Lavoura de milho em Unaí, no Noroeste de Minas Gerais| Foto: Dário Grando/

Maior produtor de milho safra de verão no país, Minas Gerais levou a sério o conselho da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), dado em setembro, para que os produtores diminuíssem a área plantada com o grão, de olho na rentabilidade.

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Segundo estimativa da Federação da Agricultura de Minas Gerais (FAEMG), a redução do cultivo de milho no estado chegou a 13%, caindo de 909 mil hectares para 790 mil hectares. Quanto à expectativa de produção, a queda deve ser ainda maior, porque não se espera um cenário climático tão perfeito como no último ciclo de verão. Minas deve colher no início do ano 4,93 milhões de toneladas de milho, 15% a menos do que as 5,8 milhões de toneladas da primeira safra de 2016.

“O pessoal migrou para soja. A liquidez da soja é sempre melhor do que a do milho, mas como o preço do milho caiu bastante por causa da grande produção, fatalmente os produtores migraram”, avalia Caio Coimbra, engenheiro-agrônomo e analista de agronegócios da FAEMG.

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Em setembro, o documento “Perspectivas para a agropecuária”, da Conab, recomendou que o produtor brasileiro optasse por uma significativa diminuição da área plantada com milho, ainda maior do que os cerca de 2% estimados pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). Na avaliação da Conab, se a redução de área ficasse apenas em 2%, nem a perspectiva de exportar 34 milhões de toneladas, nem um aumento de consumo na ordem de 3% dariam jeito no mercado do milho. “Do ponto de vista da rentabilidade, um cenário como este, onde o estoque de passagem chegaria a 25,3 milhões de toneladas, seria ainda mais preocupante e não arrefeceria a pressão sobre os preços domésticos, muito pelo contrário”, afirmou à época a Conab.

Dos 1000 hectares que cultiva na safra de verão em Unaí, no Noroeste de Minas Gerais, o produtor Dário Grando dedicou 750 para a soja e apenas 250 para o milho. A semana do Natal com sol pleno possibilitou a aplicação de herbicida e fungicida. Se a chuva chegar, como previsto, Grando considera que as lavouras seguirão em boas condições.

Data-limite

O que não ficou bom, diz o produtor, é a janela para plantio de milho na 2ª safra, no ano que vem. Pela demora na chuva, o atual ciclo atrasou em 20 dias. Essas três semanas vão apertar o calendário quando terminar a colheita da safra. “Entrou no mês de março, não dá para plantar safrinha de jeito nenhum, porque vem o período de seca”, diz Grando. Avaliação parecida faz o produtor Claudionor Nunes de Morais, que cultiva 1400 hectares de grãos em Uberlândia, no Triângulo Mineiro. “O que der para plantar dentro de fevereiro vai ser plantado, nada além disso”, sentencia.

Morais respira mais aliviado do que os vizinhos, no entanto, porque não atrasou tanto o plantio do ciclo atual. Ele lançou as sementes no dia 2 de outubro, ainda na poeira, apostando que a chuva viria. Deu certo e o produtor calcula que a estratégia vai possibilitar o cultivo de 800 hectares de milho safrinha, antes do fatídico mês de março, data-limite. “A safrinha aqui na região está bastante comprometida, com certeza vai cobrir uma área menor do que no ano passado. O tamanho da redução não dá para saber, porque a gente não sabe o tamanho da ousadia do produtor”, diz Morais.

Lavoura de soja em Coromandel, no Alto Paranaíba 
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Caio Coimbra, da FAEMG, lembra que o fenômeno La Niña pode mexer positivamente no calendário mineiro. “A região costuma ser afetada positivamente pelo La Niña, que significa maior volume de chuva. Abril e maio costumam ser de seca total, com uma chuva ou outra. Com o La Niña, a tendência é de boas chuvas em março e abril”, avalia Coimbra.

Apesar do sufoco do calendário, o produtor Claudionor Morais diz que o milho está consolidado na 2ª safra de Minas. “De uns seis anos para cá estamos fazendo milho safrinha. O milho de Minas Gerais permanece aqui, não sai do estado, que é um grande consumidor. Está dando muito certo, passou a ser um bom negócio, e agora não tem mais volta”, conclui.

Minas Gerais, de fato, é grande consumidor de milho, devido à intensa criação de aves e suínos. Segundo o Ministério da Agricultura, o estado é o quarto maior produtor de suínos do país (12,18% do total) e o quinto maior produtor de aves de corte (7,18% do total).

Segundo a Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais (Seapa), o milho representa 53,3% de toda a safra de grãos do estado. “Os agricultores têm optado pelo cultivo de soja, no verão, e milho na segunda safra. O sorgo também tem ampliado a produção, por ser mais resistente à seca do que o milho, e hoje é o terceiro produto da safra mineira, com 5,1% de participação”, diz o superintendente de Abastecimento e Economia Agrícola da Seapa, João Ricardo Albanez.