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Fungicidas que controlavam 90% dos fungos causadores da doença tiveram sua eficiência reduzida para menos da metade. | Albari Rosa / Gazeta Do Povo
Fungicidas que controlavam 90% dos fungos causadores da doença tiveram sua eficiência reduzida para menos da metade.| Foto: Albari Rosa / Gazeta Do Povo

Terror dos sojicultores no início do século, a ferrugem asiática pode ressurgir como uma ameaça grave às lavouras brasileiras nos próximos anos. Estudos conduzidos pelo consórcio nacional de combate à doença comprovaram cientificamente que o fungo Phakopsora pachyrhizi está se tornando resistente aos principais químicos utilizados no seu controle. Sem a perspectiva de entrada de novas moléculas de fungicidas no mercado, especialistas alertam que é preciso revisar os protocolos de manejo para que a doença não fique sem controle.

O problema é monitorado no campo desde 2004, em lavouras experimentais espalhadas por todo o país. “Percebemos que os produtos vêm perdendo eficiência porque o fungo [causador da ferrugem] está ficando menos sensível aos defensivos”, aponta a pesquisadora da Embrapa Soja, Cláudia Godoy.

A especialista explica que os fungicidas utilizados para controlar a ferrugem se concentram em três modos de ação: triazóis, estrobilurinas e carboxamidas. O aumento no número de aplicações anuais e a longa janela de cultivo favoreceram a seleção natural de fungos mais resistentes ao trio, aponta. “Moléculas que controlavam até 90% dos fungos causadores da doença tiveram a eficiência reduzida para um intervalo entre 20% e 40%”, detalha.

A resistência já era esperada pelos técnicos, mas preocupa pela rapidez com que aconteceu. “Isso ocorreu com outras doenças fúngicas. O problema é que há casos extremos de até dez aplicações do produto na mesma área, indicando que houve erro no manejo da ferrugem”, salienta o agrônomo e professor da Universidade de Passo Fundo (UPF), no Rio Grande do Sul, Erlei Reis. Como não há previsão de entrada de novos químicos no mercado brasileiro no curto prazo, o quadro pode se agravar. “O que preocupa é a possibilidade resistência múltipla, que poderia nos deixar sem nenhum químico disponível para fazer o controle”, complementa.

Mobilização

O quadro mobiliza entidades como a Associação Paranaense dos Produtores de Sementes e Mudas (Apasem) e a Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja). “Além do excesso de aplicações há um agravante que é a falta de rotação de culturas. Estamos cobrando ações por parte das autoridades”, indica o diretor executivo da Apasem, Eugênio Bohatch. A Aprosoja faz análise semelhante e organiza uma campanha educativa pedindo que também haja a alternância no uso de fungicidas, explica o diretor-técnico da entidade, Luiz Nery Ribas.

Na análise do Consórcio Antiferrugem da Embrapa, outra ação que pode ser executada é uma mudança na janela de plantio e/ou ampliação no período do vazio sanitário, quando o cultivo de soja fica proibido. A prática já ocorre em alguns estados brasileiros (leia mais ao lado), principalmente na região Centro-Oeste. “A tendência é que o problema se agrave, já que em apenas dois anos o fungicida pode perder totalmente sua eficiência. Com ações adequadas pode-se ganhar tempo para buscar outros modos de ação para combater a doença”, aponta Godoy.

Vazio sanitário ‘força’ colheita de soja safrinha no ParanáCom área 21% maior neste ciclo, ocupando 132 mil hectares, o Paraná encerrou a colheita de soja safrinha “à força” na semana passada. A ação ocorreu em virtude do início do período de vigência do vazio sanitário, que começou no dia 15 de junho e segue até 15 de setembro. Neste período todas as plantas vivas de soja precisam ser erradicadas no estado, sob risco de autuação e multa por parte da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar), da Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimento (Seab).

A restrição paranaense entra em vigor mais tarde do que em outros estados, que readequaram as políticas de sanidade neste ano após a expansão da soja safrinha na última temporada. É o caso de Mato Grosso, que está com o vazio sanitário vigente desde o dia 1º de maio. A prática foi incorporada inicialmente para evitar a propagação da ferrugem asiática, evitando a ocorrência da ponte verde, quando plantas guaxas (involuntárias) viram hospedeiras do fungo causador da doença entre as safras. O aparecimento de novas pragas como a lagarta Helicoverpa armigera reforçou a necessidade de adequações, resultando no aumento da janela de restrição.

No Paraná, algumas entidades propõem aplicação de calendários distintos de vazio sanitário para cada região do estado.

138 diasé quanto dura o período do vazio sanitário em Mato Grosso. No maior produtor de soja do Brasil, o intervalo que proibe o plantio da oleaginosa vai do dia 1º de maio até o dia 15 de setembro. No Paraná, segundo no ranking nacional do grão, o vazio sanitário é de 92 dias, do dia 15 de junho até o dia 15 de setembro. A grande diferença entre os dois estados tem gerado debates entre as entidades paranaenses, que pedem a revisão do calendário estadual para a soja safrinha já na próxima temporada.

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