos, supera um período de estagnação ampliando as atividades de sua cooperativa.

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As quebras de safra são mais comuns no Paraguai que nos países vizinhos. O quadro estagnou a área de produção da cooperativa Yguazú nos últimos quatro anos, conta o gerente geral, Ikusaburo Miura. A partir desta temporada, porém, a empresa deve ampliar a recepção de grãos de 43 mil para 50 mil toneladas e reavaliar a viabilidade de projetos de agroindustrialização.

Atualmente, a cooperativa atua na produção de leite, tem supermercado, moinho de trigo e testa cultivos alternativos como o de nozes de macadâmia. Por outro lado, a soja, que cobre 16,3 mil hectares de 60 sócios, é vendida em grão para tradings como ADM, Bunge, Cargill e Dreyfus.

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Cultivo

Se depender do ânimo dos associados, a área de atuação vai finalmente voltar a crescer. Único paraguaio entre os sócios da cooperativa japonesa, Atílio Gómez, programa ampliar a lavoura em 25% para ganhar "escala e viabilidade". Ele cultiva 400 hectares de soja e alcança, nesta temporada, média de 3,6 mil quilos/ha.

Ex-professor universitário de matemática, deixou Assunção para trabalhar na agricultura. Sua esposa, Fumie Kubota, era funcionária do Banco Central do Paraguai. Ao avaliarem os cálculos referentes aos últimos dois anos, dizem que a mudança para o meio rural valeu ao pena. A opção foi feita após a morte do pai de Fumie, proprietário da área. Pela alegria que os filhos do casal Hiroshi, 5 anos, e Masashi, 3 anos, demonstram na relação com o campo, o sítio deve continuar nas mãos da família.

A expansão da produção não está ocorrendo de forma mais rápida porque as terras se valorizaram demais, relata Gómez. Ele estima que vai precisar de ao menos R$ 10 mil por hectare extra. Nessa hora, sente falta de programas oficiais de financiamento. No custeio da produção, as cooperativas ajudam, mas para projetos de longo prazo, que exigem volume maior de recursos, não há fôlego suficiente, relata.

Proprietários no Brasil e arrendatários no ParaguaiArno e Jean Rauber – pai e filho – são sócios de uma área de mais de 1 mil hectares no Nordeste do Brasil, mas atuam como arrendatários no Paraguai. Recebem renda nas terras brasileiras e pagam arrendamento no país vizinho. Além da maior proximidade entre Nueva Espe­ranza, onde cultivam soja, e Missal, no Paraná, onde moram, relatam que a opção é economicamente vantajosa.

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O aluguel que eles pagam é de 30 sacas de soja por hectare ao ano ou de 30% da produção, próximo do praticado no Paraná. Atuam com dois tipos de contratos, garantindo certa segurança em caso de quebra. "No Cerrado brasileiro é necessário construir o solo. Aqui no Paraguai tem áreas que não precisam nem de calcário e exigem metade do volume de adubo", relata Jean.

Eles arrendam áreas de brasileiros que decidiram voltar para o Brasil por se sentirem inseguros no Paraguai, após ameaças de invasões e relatos de perseguição. "Tivemos sorte. Em nosso caso, não podemos reclamar. Me sinto como se estivesse no Brasil", afirma Arno. Suas primeiras incursões no território paraguaio foram há 17 anos.

Nesta safra, Arno e Jean colhem média de 3,5 mil quilos/ha de soja numa área de 2 mil hectares (90% arrendados), apesar de as plantações terem atravessado dois períodos de estiagem com até 20 dias de sol. Mesmo assim, a lucratividade pode passar de 20% da arrecadação, relatam.