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Boa parte dos agricultores que desenvolveram câncer de pele por terem trabalhado na roça de sol a sol sem proteção relata estar afastada da agricultura há décadas. A exposição aos raios solares, segundo os médicos, tem efeito cumulativo, e traz sofrimento numa época em que esses trabalhadores esperavam estar descansando de uma vida de trabalho árduo. Com curativos nos braços, no busto e no rosto, muitos não podem segurar os netos no colo, e nem mesmo passar protetor solar.

Belmiro Penha, 53, conta que era agricultor até os 22 anos na região de Maringá. Depois disso, atuou como pedreiro por 25 anos. "Na construção, trabalhava em barracão fechado. Peguei mais sol na roça, desde pequeno." Com um tumor na testa, tentou ignorar a doença enquanto pôde, relata sua esposa, Neiva. "Ele só está aqui (no Hospital Erasto Gaertner) porque a gente ficou em cima." Decidido a buscar a cura, teve de esperar oito meses para iniciar o tratamento, que começou no último mês. A demora da primeira consulta até os exames é atribuída à deficiência do serviço público e ao grande número de casos no estado. A procura estaria crescendo a uma taxa de 20% ao ano no Erasto Gaertner.

Esse calvário já foi percorrido pelo aposentado Antônio Vilmar Boneti, 50, que fez duas cirurgias no nariz e hoje monitora a doença. Porém, ele conta que o câncer de pele ainda atrapalha sua vida mais do que a perda de cinco dedos das mãos em dois acidentes na construção civil. A causa da doença também foi atribuída ao excesso de sol na juventude, quando ele trabalhava na agricultura cultivando alimentos e tabaco na região de Irati.

Lucila Ames, 69, conta ter feito dez cirurgias em 21 anos de tratamento. Em fases pós-cirúrgicas, como a atual, gasta mais da metade de sua aposentadoria em remédios. "Fui pra roça desde os 8 anos até os 40. Garralhinha, tinha que ir junto." Ela afirma que desconhecia os riscos de se expor ao sol. "Em minha época, ninguém falava em protetor."

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