O filtro de luz especial atenua majoritariamente a cor verde das folhas, levando a percepção de contraste pelo olho humano a ser ainda maior.| Foto: Divulgação/Embrapa

De veículos que “se dirigem sozinhos” a drones voando de uma porteira a outra, cada vez mais a agricultura apresenta técnicas e aparência de filme de ficção científica. A novidade agora para os produtores de frutas cítricas, como limão e laranja, é um par de óculos futurista, com lentes revestidas por um filtro especial e que ajuda a detectar os sintomas do huanglongbing (HLB), também conhecido como greening.

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O instrumento pioneiro, que já está disponível no mercado, permite ao usuário enxergar o principal traço da doença, conhecido como mosqueamento das folhas ou amarelecimento, porque intensifica o contraste entre as cores verde e amarela, características da praga.

Os óculos para auxiliar a inspeção visual do greening na citricultura facilitam o trabalho dos inspetores, reduzem a taxa de erros na identificação da doença e trazem proteção visual ao usuário. Embora muitas técnicas estejam sendo desenvolvidas para melhorar a identificação de plantas infectadas, até o momento não há conhecimento de nenhum dispositivo para aplicação em inspeção visual do greening em campo.

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Pelo método tradicional, o greening, pior doença da citricultura dos últimos tempos, pode ser identificado por meio de inspeção visual por profissionais treinados, mas com altas taxas de falhas. Acredita-se que metade das plantas sintomáticas seja mantida em campo por erros na inspeção, o que permite a proliferação da doença entre as árvores saudáveis.

Laranja com greening: frutos são pequenos e deformados. 

Desenvolvidos pela Embrapa Instrumentação e Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), os Óculos de Inspeção de Greening na Citricultura serão apresentados na 24ª Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação (Agrishow), que ocorre de 1º a 5 de maio, em Ribeirão Preto (SP). Da pesquisa ao mercado, foram três anos de trabalho.

A tecnologia, já patenteada, está disponível na Fhocus Optical Solutions, empresa licenciada para fabricação e comercialização dos óculos. De acordo com o diretor de Marketing da Fhocus, Clédio Romero Rodriguez, o custo unitário dos óculos está estimado em torno de R$ 200,00, mas deve ser reduzido em função da quantidade adquirida. Acima de 100 peças, a empresa calcula que o valor possa cair para, aproximadamente, R$ 170,00 a unidade.

Como funciona

O trabalho é resultado da dissertação de mestrado do estudante Luiz Otávio dos Santos Arantes, da UFSCar, com o apoio do professor Nilton Luiz Menegon e da pesquisadora da Embrapa Instrumentação, Débora Milori.

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Débora explica que o filtro de luz especial atenua majoritariamente a cor verde das folhas, levando a percepção de contraste pelo olho humano a ser ainda maior, fator fisiológico que ocorre devido à hipersensibilidade da retina humana à cor verde. Assim, é possível que sejam identificados tons periféricos que não seriam percebidos normalmente. Para o inspetor de campo, esse fator significa que pequenas alterações do verde para o amarelo, em virtude da doença, sejam identificadas mais facilmente. Se a folha está saudável, ou seja, está no tom verde, o filtro mitiga a transmissão dessa cor, visualizando-a com cor mais escura. Já se a folha apresenta alguma alteração na coloração, o dispositivo permite que esta alteração seja transmitida através do filtro de luz, mostrando-a de forma mais clara.

Sobre o greening

O greening é uma doença originária da China e surgiu há mais de cem anos. É causada por quatro bactérias do tipo Candidatus. No Brasil, foi identificada pela primeira vez em março de 2004 e se espalhou por todas as regiões citrícolas de São Paulo e em pomares de Minas Gerais e Paraná. De acordo com relatório da Coordenadoria de Defesa Agropecuária do estado, São Paulo erradicou 5,7 milhões de plantas com greening só no primeiro semestre de 2014.

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Os frutos sintomáticos geralmente são pequenos e deformados, podendo apresentar sementes abortadas. De acordo com normas do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o produtor deve inspecionar e eliminar plantas doentes. O citricultor que não erradicar as plantas doentes pode ser multado com até 3.500 UFESPs (Unidade Fiscal do Estado de São Paulo). Em 2013, o valor da UFESP era de R$ 19,37.