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O fenômeno de mecanização para a suprir a falta de mão de obra no campo não é exclusividade argentina. O Brasil também amplia o uso de máquinas, avalia o vice-presidente da Anfavea, Milton Rego. No primeiro trimestre de 2013, o arranque nas vendas foi 29,6% superior ao mesmo período de 2012, com 18,9 mil tratores e colheitadeiras vendidos. Até o final do ano, o setor espera comercializar 72,9 mil unidades - segunda melhor marca desde 1960. Na entrevista a seguir, o dirigente avalia a situação do mercado brasileiro diante desse cenário.

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O processo de mecanização para substituição da mão de obra também ocorre no Brasil?

Sim. A cana é um bom exemplo. Muitas usinas têm dificuldade em encontrar trabalhadores temporários. Há também um crescimento nos encargos trabalhistas, o que eleva os custos e faz com que muitos agricultores comecem a avaliar a opção de mecanização para aumentar a eficiência das propriedades, uma tendência inevitável da agricultura.

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Isso torna as perspectivas mais favoráveis no mercado de máquinas?

A substituição de mão de obra por máquinas ocorre principalmente na colheita, mas não resulta em grande volume em termos de unidades comercializadas. O número de vendas de colheitadeiras ainda é muito baixo em culturas como café, cana e laranja. Isso traz uma demanda adicional, mas ainda não é um grande fator de aumento no total de vendas.

Sendo assim, no que o setor sustenta o crescimento previsto para este ano?

Entre 2006 e 2010 a agricultura empresarial diminuiu muito as compras. Tirando da conta a vendas à agricultura familiar, tivemos 6 anos de vendas muitos baixas, ficando inclusive abaixo do índice desejável de renovação da frota. Desde 2010 há uma retomada nessa renovação. Isso não aconteceu antes porque a agricultura passou por dois períodos de crise, em 2005 e em 2008, que diminuiram muito a renda agrícola e efetaram a venda de máquinas. Nos últimos quatro meses do ano passado, a diminuição nas taxas do PSI [Programa de Sustentação do Investimento], que é a principal linha de financiamento das compras, elevou a demanda, que continuou forte nos primeiros três meses desse ano.

Onde o setor tende a crescer mais, nas novas fronteiras ou em áreas que já estão consolidadas?

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Nas fronteiras a expansão é puxada por grupos que estão crescendo e e demandam novos equipamentos para as novas fazendas. A utilização cada vez maior de variedades precoces também exige a diminuição do tempo de plantio e colheita. O preço da terra está aumentando muito, encarecendo a produção. O impacto desse aumento de custo acaba sendo compensado por aumento na produtividade, com o uso de máquinas maiores, com mais potência.

Como fica a questão da mão de obra para operar essas novas máquinas? Há disponibilidade de profissionais aptos para utilizá-las?

Trata-se de um investimento muito caro, então é preciso maximizar a utilização do equipamento e você faz isso com maior conhecimento da máquina. Hoje muitos operadores têm segundo grau completo. Há um investimento grande das próprias empresas produtoras dos equipamentos para a qualificação da mão de obra, além do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) e algumas escolas ligadas à assistência técnica rural. O Brasil está conseguindo andar no mesmo passo, e hoje não falta mão de obra para operar esses equipamentos mais novos.

Milton Rego, vice-presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea)