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Conclusões de pesquisadores resultaram numa espécie de manual que descreve  cultivo e manejo | Brunno Covello/gazeta Do Povo
Conclusões de pesquisadores resultaram numa espécie de manual que descreve cultivo e manejo| Foto: Brunno Covello/gazeta Do Povo
  • Shiguemoto: floresta intocável
  • Zanette: preservação lucrativa

Ameaçada de extinção na floresta, a araucária tem futuro no pomar, garantem pesquisas científicas da Universidade Federal do Paraná (UFPR) – que buscam a preservação da espécie com promessa de lucro aos fruticultores. O pinheiro-do-paraná passa à condição de árvore frutífera, como a macieira ou pessegueiro.

Shiguemoto: floresta intocável

E não fica devendo nada a outros pomares ou às lavouras de grãos, sustenta o pesquisador Flávio Zanette, que se dedica ao pinheiro-do-paraná há 28 anos. Ele conta que as últimas conclusões de seu grupo de investigação científica reforçam um diagnóstico emblemático: “A salvação do pinheiro está no bolso (...) A araucária vale mais em pé do que deitada.”

Primeiro as pesquisas reconheceram a planta. Os pesquisadores descobriram, por exemplo, que a araucária tem três tipos de galhos. O tronco, que cresce na vertical. Os galhos propriamente ditos, que se expandem para os lados. E as grimpas, que são como folhas e funcionam apenas como extensão dos galhos.

Depois, desenvolveram técnicas de cultivo, em que o enxerto mostrou-se fundamental. Planta-se um pinhão saudável em terra fértil e usa-se a muda de um ano como “cavalo” para o enxerto escolhido. Pela técnica, é possível determinar se as araucárias serão machos (necessários numa proporção de 20% do pomar, para fertilização) ou fêmeas (árvores frutíferas propriamente ditas, que rendem até 100 pinhas por tronco e devem representar 80% da plantação).

Zanette: preservação lucrativa

“Temos basicamente três famílias de pinheiro. A São José, que rende pinhões menores, a partir do Dia de São José [19 de março]. A Caiová, que dá pinhões maiores um mês depois. E a Macaco, que demora mais e as pinhas nem caem [são apanhadas por macacos]”, explica Zanette.

O pinheiro Caiová foi o escolhido para os enxertos. As plantas resultantes são clones de araucárias fêmeas que revelam-se produtivas em florestas naturais ou de machos robustos e saudáveis, numa seleção que lembra a de animais de corte e leite.

Usam-se para enxerto a ponta do tronco ou os brotos que nascem na base dele. Os galhos e as grimpas não servem porque crescem para os lados e têm vida curta, mesmo quando enxertados em um cavalo de qualidade. Parece simples, mas foram necessários anos de pesquisa para se comprovar isso, conta Zanette. Galhos que tiveram a ponta enterrada criaram raízes, mas também cresceram para os lados e não viraram árvores, mesmo quando amarrados em palanques.

Aos 12 anos, as árvores resultantes de enxerto rendem 30 pinhas por fêmea (aproximadamente 30 quilos de pinhão), mostram os estudos da UFPR. Um pomar de um hectare (com 80 fêmeas e 20 machos) permite, então, a coleta de 2,4 mil quilos da fruta por ano, com receita de R$ 9,6 mil (R$ 4 por quilo) – pelo menos o dobro da arrecadação das terras usadas no cultivo de soja e milho.

“Até o pomar completar 12 anos, o produtor pode plantar grãos no meio das árvores. A partir do segundo ano, a área pode ser usada também na criação de animais como ovelhas”, defende Zanette. E, ante a afirmação de que 12 anos é muito tempo, ele tem um argumento implacável: “O pinheiro é uma lavoura que o pai planta para garantir renda para si, para a família do filho e também para a do neto.”

Longevidade

A araucária rende pinhas a partir dos 12 anos, cresce em altura até os 70 anos e continua ganhando tronco por mais de um século. Há pinheiros que vivem 500 anos. “As fêmeas rendem pinhas durante praticamente toda a vida, por mais de cem anos”, afirma o pesquisador.

Um de seus objetivos as pesquisas já atingiram: fazer de Curitiba um centro de reprodução da araucária. Aposentado, o técnico mecânico Jorge Shiguemoto conseguiu na UFPR 50 mudas para plantar na chácara que adquiriu em Campina Grande do Sul, onde pretende descansar nas próximas décadas. Não vai enxertar, apenas deixar crescer. “É para que ninguém mexa na floresta”, afirma.

Depois que atinge 1,5 metro, o pinheiro não pode ser cortado. Enquanto árvore nativa em extinção, é protegido pela legislação em vigor.

Por outro lado, a espécie pode ser usada para recomposição da reserva legal em áreas que ainda não obedecem ao Código Florestal, afirma a agrônoma da Federação da Agricultura do Paraná (Faep) Carla Beck. E, como é nativa, pode ser usada na coleta de pinhas por tempo indeterminado. Espécies exóticas que rendem frutas só são aceitas provisoriamente, em planos de manejo que dependem de aval dos órgãos ambientais.

No viveiro

UFPR mantém viveiro no Setor que Ciências Agrária que ensina como cultivar pomar de araucárias.

Plantio

Pinhões plantados em potes rendem mudas que são distribuídas a terceiros. Sem enxerto, essas plantas só revelam se são machos ou fêmeas depois de uma década, na fase em que começam a aparecer as pinhas.

Clones

Mudas de um ano são distribuídas para plantio em propriedades particulares. No pomar ou na floresta, poderão receber enxertos de pinheiros escolhidos por sua produtividade ou tamanho, tornando-se clones deles.

Cavalos

Em solo fértil, plantas ficam bem maiores já no primeiro ano. Mais fortes, sustentam facilmente enxertos de pinheiro Caiová, o mais produtivo, que rende até 100 pinhas árvore a partir dos 12 anos.

Vida longa

Um pomar de pinheiros rende mais de cem anos de colheita. Um hectare dá, todo ano, a partir de 2,4 mil quilos de pinhão, podendo chegar ao dobro disso. Com o quilo do pinhão a R$ 4, a renda de um hectare é o dobro maior que a da soja.

Serviço: Para receber manual de como cultivar pomar de pinheiros, escreva para flazan@ufpr.br ou para senarpr@senarpr.org.br.

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