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O gargalo logístico com a falta de armazéns se voltou com toda força contra a agricultura do Paraná nesta safra. Chegou-se ao limite de espaço num momento em que 2 milhões de toneladas de milho e soja – 10% da produção prevista – ainda estão por colher. As dificuldades começaram pelo Sudoeste e pelo Oeste, onde a colheita ocorre primeiro, e agora se estendem a todas as regiões. Para não deixar a produção ao relento, o setor improvisa abrigos e dá corda ao escoamento.A colheita farta, a comercialização atrasada, o ritmo lento no Porto de Paranaguá, estoques remanescentes de trigo, milho e feijão, tudo contribuiu para superlotar os armazéns, sabidamente deficitários. Foi necessário tirar as teias de aranha de barracões desativados, alugar instalações que serviam para depósito de máquinas e estender lonas em pátios de manobras.O estado mantém a maior estrutura de armazenagem do país. O setor ampliou a capacidade estática de 24,5 milhões para 26 milhões de toneladas nos últimos meses. Mas isso fez pouca diferença. O fato é que o agronegócio não vem conseguindo ampliar os armazéns na mesma medida do crescimento da produção. E o problema ameaça se repetir em 2010/11, já que a armazenagem ainda vai carregar o aumento de 23% previsto para o milho segunda safra, em desenvolvimento. As exportações do cereal não estão seguindo o compasso esperado pelos produtores.Caso emblemático é o da Coopavel (Cascavel, Oeste), que tem 30 mil toneladas de grãos acumuladas debaixo de lonas e em espaços improvisados – 4,3% de sua capacidade de armazenagem. O volume que excede a capacidade dos armazéns já foi de 45 mil toneladas, o suficiente para encher mil caminhões. "Precisamos de linha de financiamento a juro reduzido para que haja mais investimento em armazéns", argumentou o presidente da cooperativa, Dilvo Grolli. Uma das primeiras cooperativas do estado a enfrentar o problema foi a Coasul (São João, Sudoeste), que há um mês recorreu a instalações de terceiros abandonadas. Ontem, os oito barracões alugados mantinham 18 mil toneladas de grãos – 8% da capacidade própria. Como vem ampliando o número de cooperados, a empresa tem pressa em construir armazéns. "Vamos ter que fazer. Vamos sentar com o pessoal do planejamento para definir o tamanho e a localização", disse o gerente técnico, Paulo Roberto Fachin. O problema não se deve apenas à produção elevada e à falta de armazenagem, afirma o gerente técnico e econômico das cooperativas do Paraná, Flávio Turra. "Temos um represamento da comercialização, principalmente de milho, devido aos preços abaixo do custo." O cereal é vendido a R$ 14 a saca no Paraná, R$ 3 a menos que o preço mínimo.

Por outro lado, Turra considera que o quadro força o setor a manter o volume de investimento de 2009 em armazenagem, apesar da previsão de queda de mais de 20% na receita com grãos em 2010. A estimativa é que R$ 300 milhões sejam destinados pelas cooperativas à construção de armazéns agrícolas neste ano. O valor foi de R$ 100 milhões em 2006 e vem crescendo gradualmente.

Uma avaliação baseada em estatísticas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) mostra, no entanto, que, só para acompanhar o crescimento da produção de grãos dos últimos 30 anos, o Paraná teria de possuir capacidade de armazenagem 10% maior. O déficit relativo é de 2,6 milhões de toneladas. Em âmbito nacional, a defasagem em três décadas é de 20% – ou 26,1 milhões de toneladas.

Estatísticas mascaram o problema

Quem compara a capacidade estática de armazenagem com o volume de produção conclui, equivocadamente, que o Paraná e o Brasil têm silos e barracões para guardar perto de uma safra de milho e soja. Os números são realmente próximos. Essas duas culturas representam mais de 80% da produção de grãos e, como boa parte da colheita é escoada rapidamente, o espaço seria adequado. No entanto, é preciso considerar que só parte dos armazéns é destinada à recepção dos grãos. Boa proporção fica distante e serve exclusivamente indústrias e portos, explica o especialista Eugênio Stefanelo, técnico da Conab.

Ele frisa ainda que perto de 30% da capacidade dos armazéns mais próximos das áreas produtivas são ocupados com produtos diversos como alimentos em fardos, e não com grãos. E que jamais se consegue aproveitar 100% da capacidade dos armazéns, porque não se pode misturar um produto ao outro e, em geral, qualquer grão – soja, milho ou trigo – é segregado em pelo menos dois tipos.

Soma-se a isso o fato de a concentração de barracões não corresponder ao volume de produção de cada região. Não vale a pena transportar grãos para regiões mais distantes dos portos. Neste ano, os produtores do Paraná recorreram a armazéns da região de Ponta Grossa, onde agora também há problema de falta de espaço.

Stefanelo afirma que a razão do gargalo da armazenagem está nas características do próprio sistema. "O primeiro ponto fundamental é que a atividade não é lucrativa." As cooperativas e produtores constroem armazéns quando têm certeza de que haverá aumento na colheita. A segunda questão determinante, aponta o técnico, é o fato de o setor não estar ampliando a capacidade de armazenagem estática na mesma proporção em que eleva a produção. O passo é mais curto tanto no estado quanto no país.

"Considera-se que, num país em desenvolvimento, a capacidade estática de armazenagem ideal é de uma vez e meia o volume da safra de grãos. No Brasil, estamos produzindo 146 milhões de toneladas em 2009/10. São 10 milhões de toneladas a mais do que podemos guardar", afirma. Para chegar a essa situação ideal, o Brasil precisa ampliar seus armazéns em 60% e o Paraná em 73% cobrindo, assim, déficits de 84 milhões e 19 milhões de toneladas.

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